Três "p's": Parar Para Pensar
“Escreves coisas tão bonitas”
Parece que ouço na mente
“Mas não sei se acreditas
No que lês na tua frente”.
É verdade! Podem crer
Não sei dar a mim valor
Mas também posso dizer
Que escrevo por amor.
Hoje lembro do meu pai
O homem de sete ofícios
Que da mente não me sai
E era contra desperdícios.
Se ele vivesse agora
Ficaria horrorizado
Com tanto carro à nora
Fazendo o céu cinzelado.
Há carros a mais na ilha
Terceira de Jesus Cristo
Nem sequer numa sextilha
Dava para falar disto
Tende cuidado ilhéus
Que andais tão apressados
Manchando os nossos céus
Poluindo os nossos brados.
Tanto carro pelas ruas
Entupindo a viação
E se assim continuas
Vítima és da poluição.
Se um “drone” sobrevoar
Nossa Angra do Heroísmo
Certamente vão notar
Que o verso tem realismo.
Não há lugar para parar,
Conduzir é um colosso;
Há que parar para pensar
Ou então está aberto o fosso.
Isto assim está ruim
E não há volta a dar
Também falo para mim
Com carro costumo andar.
Na minha casa é só um
Carro por necessidade
E não quero mais nenhum
Poluindo a cidade.
Mas há lares que têm mais
Em virtude de trabalhos
Diferentes e pontuais
Que vão por outros atalhos.
O que foi que aconteceu
Para haver tando deslize?
Ou tudo endoideceu
Ou então já não há crise?!
Ou gastamos sem medida,
Andamos em “faz de conta”,
Ou queremos gozar a vida
Mesmo com a cova pronta?!
Rosa Silva (“Azoriana”)
P.S. Após a divulgação destes versos chegou-me ao conhecimento um comentário pertinente e muito bem construído de acordo com a atualidade automobilista na ilha Terceira (e quem sabe noutras ilhas do arquipélago dos Açores). Ei-lo transcrito na íntegra sem colocar o nome do autor que gosta de anonimato:
(...) digo-te, efetivamente que, na nossa ilha, há carros demais a circular nas nossas estradas. Isto é o reflexo da preguiça e do comodismo que tomou conta das nossas gentes. Estamos quase todos com as veias e artérias entupidas de comer, beber muito e, depois, chocar as banhas no sofá. Alguns (as) para combater essa gula e preguiça excessiva, gastam fortunas em “podas” estéticas, outros procuram diluir o tecido adiposo nas academias mas, como temos o famoso “quinto toiro”, deitam tudo a perder com os proventos gastronómicos desse bicho generoso nas questões da culinária.
Quanto aos problemas do meio ambiente, eles já nos estão a molestar, mas continuamos a assobiar para o lado julgando que isso só irá apoquentar os outros. Conheço pessoas, minhas vizinhas, que, várias vezes por dia, vão a casa dos parentes que distam duzentos ou trezentos metros uns dos outros nos seus popós de marca afamada. Ei home, isto o que é?!... E se quisermos abordar outras questões: os plásticos e os vidros que deveriam ser todos reciclados, teríamos aqui um tratado de revolta e repúdio por aquilo que vejo não fazer por aí. Em jeito de síntese, deixo o seguinte provérbio “Deus perdoa sempre, o Homem perdoa às vezes, a Natureza nunca perdoa”…