Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor" 4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado **********
Transcrevo na íntegra o email recebido do amigo José Fonseca de Sousa, porque acho que deve chegar ao conhecimento público:
Tendo por causa próxima a homenagem póstuma feita ao poeta/cantador “Caneta”, no Raminho, por ocasião do lançamento do Livro “Caneta em tinta permanente na poesia popular” do autor Álamo Oliveira, levou-me a levantar uma questão que considero pertinente que é a altura em que as Homenagens são realizadas.
Quem realiza uma obra meritória, seja em que campo for, é legítimo que tenha o prazer de ser reconhecido por tal feito.
Assim quando as homenagens são póstumas elas são sempre dramáticas, pois o visado não “está”, não “vê”, não “ouve”, e por isso fica impossibilitado de se poder “sentir reconpensado”, porque essa ideia de que “esteja ele onde estiver nos está a escutar”, convenhamos que não é suficientemente crível.
Deste modo lembrei-me de uma possível e merecida homenagem que poetas/cantadores possam vir a fazer ao Comendador Luís Bretão, aliás já preconizada por José Eliseu, num Pézinho, pela obra que ele tem realizado em prol da cultura popular açoriana.
Deve ser feita em vida (embora ainda se tenham muitos anos de margem), para ele poder sentir in-loco, o sabor das suas vitórias na divulgação da cultura popular açoriana.
E assim peço aos possíveis promotores para me convidarem, pois de modo nenhum, se puder e “ainda cá estiver”, queria perder um tão solene ato de cultura.
Lisboa, 26 de agosto de 2012
José Fonseca de Sousa
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A propósito deste bem notado lembrete aproveito para também afirmar que sou adepta desta ideia, que aliás já foi pensada e ainda não efetivada, e que gostaria de estar junto dos cantadores (e cantadeira) para soltar o improviso na hora da merecida homenagem. Temos vindo a cantar no dia do Pezinho na Casa de Luís Bretão mas temo que essa efeméride tenda a pertencer a um passado recente. Oxalá que não. Que o amigo Luís Bretão, bem como os familiares, entendam que parar é tirar um pedacinho da emoção que nos dá força para viver. A nossa cultura vive e viverá no que se partilha na ilha, que fervilha na alegria de cantares e melodias.
29 de agosto de 2012. Acorda-se com a maquiavelice de um gato novinho que pula e mordisca pernas e braços que estejam expostos às suas “carícias” madrugadoras. Depois abre-se a cortina para um céu de lágrimas frias que, quando nos toca os braços, parecem mais cortantes que os dentes finos do gato novinho. Aconchega-se a roupa à pele e entra-se no modo condutor. Ponho-me, então, a pensar durante os parcos minutos que intervalam uma moradia permanente e um local de produção numérica: Hoje até o céu devolve as lágrimas tristes (de quem está triste) para se construir, na terra, as Lágrimas do Céu…
Lágrimas do Céu
Anda um pobre encharcado Daquilo que já nem tem; Anda o sonho derrubado Pela falta do vintém.
Anda o clero e a nobreza, Anda o povo lado-a-lado, Todos abraçam a tristeza De um céu acinzentado.
Há o adeus do Povo ilhéu A um Bispo que foi emérito De um sorriso circunscrito.
E as «Lágrimas do Céu» Fustigam odes de preito Com sinos tocando a eito.
Um padre [x] de outra idade Fez na Canada das Vinhas Ninho da solenidade Por entre as ervas daninhas.
Tricinquentenário fez A subida a freguesia; Logo no primeiro [*] mês Do Curato então saía.
Mais antiga do torrão É também a Filarmónica [f] Que enfeita a Procissão Numa alegria harmónica.
Santa Mãe de porta aberta, Para o povo peregrino; Sua Graça nos desperta, O amor pelo Divino.
No sopé do Santuário Há fé, encanto e luz; Junto ao divino Sacrário [s] Reina a Flor de Jesus.
Destinada para amar Maria, a Mãe amada Quando volta ao Altar É, por todos, aclamada. [h]
Pelo caminho que passa Abençoa todo o Povo Quando dá a volta à Praça [+] Seu rosto brilha de novo.
Vai nossa Banda tocando Melodias de outrora… A natureza vibrando Com gente que vem de fora. [e]
Mata em brisa matinal Num oásis de chilreios É um dom celestial Que alegra nossos passeios.
No mirante a Estalagem [++], Lá no alto a Lagoinha E p’ra quem vem de passagem O Altar da Mãe Rainha.
Importa ainda louvar O povo da freguesia Quem foi e quem quis ficar Nos retalhos de cada dia.
Àqueles que já partiram Deixando eterna saudade, [p] Certamente conseguiram Ver a Mãe da eternidade.
2012/08/29 Rosa Silva (“Azoriana”)
Anotações: [x] Isidro Fagundes Machado nasceu na freguesia de Santa Bárbara em 1651 e morreu em 1701 na Serreta, junto da imagem da virgem e da pequena capela que erigiu na sequência do seu eremitério [*] 01/01/1862 [f] Fundada em 4 de dezembro de 1873. Conta nesta data com 138 anos. [s] Há alguns anos a esta parte que se vê florir um autêntico Jardim da Senhora junto ao Altar-mor o que é de louvar e bendizer. As flores e os cantares dão alegria aos ares. [+] Praça da tourada tradicional da segunda-feira da Serreta que é habitual ter tolerância de ponto para toda a ilha Terceira. [h] Todas as vozes, letras e melodias são o melhor Hino à Virgem, com o novo Hino com letra de Álamo Oliveira e música de Antero Ávila. [e] São os emigrantes que voltam num abraço apertado e um sorriso esbugalhado de emoção, são os residentes doutras freguesias mas com naturalidade legítima da Serreta e são todos os que podem ir da ilha ou fora dela. [++] A linda Estalagem da Serreta está em completa ruína. Foi um monumento emblemático para a zona e uma atração turística ao longo de muitos anos. Hoje é propriedade privada à espera de uma obra renovadora total. [p] Julgo que para a Festa da Senhora dos Milagres não há luto na parte religiosa. Eventualmente poderá haver alguma timidez na parte profana mas tudo isso depende do critério pessoal. Estamos a festejar aquela que intercede junto de Deus pela nossa salvação. As lágrimas também são uma oração quando não se consegue orar por palavras, canto ou silêncio meditativo.
A minha forma de orar é a rima abraçar por quem me quis doar.