Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
Na última vez (agosto de 2012) que me desloquei aos Açores, mais concretamente à Ilha Terceira, tive o prazer de conhecer pessoalmente, porque em boa verdade já as “conhecia” através de contatos telefónicos e comunicação eletrónica, 2 pessoas açorianas de quem tenho a obrigação moral de revelar as suas virtudes que as fazem credoras da minha mais profunda admiração.
* Comendador Luís Bretão, um Senhor no mais elevado patamar que esta palavra possa atingir, Homem de grande generosidade, solidário, e um embaixador incontestável da cultura popular açoriana. Recebeu a mim e à minha família em sua casa com uma lição de bem receber que ficará para sempre gravada na minha memória.
São seres como este senhor que engrandecem e dignificam os Açores.
* Rosa Maria Silva (Azoriana), uma poetisa de grande valor, uma lutadora que através dos seus poemas tem tido uma grande atividade no exercício da cidadania, de grande acuidade interventiva na vida social da sua Ilha (Terceira), na divulgação ao mundo das virtudes da sua terra natal a Serreta, basta ler o seu livro “ Serreta na intimidade” e consultar o seu Blogue Rosa Silva (Azoriana).
Recebeu-me igualmente com uma simpatia que é difícil esquecer e proporcionou a mim e à minha esposa uma noite de convívio no Ti Choa que ficará nos anais das minhas boas recordações.
Esta senhora tem todos os predicados para ser uma mais-valia para os Açores e particularmente para o povo terceirense, assim ela continue, sem desânimos, com a sua obra literária, porque a cultura popular açoriana o merece.
Em tempos idos, eu conseguia lidar com o stresse com uma paciência incrível. Nos dias que correm como lebres (ou outro bicho mais corredor ainda) [Ou será a gente que corre mais numa loucura que até mete dó?!] sinto que o stresse entra e poisa, atormenta-me e anda a querer puxar-me para a morte. É verdade! Ainda há pouco tempo senti como que um arranhar na zona peitoral e pus-me à espreita de sentir mais qualquer coisa mas o arranhão converteu-se ao silêncio.
Porque vejo por todo o lado uma correria, uma loucura, um querer e não puder, um combater o adversário com unhas, dentes e paleio quanto queira, uns lambendo o doce e outros comendo pão com bolor, uns de salto alto e outros de sabrinas, uns de gravata e outros descalços vão para a fonte que lhes dê água pela barba… Enfim, isto tudo anda a stressar-me q.b.
De uma coisa estou consciente: Se o tal de stresse me puxar para a morte ASSUMO que tudo fiz a bem da nossa Região Autónoma dos Açores no que concerne à dedicação, empenho e trabalho produzido com os recursos pessoais e profissionais que estão ao meu dispor.
Quanto à realização pessoal e privada tem ondas e marés mas a fé tem-me ajudado a ter a esperança que dias melhores podem vir se todos continuarmos a abusar do brio e do zelo.
Depois deste solarengo apontamento escrito lembrei-me que tenho que ir à farmácia e ao correio por motivos pessoais que vão sendo adiados por causa de outros que não devo adiar. É sempre assim, o meu fica sempre para a última :)
Finalizo com uma quadra com outro tipo de stresse, mas com esse posso bem:
Confesso que tenho uma pena E juro que tal não é pequena; Anda-me ao redor a sondar Em outubro em quem votar?!
Nem sei como começar a romaria das letras que particularmente hoje estão sentadas na valeta como que à espera de ganhar forças para continuar o percurso de uma folha feita circuito eletrónico, se é que assim se pode chamar a este rosário de escritos que até podem cativar alguns olhares assíduos. Pelo menos um ou dois já soube que cativam. Gosto e agradeço na expetativa de nunca os defraudar.
Mas continuo sem saber como continuar o que nem comecei. [Pausa pensante]
Talvez uma história daquelas que se contam para crianças surta efeito na falta de horas dormidas. Salto a parte do “Era uma vez”… Alguém que nasceu no seio de um casal que não disfrutou do termo tempo suficiente para se lhe pôr virgula no sítio certo. [Nunca aprendi bem a lição das virgulas. Quem quiser que anote o lugar delas]. Esta noite não dormi a pensar nas vidas de tanta gente inclusive da minha que agora acolhe de braços abertos alguém que já sinto pertencer ao meu círculo familiar.
As horas não dormidas fizeram-me fazer uma viagem pelas entranhas da terra até ao ponto de não conseguir escavar mais. Tudo à nossa volta é bruma, água salgada, terra com cheiro a relva acabada de cortar, perfume da carne temperada no alguidar de barro, o peixe fresco trazido pelo marinheiro que não prega olho para nos fornecer o diamante do mar… E tanta mas tanta coisa mais… Inclusive a saudação matinal dos animais que nos protegem o sono.
Todos os dias que saio à rua pela primeira vez a Leoa e o Patinhas [cadela e cão respetivamente] oferecem-me a saudação matinal. À tarde no retorno ao lar é o mesmo ritual. Nem sempre aprecio o cumprimento da tarde porque o cansaço mental toma conta de mim e corro para o traje leve da noite.
Hoje esse cansaço acordou também comigo porque pensei muito em horas impróprias. Outrora fiz uma quadra entre outras que continua e continuará válida no sentido que tem:
Nunca se sabe o futuro Sem passar pelo presente O passado é o apuro Do que nos sobra p'la frente.
(…) In http://silvarosamaria.blogs.sapo.pt/543151.html
E digo mais:
Já passei pelo passado A sonhar com o futuro; Vejo-me agora num estado Que está sempre em apuro.
Na caminhada da vida Surge a cena imprevista Encontrar uma saída Só com AMOR se conquista.
Transcrevo na íntegra o email recebido do amigo José Fonseca de Sousa, porque acho que deve chegar ao conhecimento público:
Tendo por causa próxima a homenagem póstuma feita ao poeta/cantador “Caneta”, no Raminho, por ocasião do lançamento do Livro “Caneta em tinta permanente na poesia popular” do autor Álamo Oliveira, levou-me a levantar uma questão que considero pertinente que é a altura em que as Homenagens são realizadas.
Quem realiza uma obra meritória, seja em que campo for, é legítimo que tenha o prazer de ser reconhecido por tal feito.
Assim quando as homenagens são póstumas elas são sempre dramáticas, pois o visado não “está”, não “vê”, não “ouve”, e por isso fica impossibilitado de se poder “sentir reconpensado”, porque essa ideia de que “esteja ele onde estiver nos está a escutar”, convenhamos que não é suficientemente crível.
Deste modo lembrei-me de uma possível e merecida homenagem que poetas/cantadores possam vir a fazer ao Comendador Luís Bretão, aliás já preconizada por José Eliseu, num Pézinho, pela obra que ele tem realizado em prol da cultura popular açoriana.
Deve ser feita em vida (embora ainda se tenham muitos anos de margem), para ele poder sentir in-loco, o sabor das suas vitórias na divulgação da cultura popular açoriana.
E assim peço aos possíveis promotores para me convidarem, pois de modo nenhum, se puder e “ainda cá estiver”, queria perder um tão solene ato de cultura.
Lisboa, 26 de agosto de 2012
José Fonseca de Sousa
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A propósito deste bem notado lembrete aproveito para também afirmar que sou adepta desta ideia, que aliás já foi pensada e ainda não efetivada, e que gostaria de estar junto dos cantadores (e cantadeira) para soltar o improviso na hora da merecida homenagem. Temos vindo a cantar no dia do Pezinho na Casa de Luís Bretão mas temo que essa efeméride tenda a pertencer a um passado recente. Oxalá que não. Que o amigo Luís Bretão, bem como os familiares, entendam que parar é tirar um pedacinho da emoção que nos dá força para viver. A nossa cultura vive e viverá no que se partilha na ilha, que fervilha na alegria de cantares e melodias.
29 de agosto de 2012. Acorda-se com a maquiavelice de um gato novinho que pula e mordisca pernas e braços que estejam expostos às suas “carícias” madrugadoras. Depois abre-se a cortina para um céu de lágrimas frias que, quando nos toca os braços, parecem mais cortantes que os dentes finos do gato novinho. Aconchega-se a roupa à pele e entra-se no modo condutor. Ponho-me, então, a pensar durante os parcos minutos que intervalam uma moradia permanente e um local de produção numérica: Hoje até o céu devolve as lágrimas tristes (de quem está triste) para se construir, na terra, as Lágrimas do Céu…
Lágrimas do Céu
Anda um pobre encharcado Daquilo que já nem tem; Anda o sonho derrubado Pela falta do vintém.
Anda o clero e a nobreza, Anda o povo lado-a-lado, Todos abraçam a tristeza De um céu acinzentado.
Há o adeus do Povo ilhéu A um Bispo que foi emérito De um sorriso circunscrito.
E as «Lágrimas do Céu» Fustigam odes de preito Com sinos tocando a eito.
Um padre [x] de outra idade Fez na Canada das Vinhas Ninho da solenidade Por entre as ervas daninhas.
Tricinquentenário fez A subida a freguesia; Logo no primeiro [*] mês Do Curato então saía.
Mais antiga do torrão É também a Filarmónica [f] Que enfeita a Procissão Numa alegria harmónica.
Santa Mãe de porta aberta, Para o povo peregrino; Sua Graça nos desperta, O amor pelo Divino.
No sopé do Santuário Há fé, encanto e luz; Junto ao divino Sacrário [s] Reina a Flor de Jesus.
Destinada para amar Maria, a Mãe amada Quando volta ao Altar É, por todos, aclamada. [h]
Pelo caminho que passa Abençoa todo o Povo Quando dá a volta à Praça [+] Seu rosto brilha de novo.
Vai nossa Banda tocando Melodias de outrora… A natureza vibrando Com gente que vem de fora. [e]
Mata em brisa matinal Num oásis de chilreios É um dom celestial Que alegra nossos passeios.
No mirante a Estalagem [++], Lá no alto a Lagoinha E p’ra quem vem de passagem O Altar da Mãe Rainha.
Importa ainda louvar O povo da freguesia Quem foi e quem quis ficar Nos retalhos de cada dia.
Àqueles que já partiram Deixando eterna saudade, [p] Certamente conseguiram Ver a Mãe da eternidade.
2012/08/29 Rosa Silva (“Azoriana”)
Anotações: [x] Isidro Fagundes Machado nasceu na freguesia de Santa Bárbara em 1651 e morreu em 1701 na Serreta, junto da imagem da virgem e da pequena capela que erigiu na sequência do seu eremitério [*] 01/01/1862 [f] Fundada em 4 de dezembro de 1873. Conta nesta data com 138 anos. [s] Há alguns anos a esta parte que se vê florir um autêntico Jardim da Senhora junto ao Altar-mor o que é de louvar e bendizer. As flores e os cantares dão alegria aos ares. [+] Praça da tourada tradicional da segunda-feira da Serreta que é habitual ter tolerância de ponto para toda a ilha Terceira. [h] Todas as vozes, letras e melodias são o melhor Hino à Virgem, com o novo Hino com letra de Álamo Oliveira e música de Antero Ávila. [e] São os emigrantes que voltam num abraço apertado e um sorriso esbugalhado de emoção, são os residentes doutras freguesias mas com naturalidade legítima da Serreta e são todos os que podem ir da ilha ou fora dela. [++] A linda Estalagem da Serreta está em completa ruína. Foi um monumento emblemático para a zona e uma atração turística ao longo de muitos anos. Hoje é propriedade privada à espera de uma obra renovadora total. [p] Julgo que para a Festa da Senhora dos Milagres não há luto na parte religiosa. Eventualmente poderá haver alguma timidez na parte profana mas tudo isso depende do critério pessoal. Estamos a festejar aquela que intercede junto de Deus pela nossa salvação. As lágrimas também são uma oração quando não se consegue orar por palavras, canto ou silêncio meditativo.
A minha forma de orar é a rima abraçar por quem me quis doar.
Quando me veio à mente aquela expressão não foi propriamente por conhecer este livro, mas porque ouvi dizer que amanhã, quarta-feira, os sinos todos dobrarão pelas 15 horas em uníssono por uma morte diferente na Região, tratando-se de alguém do clero e com um nível acima dos demais. Não vou fazer qualquer comentário a respeito do falecido mas sim a propósito dos sinos.
Um sino dobra sempre de duas maneiras principais: pela chegada e pela partida. A chegada é alegre... A partida causa dor no ser humano e uivos nos animais domésticos que parecem querer juntar-se à dor humana. Por outro lado, quando os sinos dobram em conjunto e assertivamente julgo ser o melhor Hino que se pode levar até à descida à campa fria… Acho que deviam declarar luto regional para todos pudermos acompanhar este funeral único.
Enquanto que hoje há um sino que vai dobrar a solo por alguém que muita gente (eu inclusive) estimava, tenho cá para mim que mesmo a solo vai causar mais consternação a filhos, viúvo, netos, amigos e conhecidos. Não vou citar nomes mas devia. É que esta senhora foi durante anos uma voz audível no grupo coral do Santuário de Nossa Senhora dos Milagres, foi uma mãe e educadora exemplar e tinha sempre uma amabilidade para quem dirigia ou recebia a sua palavra. Nestas horas queria eu que os sinos todos dobrassem e a acompanhassem ao Pai. Todos, afinal, merecem os hinos finais numa despedida custosa e que deixa marcas para o resto de tantas vidas que, um dia, na certa irão encontrar-se de novo…
Tal pena nunca acertarmos com as homenagens em vida para a maioria dos seres viventes. É pena. Mas, no meu íntimo, sei que esta senhora serretense receberá a homenagem devida no encontro com o Pai.
28 de agosto de 2012, num dia triste por dentro e por fora…