Sorte para a "Bolota"... azar para a "dona" (que nem sou eu)
Em tempos idos, os gatos (os cães e outros animais de pêlo) não tinham a sorte que actualmente têm. Há um consultório (digo muitos!), veterinário(as), hotel para os bichos, medicamentos para tudo e mais alguma maleita (ácaros, pulgas, carrapatos, carraças, etc.), vacinas e pingos de várias aplicações para que os animais de estimação se desenvolvam num ambiente saudável e de pêlo bem alisado.
Voltando aos tempos idos, eu não era capaz de me aproximar ou de deixar aproximar uma dessas beldades felinas ou caninas, sem que o(s) espantasse para longe. Hoje, até sou capaz de lhes pegar ao colo, mimar, alimentar, adormecer, habituar a rituais de companhia doméstica, e, sobretudo, ir ao veterinário mais próximo e ver largar os euros que depois vão faltar nalguma outra conta urgente e irremediável. Claro que toda a evolução tem o seu custo.
Mas tudo isto porquê? Vá, perguntem, não se acanhem. Desta vez conto-vos tudo tintim-por-tintim...
Então foi assim: Num passeio daqueles que vamos porque sim, ouvi um miar insistente no meio de uma mata espessa. Comecei aquele ritual de chamamento, bissbissbiss e eis que surge um (melhor, uma) gatinha minúscula que se aprontou a perseguir o meu chamado de dedos.
Chegou-se bem perto e peguei-lhe ao colo. Era mesmo muito mimosa e depois deste tratamento "vip" não mais foi para o seu «habitat de abandono». Que fazer?! Deixá-la sozinha ao deus-dará? Não! Agora não. Outrora talvez...
Trouxe-a comigo e ao chegar a casa ela ganhou logo outros donos para lhe pegar e mimar. Foi certo que veio para ficar e até já tem as vacinas em dia e demais pílulas para abater ácaros e afins (coisa horrorosa vista ao microscópio).
Enfim, depois desta história ao sabor do teclado que acompanha o desassossego da mente eis que me apetece dizer: "devias ter deixado a gatinha crescer ao ar livre ou não?!" porque ela já começou a cunhar a factura (para alguém), por sinal, e, certamente, não ficará por aqui pois adivinham-se os reforços do que lhe fizeram hoje.
Mas, pronto, nada contra. Sou mais uma a contar nas estatísticas de quem SALVA UM ANIMAL do ABANDONO (ou seria ela natural da tal mata espessa?!) e alguém contará na lista de "mãe" adoptiva.
"Bolota" é uma gatinha
Que trouxe pra minha casa
Ela não está sozinha
Já muitos lhe arrastam asa.
Mimosa e muito felpuda
Brincalhona e algo meiga
Só não é ainda carnuda
Porque lhe falta a "manteiga".
Estou ao meio dos bichanos
Que agora já me encantam
São como seres humanos
Que não falam mas cantam.
O seu miar rotineiro
Por toda e qualquer razão
É encanto verdadeiro
Que cintila ao coração.
E agora como vai ser
Com tanto gato e cadela?
A ração tem de comer
E eu fico a olhar pra ela!
Se fosse ora inventada
Uma ração para a gente
Ficava toda a ninhada
Sem crise e mais contente.
Rosa Silva ("Azoriana")