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Quem pela Serreta passa
Tem vontade de voltar
Mesmo que demora faça
Regressa ao que foi seu lar.
Quem de longe também sonhar
Com o berço que o embalou
Pode nem querer voltar
Mas seu nome ali fundou.
Quem na hora da partida
Eleva a Serreta então
Numa palavra sentida
Recebe doce perdão.
O perdão de um ausente
Ao carinho do seu lar
Pode sempre estar presente
Na hora de "suspirar".
Rosa Silva ("Azoriana")
Minhas quadras, minhas rosas,
No ramo da inspiração,
São as flores preciosas
Que adornam minha paixão.
Ofereço as mais formosas
A quem estende sua mão
Porque as flores amorosas
São retalhos do coração.
Meu coração está sujeito
A ser ramo imperfeito
De outras flores vividas.
E na certa a melhor flor
Que à ilha dou, com fervor,
Surge nas rimas sentidas.
Rosa Silva ("Azoriana")
Na imagem: Salão Nobre da SRECC Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura,
na manhã da apresentação de Regulamentos de Prémios a serem atribuídos a candidatos.
Tais Regulamentos serão publicados oportunamente em legislação regional.
A Daniel de Sá ("Palavras")
Quão nobre é o Salão
Que piso sem altivez
Que preza a Educação
E a Cultura duma só vez.
Quão ténue sou eu então
Na curva de fim de mês;
Tenho plena a sensação
Da Ciência que faz os três.
Que linda cada moldura
Retalhos da nossa terra
Presentes de sã cultura.
Meu Deus, o que faço aqui?!
Sou ave que em mim descerra
Uma vontade só por ti...
Rosa Silva ("Azoriana")
Na imagem: D. Maria Alice Rodrigues de Sá e filha (que me deu imenso alegria cumprimentá-las neste dia especial)
No dia da sessão de apresentação do futuro Regulamento
do “Prémio Literário Daniel de Sá”,
do “Prémio de Pintura António Dacosta”
e do “Prémio de Arquitetura Paulo Gouveia”,
nos Paços da Junta Geral, em Angra do Heroísmo,
pelo Exmº Srº Prof. Doutor Luiz Fagundes Duarte, Secretário Regional da Educação, Ciência e Cultura
e pelo Diretor Regional da Cultura.
Imagem captada por telemóvel
Título: Sextilhas na Califórnia
Grande Cantoria com MANUEL DOS SANTOS / FERREIRINHA (FILHO)
(Thornton / Califórnia)
1999
Coletânea produzida em 2014
Autor: José Fonseca de Sousa
Capa: Turiscon Editora
É tão bom louvar quem canta
Quer na ilha ou mais além
É de brindar quem levanta
As cantigas de alguém
E com gosto grava tanta
Rima ilhoa p'ra nosso bem.
Começou Ferreirinha-Filho
Seguido de nobre cantador
Dos Altares o seu brilho
De S. Roque o seu tutor
A cantar não fez sarilho
No fim deu o seu valor.
Manuel dos Santos terminou
Abraçando Nossa Senhora
E o colega que cantou
Que é filho do Pai d'outrora
Que dizem o humor fixou
Nascido na Boa-Hora.
José Fonseca de Sousa
Recolheu lindas cantigas
Abraçou a nobre cousa
Oitenta e seis sem intrigas
Por caneta que não repousa
Em dar-nos sextilhas amigas.
Rosa Silva ("Azoriana")
O dia amanheceu simpático, colorindo de dourado a ilha e quem por ela circula rumo à labuta diária, seja estudantil ou para dar asas ao trabalho que lhe ocupa as horas alargadas.
O sol parece feliz como que a dar-nos a esperança de vida, a vontade de aguentar o resto da manhã e até chegar os confins da tarde. Oxalá que a lua nos seja também agradável.
“Um olhinho de sol” podia ser o título de algo criativo, alegre e prazeroso. O sol é, e sempre será, o bálsamo dos olhares e do ser, o mesmo que dizer, é a vida em melodia, é a cor que nos brilha entre espaços, ora tingidos de negrume, ora num clarão espertino.
Como será a cantiga com o verso metrificado composto de “Mais um olhinho de sol” veio animar minha alma, veio despertar meu lençol, onde adormeci com calma. “Mais um olhinho de sol” trouxe à ilha esperança, para acrescentar ao rol, um cenário de pujança. “Mais um olhinho de sol” e não precisa mais nada…
O resto é música e música da boa. Imagino-a criada por quem deu vida a “uma alma de pau” :) E a mais não me atrevo…
Rosa Silva (“Azoriana”)
Vistas bem as coisas como elas são, todos andamos neste mundo e dependemos uns dos outros. Quem manda depende de que lhe dá o comando; quem trabalha depende de ter que fazer; quem recebe depende de ter patrão; quem escreve depende de quem o lê; quem canta depende dos aplausos que porventura receberá no palco ou num terreiro; quem chora depende de quem lhe limpe as lágrimas; quem ri depende de quem lhe conta a graça; quem vive só depende da bondade alheia; quem se levanta cedo (ou tarde) depende da alegria de não ter dito adeus à vida durante a noite…
Depois desta reflexão ponderada ergo o pensamento, outra vez, para uma frase única: quem merece homenagem depende da resposta positiva a uma pergunta que alguém faz a quem de direito - Quero fazer uma homenagem a “fulano” (= diz-se o nome da pessoa ou entidade) e preciso da sua intervenção em todo o processo. [ponto final].
Até que eu podia fazer a tal pergunta ou pedido mas tem um entrave: - Não aceito um “Não” e pronto. Como, na certa, é um “Não” que vou obter porque (e lá vem um rosário de entraves) é mesmo assim, a vida não está para graças nem para dar de graça, ficamos na mesma, cada um no seu canto à espera de alguém lhe bater à porta com a frase que tantos sorrisos traz: - Venho aqui, em nome de [entidade máxima] para o convidar a estar presente numa sessão solene no [diz-se o local, a hora, etc.], onde contamos com a sua prestimosa anuência, bem como da sua família…
É bonito, não é?! Quem não gosta de se lhes prestar a devida atenção e fazer a merecida vénia?! Serão bem poucos aqueles que não gostam que lhe apreciemos os dons que possuem…
Não posso ser mais direta do que isto. Em toda a nossa ilha (e outras) há milhentas celebridades com artes naturais cujo dom foi simplesmente terem nascido com uma capacidade extraordinária. E porque não louvá-la e aplaudi-la, partilhando com o povo o que de melhor se tem no povo?!
E mais não digo porque a pessoa em causa não merece jamais um “Não” mas um “Venha, venha, amigo do que é nosso, da tradição terceirense!”
Rosa Silva ("Azoriana")
“ (…) O torresmo da agonia, cabia sempre a um dos que seguravam o porco pela parte de trás, em que o que o segurava pelo rabo naquele momento de agonia, sujava-se todo. (…) ”
Fonte: MATANÇAS DE PORCO, ERAM FESTEJOS DE INVERNO (…)
Não é propriamente daquele torresmo que vou escrevinhar hoje e que, também, me fez lembrar das histórias da matança do porco na minha casa nos tempos idos. Atualmente, nem um porco se pode matar no reduto doméstico, sem que venha alguém “condenar” a ação de sobrevivência familiar graças à abundância que a matança de um porco dava. Enfim, mudam-se os tempos, como dizia o outro.
O que quero deixar para “torresmo da agonia” (da atualidade) é o facto de cada vez se trabalhar mais e se receber menos. Não há maneira dos nossos governantes reduzirem o custo de vida e presentearem o trabalho de cada um, para que se possa adquirir os bens e haver algum poder financeiro para todas as compras. Se não fosse a má conversão do escudo para euro em que foi tudo para um patamar duplo no custo, nada desta carência, digo falência, geral estaria a acontecer.
Digam-me lá como se sobrevive se a eletricidade aumenta, se a água aumenta, se os bens alimentares e de consumo aumentam e… o nosso salário mensal leva cortes e mais cortes?!
E ainda por cima vem um elemento, que nem é amigo da nossa autonomia, tentar que fiquemos ainda mais empobrecidos?! Ainda bem que há quem lhe dê juízo e impeça que a bendita (digo maldita) ideia prossiga e infernize o que infernizado está.
Sinceramente, acho que é o desespero local, o desespero da nação e quem sabe se o desespero mundial. Até onde vamos nós? Até quando haverá paz? Juro que receio o que possa advir nos tempos que restam a uma “meia dúzia”, salvo seja, de personagens, ora taciturnos ora boquiabertos de espanto negativo.
Que Deus incuta na mente dos que regem uma experiência: fechar para balanço e abrir com novos preços (mais baixos) e um aumento do «pão-nosso-de-cada-mês». Assim, todos ganhavam porque o poder de compra seria maior e o comércio venderia muito mais, sem ter de ficar “às moscas” ou com a “cartilha dos devedores” a abarrotar.
Pensem nisso, está bem?
E já agora, deixem o pobre cidadão fazer a sua matança de porco no quintal da própria casa, à maneira tradicional, com direito a convidados familiares e amigos numa azáfama feliz o mais possível.
Rosa Silva (“Azoriana”)
Na sequência da homenagem escrita em artigo anterior, hoje mesmo tive o prazer de fazer uma visita ao Sr. António Mendes, de Santa Bárbara, da ilha Terceira. Não fazia ideia da riqueza cultural em todas as vertentes deste poeta, compositor, ensaiador, com um manancial de cultura impressionante. Fiquei boquiaberta e adorei ouvi-lo declamar os seus versos de memória incomum. Fascinou-me tudo o que vi, ouvi e aprendi em poucos minutos. Nem me apercebi de quanto tempo estive, com meu marido, nesta descoberta tardia. Sabia que ele era autor de bailinhos de Carnaval, etc. mas não me apercebi do valor incalculável deste senhor da rima metrificada. Queria tanto elogiá-lo, homenagiá-lo mas tudo o que eu disser ou fizer é uma gota de água naquele oceano cultural.
A ilha Terceira, sem dúvida alguma, é um berço dourado de inspirações quer a bruma vista os ares quer a lira enfeite os timbres da paixão poética.
Peço que, tal como hoje destaquei esta personalidade barbarense, se faça tudo o que estiver ao nosso alcance para perputuar os vultos da nossa ilha tão querida.
Obrigada de coração ao Sr. António Mendes, caso o seu olhar percorra esta prosa qual sincera dedicatória.
Angra do Heroísmo, 20 de janeiro de 2014.
Rosa Silva ("Azoriana")
Baú de recordações
Não sou dada a guardar tudo o que o tempo foi deixando de material. Não tenho arcas de madeira com recantos floreados pela habilidade de artesãos experientes, não tenho baús de antepassados onde se guardavam as roupas de cama (mantas, colchas, cobrejões, lençóis bordados, toalhas de linho, roupa íntima e outra de sair às festas e procissões, nem aqueles bordados sob iluminação artificial, sem eletricidade ainda, nem almofadas feitas com a mesma afinação arrendada, nem, tão pouco, tenho o sótão de casa com qualquer divisória de arrumação predileta. Tudo o que possuo se resume a um punhado de recordações (na mente que já guarda pouco) dispersas pelas paredes e nalgumas divisões da casa, ora nalguma gaveta ou prateleira de material de “desenrasca-te se puderes” e sujeitas a tombar com a ameaça saltitante de um gato esperto e/ou outro atrevidote.
Valor sentimental
Não penso que o conteúdo do parágrafo anterior tenha menos valor sentimental que o de tantas pessoas que tiveram e têm “berço de ouro” e “cama qual moldura perfeita” que nem apetece desmanchar para dormir mas simplesmente ficar a admirar a preciosidade.
No fundo, gosto muito das minhas pacatas coisinhas porque em cada uma está o retrato de uma vida, uma dor, uma lágrima, um sorriso, um coração, um esforço laboral, um retalho, sobretudo, uma oração íntima de cada vez que as olho ou toco, como que vendo o meu mundo in [finito] …
Arca da maternidade
De repente, dou por mim numa pausa a pensar: Tenho três filhos (e uma enteada). Queira Deus que sempre os veja, lhes fale, os ouça, até ao finito dos meus dias. Não há arca, nem baú melhor que a arca da maternidade. Ser mãe foi a minha primeira vontade após unir os laços de um matrimónio finito. Não guardei as suas vestes de infância, nem os cadernos das sucessivas passagens de ano, nem aquelas lembranças em dias comemorativos… Guardei na alma e no coração a alegria de ser mãe dos meus «ricos» filhos que, agradeço a Deus, até hoje não me deram motivos para outras arrumações (leia-se preocupações).
Angra do Heroísmo, 20-01-2014,
Rosa Silva (“Azoriana”)