Outros momentos: a dor
A dor é a manta do tormento no corpo do entardecer. A dor é um cálice sangrento do punhal a escorrer. A dor nos trespassa sem clemência e nos tira a paciência.
Quando se tira um dente
[No meu caso foram dois]
Fica a boca dormente
O pior virá depois.
Dores de fazer gritar
Porque o dente estava mal
Tinha raiz a dobrar
E a saída foi fatal.
Levou tanta anestesia
Porque a dor era tão fina
Logo pensei que morria
Chorei como uma menina.
Dou louvores à dentista
Pela sua boa ação
Tanta broca ali à vista
E fez força de leão.
Fica assim feito o registo
Sou utente há vinte anos
Se me vejo fora disto
Desdentada mas sem danos.
E cantar ao desafio
Tem a pausa (in)felizmente
O canto vinha vazio
Com a falta de tanto dente.
Rosa Silva ("Azoriana")