Ecos solitários
Sabes, estou a desaprender tudo o que me ensinaste. As palavras são ecos solitários num ser que viveu demasiado em comparação com outros seres cuja existência durou menos de um meio século. Cada dia que passo descubro novas fontes de linguagem, novas palavras que tendem a fazer com que as que me dizias percam a validade. Ou não será tanto assim? Será que as tuas palavras eram as corretas e agora estou a abraçar novas que não se adequam aos velhos tempos?
Complicamos tudo num amontoar de palavras mortas. Pela primeira vez (ou talvez não) sinto-me amarfanhada entre os escombros da vida. E, no entanto, estou viva mas sem ação.
Após divulgação destas palavras em post diário nas tecnologias da comunicação poucos ou nenhuns entenderão o cerne de um texto contendo ecos solitários. Porque, na verdade, somos uma floresta descarnada, transformados em amontoados de papelão famintos de olhares. Somos peças soltas num conjunto de entabulados deixados na prateleira da solidão. Afinal até somos o número que encima a sepultura mais fria e profunda de um pedaço de terra desenhada à medida e entabulada em divisões paralelas.
Porquê tanta luta na passagem terrena? Porquê tanto e tão pouco se viemos com pouco e vamos com muito menos?
Enquanto seres vivos do planeta habitável temos de seguir a regra e a circunstância, a decisão e a razão, a escada e o escadote, o púlpito e a cadeira, o verde, o vermelho e o azul entre tantos outros coloridos vitais.
Só não podemos ir contra seja o que for onde houver uma opinião formada.
12 de novembro de 2013
Rosa Silva (“Azoriana”)
Nota: Quem não entender o desenrolar dos parágrafos anteriores… Tenho pena, muita pena mesmo, mas mais não quero desdobrar, porque a prosa não será o meu forte. A rima é que me traz alegria aos molhos, um sorriso nos lábios que atinge os olhos.