É Carnaval (quase, quase)
Bom dia classe trabalhadora.
Nem sei se o dia está de sol?!
Na cabeça tenho uma debulhadora
E nem prego olho no parco lençol.
Tenho uma boa remessa de flechas
Que Índios me andam a atirar,
Na testa as dores parecem mechas
Numa fogueira sempre a solfejar.
Bendito seja o nosso Carnaval
Com apitos e ruídos de alegria…
Oxalá não piore e tudo me faça mal
Bem como aos índios que a mente cria.
Nem sei se vou dormente a folia aguentar
Sentada na dura cadeira de um salão
Com gente brincando a bom cirandar
E a provocar a minha inquietação.
O trabalho cai em cima de mim,
Como um boião cheio de cultura
Na madrugada acordo, enfim,
Volto a dormir como em sepultura.
Só mesmo a rima para a vida atiçar
O que de morto já me parece ser…
Acabo, então, por nada apregoar
Sobre o que me anda a entontecer.
Gozem bastante o bravo Carnaval
Com os bailinhos que nos trazem encanto
Não deixem é o frio vos fazer muito mal
Para caírem doentes para novo canto.
Comam bastante doçura nas mesas,
Espantem o povo que se quer feliz;
Não deixem as gadelhas muito desprezas
E cantem alto o que tendes de raiz.
É Carnaval!
Rosa Silva ("Azoriana")