Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1010)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")
**********
Com os melhores agradecimentos pelas:
1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3"

2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze"

3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor"

4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado

**********

O dia de apanhar o trevo - Rosa Silva ("Azoriana")

22.08.12 | Rosa Silva ("Azoriana")

O DIA DE APANHAR O TREVO (Em resposta ao Mintoco) 

Arrisco aqui vos contar
Tal como o amigo Mintoco
Como era o apanhar
Do trevo que nem era pouco.

 

Nos meus tempos de menina
Quando o sol se alevantava
Mesmo que fosse em surdina
Pela Rosa já se chamava.

 

Na casa não havia rapazes
Apenas duas irmãs
Uma avó, mãe e pai audazes
Em tais esbeltas manhãs.

 

Por mim não gostava nada
Do assento que engendravam
Saca de lona atulhada
De folhas de milho que secavam.

 

Ia-se, então, muito cedo,
Para aquela imensidão
De trevo que metia medo
Todo apanhado à mão.

 

Mesmo com a mão dorida
Tínhamos de tudo apanhar
Para logo de seguida
O deitarem a secar.

 

Eram tantas as bolotas
Tanta puxa daqui e dali
Que até se tiveram as botas
Esfalfados de estar ali.

 

Nesta azáfama medonha
Iam Maria e a Alexandrina,
Que diziam que a cegonha
Tinha trazido esta menina.

^
__|

Elas riam e brincavam,
Comigo à força toda
Quanto mais trevo apanhavam
Mais alegre era a boda.

 

Eu chamava-as das “titias”
Eram primas colaterais
Visitava-as todos os dias
Através dos nossos quintais.

 

Este tempo de criança
Ficou na minha memória;
Hoje perco a esperança
De voltar a esta glória.

 

As bolotas daquele trevo
Apanhadas uma-a-uma
Estão gravadas no que escrevo,
Nas entrelinhas, em suma.

 

Do trevo não tenho saudades
Nem tão pouco de acordar cedo
Das titias e suas amizades
Saudades é de meter medo!

 

Com elas aprendi tanto,
A passar ponto em lençóis
E muito do seu encanto
Só o percebi depois.

 

Mintoco fico obrigada,
Por me fazeres recordar
O tempo quando fui nada
Com tarefa salutar.

 

Agora na despedida
Destes versos em resposta
Deus te dê saúde e vida
Como toda a gente gosta;
No meu blog tens guarida
Sempre com tua arte exposta.
 

 

Rosa Silva ("Azoriana")

"O dia de apanhar o milho", por António "Mintoco"

22.08.12 | Rosa Silva ("Azoriana")

O DIA DE APANHAR O MILHO 

Para falar de coisas antigas
Não há por onde começar
Mas tirando as silvas e ortigas
Eu sei que não me hei de picar.

 

Eu vou falar só de uma coisa
E do assunto não me desviar
Minha mão no teclado poisa
Já posso a história começar.

 

Naquele tempo que já lá vai
No dia de apanhar o milho
Cedo se levantava a mãe o pai
E iam acordar também o filho.

 

Se tinham mais do que um
Isto é que era uma beleza
Não pagavam a nenhum,
Não faziam muita despesa.

 

Se outros tivessem de contratar
O que muitas vezes acontecia
O jantar tinha que lhes dar
Além de lhes pagar o dia.

 

Mas lá iam todos contentes
De manhã pela fresquinha
Mas por dentro estavam quentes,
Tinham bebido uma pinguinha.

 

Pode talvez não ter muita graça
E não vou fazer nenhuma troça
Mas parece que um copo de cachaça
Lhes dava a eles muito mais força.

 

Começando todos a trabalhar
Antes pudesse nascer o sol,
Todos iam milho apanhar
Até encher o primeiro lençol.

^
__|

Às vezes se faziam apostas
De maneira bem sentimental
Para pôr o lençol às costas
Sem a ajuda do pessoal.

 

Certamente só se fazia isso
Quando tinha lá raparigas;
Alguém até já me disse
Que chegava a haver brigas.

 

Certos terrenos faziam combro
Com alguma estrada principal;
O milho era carretado ao ombro
Para que ficasse perto do portal.

 

Podia vir um carro de bois
Ou até mesmo um camião
Carregava-se eles os dois
E era tudo carregado a mão.

 

Trazia-se o milho para casa
Se punha num cafugão;
À noite se acendia a brasa
Para torrar favas para o serão.

 

Vinha então a vizinhança
Vinha o pai e vinha o filho
Vinha o velho e a criança
Todos para o serão do milho.

 

Não havia rádio nem televisão
Não se pensava em tais glórias,
Mas passava-se um lindo serão
Cantando e ouvindo histórias.

 

Vai ser melhor parar por aqui
Isto é uma história muito grande
Agora vou dar a vez também a ti
Espero que isto para a frente ande
Mas estas coisas eu não esqueci
Nem esqueço mesmo que me mande.
 

 

António "Mintoco"

Ó brava PIPA! e outro improviso

22.08.12 | Rosa Silva ("Azoriana")

Pipa de Vinho de Cheiro

 

 

Símbolos Animados dos Açores

Ó brava PIPA!

Anda à roda o vinho de cheiro
Numa pipa bem ornada
Quem vir o fundo primeiro
Não consegue ver mais nada.

Anda à roda ó pipa boa
Para todo o vinhateiro
Alegras toda a pessoa
Que te prova por inteiro.

Roda, roda, minha amiga,
Que a uva é tua patrona
Ao cheiro duma cantiga.

Roda, roda, sem parar,
A folia vem à tona
Ao redor do teu rodar.

Rosa Silva (“Azoriana”)

 

As Velhas

 

 

Símbolos Animados dos Açores

Velha medonha

Anda uma velha medonha
Mal se levanta da fronha
Com sentido em trabalhar
Já tratou do Oliveira
Se presa toda festeira
Para a uva vindimar.

Mal se abaixa coitadinha
Fica tudo em alvoroço
Parece uma sardinha
E só se vê pele com osso.

Rosa Silva (“Azoriana”)

Nota: Esta é para o Mintoco sorrir :)

Mãe, Maternidade

22.08.12 | Rosa Silva ("Azoriana")
Mãe, Maternidade

 

Mãe, Maternidade

 

Com os anjos de Deus a seus pés
E o Cristo na palma da mão
Na ternura, que não tem revés,
Acolhendo um olhar de irmão.

Conhecida pela Mãe de Boa Hora,
Coroada de doce harmonia,
É tão doce a Nossa Senhora
No altar onde está dia-a-dia.

Eu pergunto, então, sem pavor
Porque andam os homens avessos,
Ao mais belo e puro amor?!

A resposta vem na intimidade
Da escrita que sai, sem tropeços,
À imagem da Maternidade.

2012/08/22
Rosa Silva (“Azoriana”)