As letras caídas (AO, uma nova era)
Não sei como começar este artigo à luz de uma tentativa de seguir os primeiros ensinamentos relacionados com o AO - Acordo Ortográfico que se não é usado por todos, por enquanto, será necessariamente posto em prática por todos, quer queiram quer não. Pessoalmente, estava um pouco apreensiva com esta "nova" mudança, uma vez que sou uma mulher nascida em sessenta e quatro. Graças à generalização da formação, hoje estive presente na reaprendizagem de letras (26 do alfabeto) e palavras que suprimem as consoantes que não se ouvem, por serem mudas. As consoantes c juntas "cc", "cç", "ct" e p "pc", "pç" e "pt" irão ser supridas a favor do que se ouve: colecionador, ação, atual, rececionista, perceção, ótimo.
Depois da excelente explicação da formadora (valha-nos isso!), fiquei fã da alteração, nalguns casos. Acho que a mudança devia ser mais radical ao ponto de acabarem as exceções e opções, ao gosto de palavra tida como universal. Eu abolia muito dos hífens deixados, mantidos ou surgidos no novo AO. Mas quem sou eu, afinal? Uma mulher que sempre gostou de escrever sem erros e agora vê-se na eminência de escrever alguns, enquanto não ficar uma aluna perfeita. Perfeição não há, nem nunca há de haver. Pena que a língua portuguesa seja tão complicada de aprender, usar e transmitir a quem vem visitar-nos. Penso que o AO ainda será alvo de algo novo no futuro.
Eis o que resumi, em quadras, praticamente no fim do dia de estudo ortográfico:
Na pós-formação de um dia
Que corta os "c" (cês) e os "p" (pês)
Sinto que há uma magia
Com respostas sem porquês.
Tiro ao fim de semana
O hífen acostumado
E entro nesta gincana
De Acordo ao nosso lado.
Dói um pouco aos antigos
Ficarem hoje à mercê
Do batismo sem "p", de amigos,
Que há de vir no que se lê.
«O que não ouves não escreves»
É a regra principal.
Escrever mais do que deves
Pode, enfim, fazer-te mal.
O Lince vai-me ajudar
A sair desta enrascada
É livre para instalar
E usar não custa nada.
Nossa língua portuguesa
Acerta seu alfabeto
Vinte e seis letras na mesa
Com seleção do correto.
Venha daí o corretor
Auto/ultra-tecnológico
Para que o processador
Seja sempre o mais lógico.
Que não seja Adamastor
O rochedo da escrita
Pois enquanto houver amor
Teremos língua bonita.
Rosa Silva ("Azoriana")