Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
Com Maria Clara, Bruno Oliveira, Carlos "Santa Maria" e Mota. Um elenco digno de registo e aplauso.
Certamente que estes ilustres cantadores irão atrair as atenções de muitos apreciadores das tradicionais cantorias ao desafio. Pressinto que as duplas se irão debater da melhor forma. Se fosse por seleção minha colocaria o Mota com o "Santa Maria" e a Maria Clara com o Bruno, mas acho que podiam cantar, cada um, da seguinte forma:
Mota com Maria Clara Mota com Bruno Mota com "Santa Maria"
Maria Clara com Bruno
Maria Clara com Mota Maria Clara com "Santa Maria"
E, finalmente, Bruno com "Santa Maria". Esta sim, uma dupla que me abrasaria o coração. Um porque é uma atração recente e outro, respetivamente, porque adoro ouvir os seus encantadores poemas cantados.
Ultimamente, confesso, tenho andado um pouco "introvertida" nos meus artigos de blog, nas quadras da minha alegria, no prazer de escrever. Sinto que me falta algo para voltar freneticamente a este rosário de sentimentos rimados que brotam do coração de ilhoa. O que será que me fará ressuscitar do marasmo literário?!
Em primeiro lugar, vou tentar seguir as ordens do "novo" AO - Acordo Ortográfico que retira aquelas letras que não nos fazem falta e que não pronunciamos quando falamos. Agora imaginem as letras que terão de ser tiradas (ou acrescentadas) pelas pessoas cuja pronuncia é diferente do comum dos cidadãos. Francamente, não estou para me ralar com isso. O que me rala (e muito) é o facto de haver uma greve geral (amanhã) e não me apetecer sequer em perder um dia de salário. Ainda se me pagassem o dia de ausência e se, em vez do dia de greve ser numa quinta-feira, fosse numa sexta-feira (o dia seguinte), já fazia as minhas delícias e juntava ao fim de semana o prolongamento tão desejado (que no próximo ano será cortado, certamente).
Também quero informar-vos que não tenho tido paciência para escrever e nem me perguntem a razão. Ando com vontade de fugir à realidade noticiosa. Estou, sinceramente, cansada de algumas palavras e até tirava-lhes as letras todas: crise, cortes, cortes, crise, impostos, etc.
A inspiração anda pela valeta. Despovoa-me o cérebro. A penumbra é um esconderijo vistoso e a solidão já não apresenta os mesmos contornos de outrora. Quanto mais me tento esconder do que ouço, vejo e não digo, mais sou procurada. Sinto que o mundo está a uma unha negra de se meter no precipício e levar consigo tudo o que se mexa.
Não me digam que estou pessimista, derrotista, triste, depressiva... Eu afirmo que não! Estou bem, graças a Deus.
Estou talvez como o Grupo Central com períodos de céu muito nublado, mar cavado a grosso, neblinas matinais, chuvisco e ventanias que recomendam a estadia em lugar quente e agradável.
E não me falem em greve nem em roupa ou faixa preta para assinalar o descontentamento público com a situação portuguesa ou insular. Cuidemos é de preservar o nosso ordenado que vem por ordem de não sei quem e que garantidamente querem é que haja produção e não roupa preta... Hoje nem sequer se põe luto pelos familiares mais chegados que partem em definitivo fará por um melhoramento que não passa de uma utopia.
Não sei como começar este artigo à luz de uma tentativa de seguir os primeiros ensinamentos relacionados com o AO - Acordo Ortográfico que se não é usado por todos, por enquanto, será necessariamente posto em prática por todos, quer queiram quer não. Pessoalmente, estava um pouco apreensiva com esta "nova" mudança, uma vez que sou uma mulher nascida em sessenta e quatro. Graças à generalização da formação, hoje estive presente na reaprendizagem de letras (26 do alfabeto) e palavras que suprimem as consoantes que não se ouvem, por serem mudas. As consoantes c juntas "cc", "cç", "ct" e p "pc", "pç" e "pt" irão ser supridas a favor do que se ouve: colecionador, ação, atual, rececionista, perceção, ótimo.
Depois da excelente explicação da formadora (valha-nos isso!), fiquei fã da alteração, nalguns casos. Acho que a mudança devia ser mais radical ao ponto de acabarem as exceções e opções, ao gosto de palavra tida como universal. Eu abolia muito dos hífens deixados, mantidos ou surgidos no novo AO. Mas quem sou eu, afinal? Uma mulher que sempre gostou de escrever sem erros e agora vê-se na eminência de escrever alguns, enquanto não ficar uma aluna perfeita. Perfeição não há, nem nunca há de haver. Pena que a língua portuguesa seja tão complicada de aprender, usar e transmitir a quem vem visitar-nos. Penso que o AO ainda será alvo de algo novo no futuro.
Eis o que resumi, em quadras, praticamente no fim do dia de estudo ortográfico:
Na pós-formação de um dia Que corta os "c" (cês) e os "p" (pês) Sinto que há uma magia Com respostas sem porquês.
Tiro ao fim de semana O hífen acostumado E entro nesta gincana De Acordo ao nosso lado.
Dói um pouco aos antigos Ficarem hoje à mercê Do batismo sem "p", de amigos, Que há de vir no que se lê.
«O que não ouves não escreves» É a regra principal. Escrever mais do que deves Pode, enfim, fazer-te mal.
O Lince vai-me ajudar A sair desta enrascada É livre para instalar E usar não custa nada.
Nossa língua portuguesa Acerta seu alfabeto Vinte e seis letras na mesa Com seleção do correto.
Venha daí o corretor Auto/ultra-tecnológico Para que o processador Seja sempre o mais lógico.
Que não seja Adamastor O rochedo da escrita Pois enquanto houver amor Teremos língua bonita.
Eu tinha 15 anos. Estava na casa dos meus pais na Serreta. Pouco antes de ocorrer o sismo, ouvi o ruído de um trator na canada e corri para a janela para confirmar se eram os meus padrinhos que nos vinham visitar. Era dia de Ano Novo e era costume a visita da praxe. Com tamanha alegria corri e saí porta fora. Ao virar a esquina da casa começou um tamanho barulho, a natureza parecia ondas de papel e vi a sineira do atual Santuário de Nossa Senhora dos Milagres como nunca vira antes nem nunca mais vi, pois ficava oculta no lugar onde eu estava. Com tal ondulação tudo se mexia. As paredes da casa das minhas velhinhas primas caiu, eu gritava, gritava... Ninguém me ouvia tal o barulho que acompanhava o meu medo. Aconteceu-me algo estranho e fiquei com um frio horrendo. Não havia roupa que me tirasse aquele frio, nem o casaco grande da minha mãe. A sensação que tinha era de último dia. Que prolongamento temeroso. Nunca mais parava aquela tremura... Quando finalmente parou o maior, sim, porque depois vieram tantos tremores mais pequenos, as réplicas, que eu sentia todas. Parecia que as adivinhava.
Nunca mais houve sossego na nossa casa nem na dos vizinhos. Tudo queria saber em que estado estavam as casas. Sei que alguém que vinha da banda das Doze Ribeiras deu uma triste notícia... Que morrera uma rapariga... Quando soube quem era chorei... Era a minha amiga predilecta: Zita Meneses. Tal desgraça! Depois, depois tanta coisa... Vi todos (ou quase todos) os camiões que passavam para a limpeza da via e das casas, com pessoal vindo de fora... Jamais irei esquecer a primeira viagem à cidade de Angra... Tudo perdido! Tudo derrubado... Uma tristeza. Minha mãe tinha que voltar ao Hospital pois estava apenas a passar o Ano Novo com a família (sofria de esclerose múltipla) mas não foi possível ficar no Hospital... Não havia lugar para pessoas que não tivessem em perigo de vida. Foi para o Liceu mas não tardou a chegar a casa de táxi. Dormíamos de olhos abertos numa sala todos juntos. Ninguém ousava deitar-se no seu quarto. Eu não ia à casa de banho sozinha. Não ia sozinha a lado nenhum nem permitia que apagassem a vela que iluminava a escuridão infinita. Ainda hoje fico gelada ao pensar naquele dia de Ano da destruição, morte e memória colectiva. Estou disponível para o que for necessário porque a única coisa que o Sismo de 80 me trouxe foi a razão para ter o 1º emprego. Trabalhei no GAR - Gabinete de Apoio e Reconstrução de Junho de 1982 até Fevereiro de 1985. O sismo de 80 acompanhou-me uma vida. Os meus 3 filhos são sobrinhos de uma tia que faleceu ao fim de 5 dias devido a ter caído junto com pedras da janela onde estava debruçada... A minha filha até fez, recentemente, junto com as colegas uma Exposição na Escola Secundária de Angra do Heroísmo alusiva ao tema e com a presença de um fotógrafo que faleceu após essa efeméride. E tanta, tanta coisa mais que é comum a tantas pessoas que viveram a tragédia que já conta com trinta e um anos. Pessoas, animais, casas, cerrados e portais... Nada ficava impune à revolta da natureza que ninguém tinha poder ou mão. Rosa Silva