O toiro não m’incomoda Sempre se viu na ilha No brasão, na estampilha Que continua na moda.
O toiro é a rês brava Que vagueia no cerrado No mato encurralado Noutro lado não se dava.
O toiro é para a gente Como se fosse a raiz Conheço desde petiz Gosto dele mas sou temente.
O toiro dá que falar A quem pensa que é mau Andar na corda ou a pau Ou na praça a tourear.
Ao toiro só vai quem quer É livre a sua raça No caminho ou na praça Vai o homem, vê a mulher.
O toiro não é pessoa Nem sequer é racional E ninguém lhe fará mal Seu corno é que magoa.
O toiro se segue a eito Num arraial bem surtido Onde se é correspondido E a marrada causa efeito.
O toiro é bem tratado Quer no mato ou na corrida A tradição é mantida Zelando o bravo gado.
O toiro para a Terceira É como se fosse um filho Se morre é um sarilho, Mexe com a ilha inteira.
Não me venham cá dizer Que condenam as touradas Na praça ou nas estradas Venham cá para conhecer.
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Não me venham com ditados Ou ameaças escritas Denegrindo as favoritas Festas dos antepassados.
Do mato vinham a pé Com toiros para o caminho Tudo se fez com carinho E o grito nasceu: OLÉ!
Aceito que quem não sabe Da vida de um insulano Compare com ser humano O que nem sequer lhe cabe.
Se a Terceira está de pé E foi Portugal sozinha… Porquê?! Quem adivinha? Foi o bravo e o grito: OLÉ!
«Um por todos, todos por um» É a nossa cortesia Se falta toiro na freguesia Ter saudade é comum.
Quem defende tanto o toiro Fique em casa e não veja; Há povo, cor e bandeja Que nesta ilha é oiro.
Por mim tanto se me dá Seja preto, branco ou malhado Desde que esteja amarrado Gosto de o ver por cá.
Não falem mal das touradas Do nosso belo torrão A tantos elas dão pão E por muitos são estimadas.
O toiro, a Banda e a Fé São um misto de bravura Um louvor, uma cultura E o Povo não arreda pé.
Chego até a pensar Que o Povo até chora Se a tourada se demora E o ciclo tarda em chegar.
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