Vozes de Ouro (a propósito do Bailinho de São Mateus da Calheta - "Fado património da humanidade")
Angra do Heroísmo
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Lembram-se daquela canção que a dada altura sonoriza “nem às paredes confesso”? Pois é, hoje apetece-me fazer o contrário: confessar tudo às quatro paredes que me circundam sonorizadas por um constante gemer de um aparelho que permite que o trabalho corra sem paragens. Enfim, sou dada a introspeções e a depressões. E quem não é? Talvez aquele que está circunscrito a um reduto pior que o meu, talvez a uma cama articulada que baixa e levanta consoante o pedido de clemência do ocupante.
Tenho braços, tenho pernas, tenho ainda alguns dentes e, sobretudo, ainda tenho momentos bons à mistura com algumas adversidades de pouca monta. Não devia sequer abrir o texto para fazer qualquer apontamento menos positivo. Só que a minha passagem por esta vida conota-se por uma tendência para a insatisfação permanente mesmo sem razão aparente. Nem devia continuar nesta lamechice mas… hoje, especialmente hoje, nem da cama me apetecia sair, nem sequer vestir, nem tomar o rumo diário igual a tantos outros rumos ao mesmo ritmo, nem entrar, nem picar, nem seguir, nem sentar, nem pensar, somar, calcular, verificar, comer, sentar, sair… Chego ao ponto de pensar “oh quem me dera voltar a ser como noutros tempos e permanecer no reduto doméstico” e tratar das galinhas, dos porcos, dos periquitos (que não tive nem tenho), dos gatos (que tenho), dos cães (que também tenho) mas nunca de vacas nem bois. Estes marcaram-me pela negativa e nem os quero ver por perto, salvo raras exceções em ponto mais pequeno (e vacas aqui têm também outro paralelismo).
Queria, sobretudo, ver a Jesus, Maria e José, mesmo… Ao olhar para as imagens que se criam com rostos de paz, harmonia e como que com um sorriso permanente, sinto-me calma e a querer estar nesse paraíso, nessa calmaria de atos e introspeções. Penso que se continuar nesta onda ainda vou dar entrada numa depressão do tamanho do universo… Melhor adotar o ponto final sem mais parágrafo algum.
Rosa Silva (“Azoriana”)
P.S. Se houver algum psicólogo de serviço e que saiba o que vai nas entrelinhas do texto supra que me diga qual o refrão a utilizar no meu caso.