A S. Sebastião
Último domingo (26) do mês de outubro de 2014. Tarde calma com visões celestiais tranquilas de anil e ouro, fruto do mar e do sol. Paisagem serena junto à Ermida da mártir Maria Vieira, na freguesia de S. Sebastião. Por entre as visões e as orações íntimas, uma porta aberta convidativa à subida de cinquenta degraus intervalados por uma espécie de "Pai-Nosso". É que a escadaria lembra-me a reza do terço, as cinquenta ave-marias e os cinco Pai-Nossos. Impelidos por uma vontade consciente subimos e entrámos na Ermida que, por incrível que nos parecesse, estava no início da eucaristia, com a palavra do pároco Domingos Faria (desconhecia-o até então).
Nada nos fez abalar sem ouvir tudo até à bênção final. Nada mesmo. Os bancos; o terço artesanal de comprimento que dava para enfeitar a entrada, as laterais e o altar da Ermida, entrelaçando algumas imagens belas de Jesus e sua Mãe; o Sacrário; as imagens cativantes; mas sobretudo, a explicação (prefiro ao invés de sermão) do pároco, sempre que via a necessidade do bom gesto que nos impedia de sequer pronunciar um gemido. O silêncio era preciso para captar com todos os sentidos a mensagem (todas) das leituras, do Evangelho, do "nós", da "salvação universal" e da paz interior.
Parecia que o céu tinha descido à Ermida. Parecia que o pecado se anulara. Parecia que Deus nos presenteava com um momento para a vida exterior à Ermida. Parecia que os anjos cantavam pela voz do pároco Domingos Faria. Parecia que a tarde caía numa escuridão santa.
E foi então que do meu íntimo surgiram versos cantantes para ofertar a S. Sebastião, porque ouvi a intenção informativa. À minha lembrança chegou a voz interior que me despertou para a proximidade do dia 28 de outubro, data que fará onze anos que a minha mãe partiu para outra dimensão. Ela deu-me este sinal que, de propósito ou não, me fez subir cinquenta degraus, e entrar numa Ermida até então desconhecida para mim. São estes sinais que provam a existência da eternidade e a partilha de sentimentos de lá para cá.
É-me impossível esconder tais versos "ouvidos", cantados e rezados para uma imagem única: S. Sebastião! Graças a uma homilia extraordinária e que me tocou profundamente, admirei e amei.
Ei-los por escrito e também em imagem:
S. SEBASTIÃO
Pode o céu tombar de anil
Junto a S. Sebastião;
Pode o ilhéu ser subtil
No retalho de mansidão;
Porque as graças serão mil
Fruto da nossa oração.
Glória a S. Sebastião
O padroeiro da Vila
Na flecha do coração
Junta o povo qual argila.
Glória à fé em união
Nos caminhos da ternura
Patrono da salvação
Que nos tira da agrura.
Vem o tempo de orar
Uma prece universal;
Vem o tempo de ficar
Numa onda fraternal
E do abraço popular
Dar-se a graça divinal.
2014/10/26
Rosa Silva (“Azoriana”)
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