Bordado de bravura
Eu não sei precisar com termos técnicos tudo o que se relaciona com o Touro e a Festa Brava tão tradicionais na ilha Terceira e com prolongamentos para algumas ilhas aderentes ao modo de lidar com o gado bravo.
Também não sou propriamente uma aficionada ferrenha mas sempre que vou a uma tourada gosto de avistar o bicho e apreciar a desenvoltura dos capinhas que são propriamente os únicos a fazer um arraial feliz, não fosse essa a intenção principal de uma tourada à moda da ilha mais taurina do mundo.
Quis fazer esta resenha porque, mesmo que tenha um verdadeiro medo do animal bravo, aprecio as suas investidas e até já nem procuro paredes bem altas mas prefiro estar nas pontas onde o risco tabela a distância legal de brincar com o bravo.
Chamarei a isto tudo um bordado de bravura porquanto todo o conjunto taurino-turístico está recheado de pontos emblemáticos: cor, movimento e alegria misturada com alguma arranhadela ou nódoa negra se a cousa der para o torto e o animal conseguir mostrar que quem manda é ele, nesta questão de investida e corrida com a bênção da corda. Na estrada caso falte uma corda já não se chama tourada mas largada de touros, o que não é tanto frequente, exceto pelas festas Sanjoaninas ou nalguma festa improvisada nas freguesias mais populares.
Isto tudo para vos dizer que fui à tourada da Ribeira Manuel Vieira, em Santa Bárbara, do concelho de Angra do Heroísmo. Gostei! Um mar de gente no caminho da bravura fazia o tal bordado rico de tradição, fazendo lembrar um passado recente. A cada foguete um misto de curiosidade e espanto: quatro bravos puros de quatro ganadarias diferentes. É cousa rara! Vimos dois na ponta de cima, um no meio do arraial (para lá do risco), e outro na ponta de baixo (o 3º que achei bonito fugindo à cor habitual e com manchas brancas). Penso que não houve incidentes. Houve, sobretudo, sol, alegria e a magia de ser-se terceirense de raiz e emigrante de regresso às festividades de verão.
Quem me dera que nunca interpretassem esta paixão como um sacrifício mas como um retemperar de ânimo para os dias seguintes onde a bravura é muito maior que a de um toiro perante o mexer de um trapo qualquer ou de um guarda-sol de amizade.
É por tudo isto que há uma Tertúlia, letras e melodias de marchas de São João, artigos de revista, jornais, blogues, programas televisivos, fóruns, fotografias, aficionados, pastores, capinhas, forcados, cavaleiros, etc. e todo um bordado de gente que vive e sobrevive com os BRAVOS DE CORAÇÃO.
Terceira ilha vistosa
Há Festa Brava de encanto |
Defendo toda esta Festa
Vivemos de braço dado |
Rosa Silva ("Azoriana"). 2012/07/16