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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1006)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")
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Com os melhores agradecimentos pelas:
1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3"

2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze"

3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor"

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Caminhos de outrora, no tempo da eira

12.08.12 | Rosa Silva ("Azoriana")

 

Ainda o sol não era nado, levantavam da cama e rezavam nem que fosse no íntimo de quatro paredes. Tomavam uma boa maquia de leite com pão de milho esmiolado e quiçá algum tónico para a viagem de uns rodados que cantavam pelo caminho um hino à natureza.

Primeiro tinham que colocar o carro nos eixos, cangar as vacas (ei vaca pra diênte...), a aguilhada em riste, o chapéu de palha, e ala que se faz tarde, mesmo que a manhã fosse aurora...

Chegavam ao cerrado e toca de arrancar o produto que a terra fizera graúdo e amontoar no carro, amarrando bem para nada se perder no regresso à eira. Eis que, na eira, se dispunha o feijão, o tremoço ou as favas, conforme a época, para depois se seguirem as operações ritmadas de um trabalho sempre igual e de sustento para muita gente.

Malhar com o mangual, tirar a palha já sem o grão, juntar para um monte, joeirar e/ou aventar para que o grão ficasse limpo de quaisquer impurezas nefastas. No fim, enchiam-se sacas de lona, baldes e outros utensílios que resguardassem o produto da terra até que fosse o dia de escolher, em cima da mesa, grão a grão, tirando ainda alguma impureza que o vento não levara.

Ainda me lembro de malhar, joeirar e escolher feijão amarelo (o que gosto mais) para depois ser servido. No caldeirão de ferro fundido, com um bom refogado, com tempero saudável, uns nacos de bacon e outros ingredientes de porco que permaneciam armazenados na salgadeira, linguiça em rodelas, e o sagrado feijão amarelo, que era de comer e chorar por mais... Tinha um sabor que ainda retenho no paladar acostumado ao tempero caseiro...

Não tenho esse dom de boa cozinheira mas ainda lembro o cheiro que pairava no lar de uma chaminé que não consentia em segredos: pelos oríficos voltados ao céu, saíam fumos e cheiros inconfundíveis que percorriam os ares até se juntarem com outros das vizinhanças quase iguais, dependendo da mão que os temperava.

Ao escrever estas lembranças não muito longínquas, fico pasmada no tempo que isto era o feijão-nosso-de-cada-dia e, na altura, não me causava tanto espanto... Hoje, ao ver as relíquias em imagem desbotada pela neblina de gavetas, fico como que numa saudade... Não tanto do feijão (o amarelo!!) mas daqueles cujas mãos ficavam grosseiras e santas por salvarem a vida da família com a sua produção, sem taxas ou impostos...

Por tudo isto, louvo, do fundo do coração, todos os antepassados que não mediram esforços e zelaram pela terra que Deus lhes destinou e jamais a desprezaram, para bem de todos os descendentes.

O Chico e o Manuel Raimundo, a Belmira, a Maria e a Alexandrina Raimundo, o Carlos "picaroto", a Matilde (mesmo doente), a Alexandrina Cota, o meu avô Manuel Gonçalves (que morreu tinha eu 2 meses), todos já falecidos mas jamais esquecidos por esta que se assina de

Rosa Silva ("Azoriana")
2012/08/12