Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos
Motivo para escrever: Rimas são o meu solar Com a bela estrela guia, Minha onda a navegar E parar eu não queria O dia que as deixar (Ninguém foge a esse dia) Farão pois o meu lugar Minha paz, minha alegria. Rosa Silva ("Azoriana") ********** Com os melhores agradecimentos pelas: 1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3" 2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze" 3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor" 4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado **********
Moro numa ilha beijada pelo mar E no rosto das manhãs dou por mim a louvar - Que bom é ter-te em mais um dia de magia! - Que bom é ter uma ilha por companhia! Deixo-me vaguear envolvida em tanta cor Que o dia me traz num abraço de amor; Refresco-me de um colorido de terra e mar Na estonteante serenidade e bravura Que venera o centro do fogo e a paz do luar Da Ilha onde a mulher assenta em figura.
O prazer peninsular do cativante Monte, Ventre aberto ao céu que lhe fica defronte, Refúgio das aves e de quem o visita, Miradouro intemporal da terra que o fita. O Monte, a Ilha é tudo isto sem ser demais: É bela, é de Cristo e dos comuns mortais; É vida, é dor, é sentimento cruzando o horizonte; É verde, azul, lilás num justo ornamento; É festa, é riso e a formosura se lhe aponte; É cais de sonho, é doçura que acalento.
A ilha é linda, hortênsia em flor, Terceira rainha, o sol do amor, Lua de amizade, riso do Senhor, Maresia encantada, manto de valor.
Sou o que a ilha quiser E tudo o mais que dela escrever.
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Para quem visita a ilha, vestida de lilás e outras cores num painel imenso, nota que há sorrisos expostos para a passagem dos forasteiros, há bons manjares, há regras, usos e costumes. Portas para dentro há outras cores, outros sabores e outras alegrias e dores que, por vezes, estão ocultas... Talvez por isso é que o mar está tão cheio de águas: as suas e as nossas que caem já salgadas para não destemperar as que já o são (Há lágrimas de mar salgado?!).
E cada ilhéu vive à sua maneira mergulhado em todas as tonalidades de um só dia.
O mar é o espelho do céu e da terra e ciranda sempre em volta dela, numa dança infinita. São voltas e voltas do mar que a beija suavemente ou em golpes de fúria. Por isso, a terra é feliz quando é beijada e chora quando fustigada pela brava onda. Sempre será ilha brava por terra e mar num painel de cores.
"Com Deus me deito, com Deus me levanto, com amor e graça, do Divino Espírito Santo" - Era assim a sua reza matinal. Eu, calada no meu leito, olhos esguios na transversal, vigiava aquela mulher cuja idade se desenhava nas rugas do rosto e das mãos. Por vezes, sentava-me perto dela e esticava-lhe, com os meus dedos, aquelas torres de rugas sobre as mãos. Ela sorria e eu queria que ela me dissesse: "Um dia terás as tuas...". Atualmente, quedo-me nesse pensamento como que com medo de olhar as minhas mãos e ver os mesmos montes de pele, sinal de que a idade está a pesar muito... Tenho medo de envelhecer e de ficar só e as minhas rugas, sem ter ninguém que brinque com elas...
De novo, volto àquela ladainha do amanhecer de ilhéu:
- "Com Deus me deito, com Deus me levanto...". Parei neste ponto... Hoje, raramente balbucio esta reza que decorei, por ser bonita e fácil. A pressa do levantar nem deixa que se balbucie rezas rimadas e bonitas como estas... Não dá tempo, não se tem tempo, corre-se desenfreadamente para as rugas que, por vezes, nem se chegam a alcançar porque se morre mais cedo do que antigamente. A vida de ilhéu já não é o que era no tempo desta mulher linda de cabelos alvos de neve, com um olhar de um azul transparente onde se conseguia avistar a pureza dos seus sentimentos... Tenho saudades de lhe vigiar as rezas matinais e noturnas. Aos anos que não as ouço porque só resta a recordação.
A noite é um xaile negro que cobre a ilha. Quando esta desperta do pesadelo, o sol cobre-a de beijos e raios de ternura, ladeado pelas nuvens que tentam esconder a felicidade da manhã airosa e doce. E nesta maré de emoções, eis que surge, neste dia, o resplendor da vontade de cantar a Ilha Brava e Doce.
A ilha é «Brava» porque no quadriculado de preto e verde, serenamente, pastam vultos negros cuja fúria só se percebe quando o seu olhar fixa quem os atiça. Na calma azul (do céu) e verde (do pasto) e se juntos, parecem-se com os bois e vacas que pastam noutras pastagens da ilha.
A ilha é "Doce" porque a culinária é rica e apetitosa. O alfenim, por exemplo, é um doce feito à base de açúcar que só existe na ilha mais festeira do mundo - a Ilha Terceira.
Acompanha e participa nesta onda de prosas, amores, rosas e poesia de sabor popular desta pérola mais-que-perfeita, uma flor do paraíso açoriano, descoberta no século XV.
Debruada a espiguilha Vou cantando minha ilha Que de lilás fez-se hortense Nesse tom que lhe pertence E quem por ela hoje passa Com gosto sempre a abraça.
É ilha encantadora Mui formosa e sonhadora De beleza sem igual Uma flor de Portugal E quem por ela ontem passou Maior saudade abraçou.
Musa de danças e rimas Regadas pelas vindimas Do vinho doce e cantares Que se juntam nos lagares E quem por ela passar Sei que a vai abraçar.
Ó minha linda Terceira Alegre e muito festeira O coração dos Açores Uma mostra de sabores E quem por ti vai passando Sorrindo te vai abraçando.