Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
Nasceu o dia com o assobio veloz do vento. O seu canto é aflitivo. Pelas frinchas da janela ouço o seu trinado triste. Recolho mais um pouco ao silêncio da almofada. Mas não consigo dormir com os pingos em compasso certo caindo mesmo ao lado da cama. Levanto-me e, rapidamente, resolvo a situação: arredo a cama para lugar seco. O vento acompanha-me forte e brusco. A chuva limpa até às entranhas da terra. A estrada parece um rio correndo para o mar. A pequenez das ilhas quase estoira de aguaceiro.
No fundo, gosto de dias assim. Recolho-me ao pensamento e viajo ao sabor dele. Deixo-me ficar no nevoeiro da palavra. Por outro lado, penso nos que, sem teto, sentem a frieza até aos ossos. Senhor, dai-lhes um sorriso e tende misericórdia de todos. Cada vez que há uma passagem da tempestade perde-se muito. Perdem-se horas de trabalho nos campos, perdem-se produtos e haveres.
Espera-se que o sol venha, de novo, dar um tanto do que a chuva levou. Assim seja!
Angra do Heroísmo, num dia de mudança para a visão do chuveiro que continua lá fora...
"Amizade" poema lindo Uma lágrima vem vindo Torvando o meu parco olhar Consegui ouvir sua voz Que vem suave até nós Com Amizade a embalar.
E dei comigo a pensar Não sem antes questionar Onde anda a amizade?! Hoje tudo é tão veloz Que só mesmo a sua voz Traz paz à comunidade.
Por lhe ter muita amizade Digo-lhe também à vontade Que Euclides é o herói Da amizade que comunga Não de exalta nem resmunga Porque é bom e sempre foi.
Meu abraço nesta hora Vai por esta rede fora Para longe como se perto Em uníssona amizade Levasse solidariedade A quem nos dá hino certo.
Presumo que o amigo lisboeta seja eu e se assim for não tem nada que me agradecer pelos "elogios" que faço em relação ao seu elevado talento literário, mas se realmente quer agradecer faça-o a Deus pelo dom magnífico que lhe deu que é o de conseguir passar para o papel de uma forma tão meritória tudo o que lhe vai na alma; e como a sua alma é grande o resultado só poderia ser maravilhoso.
Penso que já me conhece o suficiente para não ter dúvidas de que se o declaro é porque estou convicto das afirmações que faço.
Continue a sua obra literária com a mesma convicção porque mais cedo ou mais tarde os responsáveis pela cultura popular dos Açores e não só, têm que dar-lhe "ouvidos", para bem da cultura popular.
Um grande abraço de amizade para si e para o esposo
13-10-12 José Fonseca de Sousa Lisboa
Nota: Publico o comentário no dia de aniversário da esposa do amigo José Fonseca, enviando um grande beijinho de parabéns! Desejo tudo de bom a este casal maravilhoso que para as ilhas dos Açores é tão amistoso. Nós também não vos esquecemos.
Estas rosas que florescem Nos campos açorianos Bem que hoje as merecem Aquelas que fazem anos.
São pra D. Guiomar Esposa do bom Amigo José que gosta de comentar Quando lê o meu artigo.
Uma quadra apresentada No início da semana Florida e emoldurada Com rosas da Azoriana.
São as flores preferidas Rainhas de bom jardim E foram bem escolhidas Para se lembrar de mim.
Há rosas escritas faladas Num ramalhete de amor E há rosas dedicadas A quem dá e tem valor.
Gostei muito de conhecer O casal de bons valores Que moram e vão permanecer No coração dos Açores.
Não sei se acontece a toda a gente mas a mim sei que acontece e me pergunto muita vez: porque o mar nunca para? Umas vezes calmo, outras vezes cavado a grosso, outras, ainda, impaciente e revoltado, mas nunca para, nunca descansa. Assim sou eu. A minha mente é um mar em constante movimento. Há de haver sempre uma coisa que chame a atenção ao pensamento. Neste momento estou a matutar numa ideia que me atormenta e nem posso deitar cá para fora para não me acusarem de andar sempre sem descanso da mente. Uma mãe é como um barco que se lança ao mar numa viagem de longa duração. Encontra mar calmo e revolto. Encontra peixe miúdo e graúdo. Nem quando chega a noite para dormir descansa… A mente está sempre alerta num sono sonhador a tender para o pesadelo, numa comunhão cerrada com outros que a circundam. Então, para me distrair do pior volto-me para o mar e digo:
Não sei viver sem o mar Ando sempre a naufragar Aquém do louro horizonte Sou ilha em parapeito Com o mar cercando o peito Acenando ao alto monte.
Não sei viver sem o mar Mesmo sem saber nadar Encanta-me aquele vaivém Na ondulação perfeita Há marés que estou sujeita, Mas do mar eu gosto bem.
Não sei viver sem o mar Sem o ver e abraçar Na espuma nos rochedos... É com ele que eu sonho E ao seu lado me ponho Tentando arrumar os medos.
Não sou de mim, sou do mar... E sempre o hei-de amar!
Já lá vão os tempos em que o dia da “mesada” era um dia de festa, por assim dizer. Esta “mesada” a que me refiro é o salário mensal. Todos deviam tê-lo mesmo aqueles que andam de roda do tacho, da máquina de lavar roupa doméstica ou da pia com lavatório plástico ou cimentado (de pedra, nos tempos atuais é um artigo de ornamentação de jardins ou arredores de mansões).
O objetivo do primeiro parágrafo é o segundo, que já vem a transbordar da mente: A festa que se fazia com o salário de outras eras em que a receita dava e sobejava para a despesa tinha mais ou menos a ver com o equilíbrio das somas: da receita que recebes pagas aquilo que deves. Infelizmente, hoje não é bem assim. A receita já começa a dar dores de cabeça mal entra na soma da despesa. Antes mesmo da mudança do mês tal, para o mês coisa e tal, já se apertam os cintos até ao último furo (ou até ao ponto de se ter de fazer furo novo). Mas isto tudo porquê? Porque a dita evolução que se foi adquirindo, visionada muitas das vezes por amostra do exterior, foi tomando conta do dia-a-dia. Casa que não tenha casa de banho apetrechada com tudo do bom e do melhor, que não tenha esquentador inteligente, máquina de lavar, secar e até passar, que não tenha som, música e cor num ecrã com formato avultado, que não tenha frigorífico, fogão com bocas e forno suficientes para dar conta dos ingredientes faustosos, que não tenha arca congeladora com produtos à escolha, que não tenha micro-ondas, para-raios, locomotiva (lembrei-me da “Pedra Filosofal” e da metáfora do sonho), enfim, que não tenha luxos e asseio q.b. não faz parte da dita evolução que nos transformou ao ponto de não querermos voltar aos dias de fazer tudo à mão. Há máquinas para tudo e mais alguma coisa. É uma questão de termos no bolso o que é preciso para as mandar levar a casa.
E já me alonguei muito no parágrafo anterior que ainda peca por incompleto. Há tanta, mas tanta coisa a que nos habituámos (e nem tenho metade do que vejo por esse mundo açórico e não só) que deixar de ter é outra dor de cabeça sujeita à toma de analgésicos e antipiréticos e outras pílulas que nos façam a vida parecer bela.
Não se deve reclamar quando a saúde estiver de bem com a vida. Isso é que é importante porque o resto é uma questão de habituação. Quando não há, não há e está decidido.
É pena que os nossos governantes não experimentem o seguinte: aumentar a “mesada” mensal e não apenas cortar, tirar e aplicar impostos a tudo e mais alguma coisa. Lembrem-se que o EQUILÍBRIO é o segredo do bem-estar. Se a balança pender só para um lado não se lhe pode chamar fiel.
Se aumentassem os salários a jeito de cobrir a despesa (que muitas vezes nos é impingida pelo invólucro da publicidade enganosa), à laia de experiência a ver se há tafulho, então acredito que o buraco não seria tão custoso de tapar.
Com tanto parágrafo já perdi os olhares de quem devia pensar no nosso grave problema.
Se quiser bom conselheiro Para um problema comum Aumente o nosso dinheiro E vai ver que sobra algum.
A ver pela atualidade Muita gente a reclamar É prova que a sociedade Está toda a afundar.
O buraco é tão fundo Que nada o vai tapar Pode até correr mundo Mas ele vai acompanhar.
Haja equilíbrio na receita E na despesa correntes, Fica a gente satisfeita Com o melhor dos presentes.
Seja em prosa ou em rima Peço que haja prudência; E tudo o que está acima Foi escrito sem violência.
A violência nos lesa Quando a fome vem à tona E também muito nos pesa Quando alguém nos abandona.