As nuvens
As nuvens ainda que de negrume
Numa paisagem tingida
Fazem chegar como lume
O pensamento e a vida.
Acirram a veia da escrita
Em toneladas de azul
Da pena que se acredita
Escreve de norte a sul.
E tu, aqui do meu lado,
Em pergaminhos anexo
Fazes crer num passado
Que, hoje, vejo sem nexo.
Em bebedouros de anil
Na catedral do solfejo
Hei-de brincar com abril
Ao som do teu doce beijo.
Eu nasci no mês de abril
Alta era a madrugada
Se eu chegar ao ser senil
Terei feito pouco ou nada.
Nesse pouco que eu fiz
Com odores do sol-posto
Estou grata e mais feliz
Pelo que deixo com gosto.
Rosa Silva (“Azoriana”)