Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
Da lista de párocos que serviram a paróquia da freguesia da Serreta, desde que a freguesia é tida como tal (janeiro de 1862) até à data comemorativa do seu século e meio, contabilizo um total de dezassete párocos (também chamados de Vice vigários, Vigários e Reitor). Chama-me a atenção o segundo, cujo nome era João Guilherme da Costa, que esteve de setembro de 1863 até janeiro de 1874 (10 anos e três meses).
Em pesquisa bibliográfica encontrei o seguinte: “Transferido para a Igreja Paroquial de São Pedro dos Biscoitos - 1874 a 1879. Vítima de ataque apoplético, sucumbiu instantaneamente em 14 de Setembro de 1879, quando percorria a Serreta, integrado na procissão da Senhora dos Milagres, conduzindo o Santo Lenho, sob o pálio”.
Portanto, em setembro de 2012 fará 133 anos que tal tragédia se deu. É óbvio que não sou desse tempo mas ouvi os ditos que foram sendo transmitidos de geração em geração. E não tendo a exata noção do que se passou, conta-se que este pároco tinha adquirido os terrenos da praça do Pico da Serreta e alguns circundantes e os colocara em seu nome, o que após a sua morte seriam para os seus familiares. Acontece que, como foi transferido para a Igreja Paroquial de São Pedro dos Biscoitos, ficaram a saber-se desses negócios e, mais ainda, ele não queria permitir que se dessem toiros na tradicional segunda-feira do Pico da Serreta, uma vez que os terrenos eram sua propriedade e, logicamente, os mordomos da festa da Senhora dos Milagres não tinham aval para concretizar o que tinha uma continuidade histórica. Então, o que sucedeu para inverter tal decisão?
Em plena procissão da Senhora dos Milagres, em setembro de 1879, sucumbiu mesmo em frente à praça da Serreta, onde passava debaixo do pálio, conduzindo o Santíssimo. Os familiares, após a sua morte, deixaram o que era da Senhora para a Senhora e as festas taurinas prosseguiram até aos dias de hoje, sem que mais ninguém se atrevesse a tomar por seu o que era de todos, sob o desígnio da devoção à Senhora dos Milagres.
Julgo que na época atual há uma comissão que toma conta dos dinheiros obtidos por promessas e outras receitas próprias da comunidade paroquial, bem como zela pela claridade das contas, fugindo à titularidade pessoal.
Com isto, apenas me apetece concluir com o seguinte pensamento: não ouse o homem apoderar-se do que é divino. Não ouse o homem danificar a tradição e a devoção, ou rituais que estão consignados a determinadas localidades. Deus é Amor, Deus não castiga! Deus mostra-nos o Caminho, a Verdade e a Vida. Há sinais que são autênticos avisos e que marcam diferentes épocas, permanecendo na memória coletiva e jamais se podem contrariar.
Por esta e por outras marcas memoráveis, é que estou em crer que jamais algum ser mundano ousará tirar a Serreta do quadro regional de Freguesia. A Senhora dos Milagres quis aquele lugar, quis aquele Altar e, certamente, quererá que o seu culto seja mantido até ao último Tempo dos Tempos.
Há que aprofundar este episódio, tal como se vão aprofundando algumas alegrias e outras tristezas que fazem parte da comunidade serretense.
Desde que a Serreta se tornou independente das Doze Ribeiras (1862) e decorridos noventa e seis anos, acontece uma tragédia inesquecível (1958). Na altura, a minha falecida mãe teria 18 anos, a minha avó materna os 57 anos. Naturalmente que essa tragédia ficou na memória delas e, certamente me contaram. Também ouvi falar dessa ocorrência outras vezes e sempre fiquei apreensiva com tal facto. Mas foi mais precisamente quando o escritor Liduino Borba me procurou para prefaciar esta memorável obra, que o meu pensamento se quedou bastante neste assunto.
Passado um ano sobre o lançamento do meu livro - Serreta na intimidade, é-me particularmente gratificante estar presente num novo lançamento. Desta feita não de uma alegria mas de uma tragédia, que também as há.
Sendo a Festa da Serreta uma devoção, que se alia à tradição, é de lembrar que a primeira tourada do Pico da Serreta, conforme rezam escritos antigos, deu-se a 10 de setembro de 1849 e a tragédia ora contada por escrito, deu-se 109 anos depois daquela data e há 53 anos se apontarmos a 12 de setembro de 2011 (sempre à segunda-feira).
Na data relevante que a Serreta ora atravessa, os seus cento e cinquenta anos de freguesia, é marcante o lançamento de mais um livro cujo título fixa o seu nome como uma localidade que tanto é alegre, acolhedora, pequena de espaço mas grande de alma, num painel de verdes e frescura que inspira qualquer autor a pincelar letras simpáticas, como também uma freguesia que de tão vistosa que é no seu conteúdo festivo-religioso se torna lembrada também pelos acontecimentos tristes.
Desde que assisto à Festa da Senhora dos Milagres o que mais vi de pior acontecer foi relacionado com as consequências de algum foguete que não segue o seu rumo normal: roupas estragadas, alguns dedos dilacerados ou alguns materiais inutilizados, mas, graças a Deus, não vi ou assisti a maiores tragédias e a nossa Mãe nos livre de tal.
Agora pergunto-me: Porquê a Celeste (com nome até condicente com o divinal ou celestial) foi atingida brutalmente por uma pedra que, precisamente naquele dia, 15 de setembro de 1958, resolveu desabar Pico abaixo?! Esta será uma questão que julgo não haver respostas exatas. Podemos apontar para o destino e desse destino ela não conseguiu fugir.
Por mim, gosto de pensar que a Celeste foi para junto da Senhora, sua Mãe, num dia alegre, deixando nos seus familiares, amigos e presentes na hora fatídica, uma lembrança que agora se afirma em livro para perpetuar a sua passagem.
CELESTE
Foi-se triste a mulher Num momento aterrador Creio e se Deus quiser Está no reino do Senhor.
Bem-vindo a quem vier À Serreta por amor Esteja lá onde estiver A Celeste é uma flor.
As flores são de Maria Nossa Mãe imaculada Que é santa companhia.
No momento da partida Onde Ela tem a morada Toda a morte lembra a Vida.
Agenda do Governo Regional dos Açores para 22 e 23 de abril
DOMINGO, DIA 22:
16H00 - O Secretário Regional do Ambiente e do Mar, Álamo Meneses, está presente, em representação do Presidente do Governo, no lançamento do livro 1958 Tragédia na Serreta, da autoria de Liduino Borba.
Local: no salão da Sociedade Filarmónica Recreio Serretense, na Serreta.
Apraz-me registar, com efeito, que este dia foi mais um marco histórico para a freguesia da Serreta e decorreu da melhor maneira possível com a apresentação do livro e com as palavras proferidas pelos membros da mesa, muito bem decorada.
Na mesa de honra, estavam presentes, para além do representante do Presidente do Governo Regional, Dr. Álamo Meneses, que fez o discurso final, o apresentador do livro, Ildeberto Rocha, o autor do livro, Liduino Borba, o presidente da Junta de Freguesia da Serreta, Sérgio Cardoso, o presidente da Sociedade Filarmónica, Emanuel Coelho e eu, Rosa Silva, que a convite de Liduino Borba escrevi o prefácio do livro.
Eu tinha o "discurso" preparado, por escrito, mas por um contratempo não levei o papel comigo. Fiz uma espécie de improviso, sem quadras nem rimas, mas sentido.
As palavras proferidas pelo Dr. Álamo Meneses foram do melhor, para o momento, e apreciei imenso. No blog "Notícias dos Açores" podemos captar alguns tópicos do mesmo, entre outros sítios que divulgam a efeméride:
O Secretário Regional do Ambiente e do Mar manifestou hoje, na Serreta, ilha Terceira, a satisfação do Governo Regional por, “um pouco por todas as ilhas”, editores privados estarem a contribuir para “fixar a memória nossa colectiva”.
Depois teve lugar a atuação da Filarmónica Recreio Serretense que nos encantou com suas melodias e passo-dobles, iniciando com o Hino da Filarmónica e finalizando com o Hino de Nossa Senhora dos Milagres, também cantado por Hernâni Silveira e Helena Costa.
"Senhora da Serreta, rogai por nós!" é o lema que enfeita as alegrias e/ou tragédias de um tempo que se faz tempo.
Bem-haja a todos os que contribuem para a cultura e história da freguesia, da ilha e da Região Autónoma dos Açores.