Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor" **********
Por ser digno de registo e divulgação, transcrevo, na íntegra, um poema histórico da autoria do Sr. Fernando Mendonça, sobre Santa Rita de Cássia, sua padroeira, cuja Festa se celebra amanhã na Igreja do Juncal - Santa Rita, do concelho da Praia da Vitória.
Dia 22 de Outubro vamos celebrar: O dia da nossa amada Padroeira, Com missa e honras para louvar, Uma Santa adorada em toda a Ilha inteira!
Rita de Cássia, essa Santa se chamava. De Cássia pelo nome do convento, Onde teve o resto da vida passada, Depois de ter vivido tanto tormento!
Nasceu em Itália, numa aldeia remota, Filha de pais austeros, e idade avançada, Queria era ser freira, por ser muito devota, Mas os pais entenderam não ser essa a sua alçada.
Obrigaram-na a casar com um jovem adolescente, Que mais tarde deu na bebida e até a maltratou. Nunca desanimando, foi seguindo sempre em frente E com seu procedimento seu marido modificou!
Mais tarde seu marido foi então assassinado, Do qual tinha dois gémeos que o quiseram vingar. Como não queria ver mais sangue derramado, Implorou, rezando a Deus para isso não se dar!
Uma doença mortal a tal vingança impediu Ficando então Rita sem filhos nem marido, E foi então aí, que sua vocação seguiu: Entrando no convento, como a Deus tinha pedido!
Entretanto sua vida piedosa, a Cristo consagrou, Um espinho da cruz de Cristo em sua fronte apareceu, Criando-lhe uma chaga que nunca mais sarou! Aceitando sua cruz, em vez de chorar, agradeceu!
E assim, nesse convento acabou for falecer Onde seus restos mortais continuam imperecíveis Ficando assim todo o mundo Santa Rita a conhecer! E hoje ainda a chamam: A dos milagres impossíveis!
2013. Fernando Mendonça
Nota: Muito obrigada, amigo, por me concederes esta honra!
Uma quadra que cantei durante o I Festival da Cantoria dos Açores, que decorreu a 19 de outubro de 2013, na Praia da Vitória, foi a seguinte:
A cantiga vai no mar alto A palavra vai por terra A rima só dá um salto Se do coração descerra.
Quando a pronunciei repentinamente e na continuação de idolatrar a cantiga e a palavra, não tinha a mensagem descodificada em pleno mas sabia o que me ia na alma, metaforicamente. Na ocasião que os versos saem velozes e a ritmo de viola e violão (ou vice-versa) não dá para se explicar o que nos salta à mente. Depois, e já nas lides normais diárias, é que fica a pairar o que se deixou no ar.
Ao longo dos tempos houve muitas cantigas de improviso que se descodificaram também nas mentes do próprio e dos ouvintes que, segundo me apercebo, captam o que de melhor ouvem e gravam na memória até que sejam finitos.
E foi precisamente no sábado que, durante o jantar que reuniu um salão de gente que gosta do improviso ao desafio, tive a oportunidade de conhecer um senhor da Vila de S. Sebastião que tem uma memória sã e profunda de tudo quanto foi captando ao longo da sua vida, cuja cabeleira já se vestiu de branco. Ele conseguia relatar quadras que ouviu, durante a sua vida, ao pormenor e com um gosto percetível, dos antigos e dos novos cantadores ao desafio. Impressionante! Também de historiador tem muito que se lhe diga… Conseguiu captar a atenção dos que o rodeavam na mesa da refeição para a história da Batalha da Salga, que se não fosse o início da cantoria da noite, teria concluído o relato de uma forma clara e entusiasmante. Parece uma enciclopédia açoriana e vê-se que é uma pessoa de poucas letras mas instruída pelo curso da vida quotidiana e de muito que também já deve ter lido ao longo da mesma. Pena que não fixei o nome mas acho que não perdi a fisionomia e o reconhecerei em qualquer parte da ilha.
Voltando à quadra. O que ela quer dizer verso por verso é:
A cantiga vai no mar alto
As cantigas já atingem um patamar de maior nível e apenas tem valor maior as que se consagram ou são melhor apreciadas. Comparativamente só vai no mar alto todo aquele motor que se aguenta quer em bonança quer em tempestade.
A palavra vai por terra
A palavra é pronunciada por toda a gente que vive e labuta no dia-a-dia, onde quer que esteja. É em terra que se vive a maior parte do tempo, independentemente de ter ou não qualidade. Fala-se e pronto.
A rima só dá um salto
Este termo - salto - refere-se propriamente ao atingir um nível superior, isto é, de relativa qualidade. Nem toda a rima tem o tónico para atingir a qualidade se desfasada de contexto. Há uma evolução se a prática for continuada, isso não haja dúvida.
A rima só dá um salto, Se do coração descerra.
Juntando o terceiro verso com o quarto que não se podem dissociar, encontramos a definição exata do poder da rima que se for ditada pelo coração terá um valor precioso. É precisamente do coração que saem muitas das rimas das cantigas que ouvimos no mundo do improviso e que perduram na mente dos populares que amam o que é nosso e genuinamente ilhéu.
Não sendo uma quadra com sentido objetivo direto e percetível sem recurso ao exame verso a verso, é o meu tesourinho. É isto o que eu sinto depois de ter encetado nestas andanças que jamais me parecia vir a trilhar: A verdadeira rima só dá um salto se do coração descerra. É por isso que chego a emocionar-me com a minha própria escrita (ou atuação) em determinadas ocasiões.
Bem-haja quem me proporciona estas reflexões e, neste caso, foi o I Festival da Cantoria.