Naquele tempo (lembrete)
Estava eu ainda solteira, nos meus tenros anos, quando um dente molar esquerdo começou a dar problemas. Recordo que fui de camioneta da freguesia Serreta até à Cruz da freguesia das Cinco Ribeiras e o restante caminho dali a pé até ao Pesqueiro, da freguesia de S. Bartolomeu de Regatos. Uma distância memorável para quem tem um dente queixoso.
Nessa tarde, o dente levou uns valentes acertos e foi composto de uma camada protetora sólida suficiente que aguentou até muito depois do nascimento dos meus filhos.
Nessa noite que jamais esqueci, chorei a bom chorar com dores horríveis. Costumo dizer, depois de saber o que é dar à luz, que antes quero ter um parto do que uma dor de dentes. É a verdade pura porque a dor não é tão duradoura como a de um dente cariado, em desespero.
Acontece que nada é eterno e muito menos a camada protetora de tamanha cratera dental. Enfim, eis que um belo dia lá ficou a zona do dente sujeita às intempéries diárias, sem qualquer proteção. Recentemente voltou a incomodar. Não só o mesmo como também o seu vizinho de trás. Dores de dentes são o pior que me pode acontecer.
Portanto, se Deus quiser, hoje vou ordenar-lhe (s) o despejo final. Já chega de tormenta, já chega de “palitar” o que não se deve palitar. É triste dizer adeus a um molar que nos acompanhou quase meio século mas é urgente a sua retirada.
Se tal efetivamente acontecer vai dar aso a um período de recolhimento de sorrisos abertos. Terei de permanecer de boca semicerrada para evitar que o lado esquerdo seja montra desdentada.
Uma vez que os blogues da plataforma do SAPO perfazem o seu 10º aniversário nada como assinalar a efeméride com alegria e, insisto, se Deus quiser, sem uma cárie dolorida que até fez nascer um artigo que servirá de lembrete futuro. É que, caso não tenham reparado, muitas das vezes e ao longo do tempo de blogger, os meus artigos servem de lembretes para quando a memória estiver cariada.
Entretanto se escapar desta terei poucas letras para lançamento porque na certa estarei a curtir uma noite de recuperação de novas tormentas (e se não atender algum chamado telefónico é porque não posso articular palavra).
4.11.2013
Rosa Silva (“Azoriana”)