Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
Não sou muito de ir a vinhos mas é nesta semana que vão aos vinhos. Para quem não conhece os nossos costumes, tradições e folguedos, basta dizer que durante esta semana reúnem-se os mordomos do Bodo (de pão e vinho) e ala que se faz tarde vão buscar com grandes barris o produto da vindima do ano anterior. Dos Biscoitos de lava é que são vinhos de se lhes tirar o chapéu e de cair para o lado se abusarmos de “vira-vira” de copos no arraial domingueiro de Pentecostes (Para os cristãos, o Pentecostes celebra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos e seguidores de Cristo, através do dom de línguas, como descrito no Novo Testamento, durante aquela celebração judaica do quinquagésimo dia em Jerusalém. Por esta razão o dia de Pentecostes é às vezes considerado o dia do nascimento da igreja. O movimento pentecostal tem seu nome derivado desse evento. Fonte: Wikipédia)
Na minha freguesia natal – Serreta - é que é um Bodo alegre, unido e partilhado. De tarde, após o cortejo de manjares em direção ao Império e zona próxima, colocam-se as mesas e bancos que esperam os pratos salgados ou doces e um punhado de amigos do Bodo. O pão é distribuído pelos irmãos na parte da manhã e, à tarde, é vê-los felizes na partilha vinícola acompanhada pela enchente de variedades (favas com molho picante são o prato favorito) que atraem o tal virar de copos cuja cor deixa uns bigodes roxos se a distração já começa a temperar o paladar.
A Filarmónica, com sua farda completa, centra-se neste arraial do Divino e toca algumas peças favoritas e abrem-se alas à partilha da alegria. Adoro lá estar naquele cantinho do céu…
Venha testemunhar isto que escrevo com a doçura do alfenim das promessas e a rosquilha da divindade.
A seguir a um bom sábado (com corte de cabelo do benjamim e toiros na monumental), a um domingo (de aniversário da minha querida filha - completando-se vinte e dois anos da passagem do Papa João Paulo II pela ilha) bom despertador para uma coroação do DES Divino Espírito Santo com a fileira de gente agradecida pela esmola anterior de pão e carne, com um friozinho à moda antiga e com o sol a tentar ser forte para abraçar a novidade com um saltinho à saudade, é difícil não cair na tentação de se pasmar na segunda-feira rodopiando o pensamento para um punhado de emoções.
Lembro do final da missa domingueira de uma 6ª coroação com direito a ouvir-se o brilho do Hino do Espírito Santo tocado solenemente pela Filarmónica Recreio Serretense durante o ato de coroar três jovens da minha querida Serreta, sendo um do sexo feminino de rosto alegre e fresco, qual princesa da ilha.
Lembro do pórtico principal do Santuário de Nossa Senhora dos Milagres ser aberto com vista para o frontispício do Império serretense cuja novidade está estampada no basalto negro com uma coroa ladeada por um jarro de vinho e o bendito pão, parecendo um tapete sagrado marcando a frente de um chão acostumado a festejos sagrados e profanos.
Lembro de quase tudo… e pressinto a alegria de tantos que partiram daquele chão para outro chão finito. Lembro que estaremos, muitos que já circundam a velhice, à beira de sermos uma lembrança na mente dos que hão-de ficar a celebrar a Festa do Divino Espírito Santo, com um altar da Trindade, adornado da alvura misturada com o colorido da verdura e flores em tom suave...
E dou comigo de lágrima no olho recordando quem partiu… E dou, ainda, comigo a sonhar ter um altar daqueles na minha própria moradia para seguir, depois, em cortejo para a Casa onde se ouviram os primeiros coros da presença terrena, porque ainda sinto que “Eu creio, adoro, espero e vos Amo” Divino Espírito Santo da religiosidade terceirense...
Oxalá que lá fora esteja um dia coroado de Sol, alegria e muita azáfama preparatória do próximo e, mais uma vez, do 1º Bodo da Região com uma segunda-feira “santa”.
Hoje é dia de festejar Nossa Senhora de Fátima para os que creem, adoram e esperam o milagre de sempre.