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Olha o nosso mar
Ouve o que ele diz
Deixa-te inundar
Na onda feliz.
A onda vem forte
E parte-se em vaga
Talvez que por sorte
O verso me afaga.
Ó mar marinheiro
Chega-te p'ra mim
Que estou no estaleiro
Do meu cais sem fim.
Sou cais de saudade
De velas e sóis
Onde a minha cidade
Se fez de heróis.
Ilha que leva à proa
Um mar de amores
Onde o verbo ressoa
Eu sou dos Açores.
Alma açoriana
Desde que gerada
Pauta lusitana
Por tantos cantada.
Rosa Silva ("Azoriana")
Simpáticos amigos e/ou visitantes deste vosso humilde blog,
Peço-vos, encarecidamente, que visualizem as imagens a que dei o título de «Fantásticas», porque ilustram momentos igualmente fantásticos, e, se possível, identifiquem (em comentário ou no sítio da própria imagem) a que escolheriam para ser eleita capa.
A escolha é vossa. Se encontrarem outra(s) melhor(es) ainda aceito sugestões. Neste caso terão direito a prémio.
Como recompensa apenas posso ofertar o meu agradecimento sincero.
Uma boa quinta da primeira semana de dezembro.
Rosa Silva ("Azoriana")
Neste dia, há 141 anos, nascia uma vontade unânime de melodiar a existência, na pequena freguesia, com um punhado de sopros, percussões e outros instrumentos que foram transitando de pais para filhos, até aos dias de hoje.
É, sem sombra de dúvida, bonito lembrar dos nossos antepassados, no presente. Tantos que já deram o seu melhor ao longo de décadas só por amor à farda e ao instrumento cujo som não tem sotaque e é percebido por todas as línguas e modos de vida. Quem não se comove com a beleza de um Hino? Quem não se sensibiliza com a tocata, o passo doble, a marcha, e tantas outras melodias de um universo musical?
Dou os meus sinceros PARABÉNS ao grupo de músicos, seu maestro João Marcelino Costa, seus diretores e ao povo da minha freguesia natal, que foi e é ponto de partida e mote para tantas das minhas criações sentidas e publicadas para memória futura.
Também dirijo uma palavra de reconhecimento e agradecimento aos músicos que colaboram assiduamente com a Filarmónica Recreio Serretense cuja origem é de outra localidade. Não medem esforços para estarem presentes em atuações na freguesia, na ilha ou fora dela. Sei que percebem a união, a amizade e a partilha que ali se vive.
Lembro, ainda, quem pertence à Filarmónica e que por motivos de força maior está ausente. Neste dia (e noutros) tenho a certeza que o coração toca um Hino de Louvor, por Amor, ao que tanta vez fez deslocar do seu ambiente familiar para estar presente nos ensaios, nas tocatas, nas procissões, nas festas locais e citadinas, entre outros festejos que fazem da ilha Terceira a primeira em alegria e gosto.
E para não destoar a criação, bem a meu gosto, eis a minha sincera oferta:
Viva a Banda da Serreta!
Senhora da Conceição,
Dos Milagres, só Maria,
Um nome de eleição
Para ancorar o seu dia.
Dia quatro de dezembro
Data linda e harmónica;
Um louvor a cada membro
Que coroa a Filarmónica.
Subo ao alto da colina,
Entre prados verdejantes,
E aceno aos emigrantes...
Sorrindo como em menina
Içando grata etiqueta:
Viva a Banda da Serreta!
Rosa Silva ("Azoriana")
Algumas imagens que seleciono para visualização: aqui, ali, em desfile, em atuação, em recordação, em diversão, em comemoração, sobretudo em tradição.
Veja mais imagens seguindo a hiperligação ao álbum.
«De propósito»
Como é lindo o teu navio
Navegante das palavras
Que lidas não nos dão pio
Sentidas por certo lavras.
Palavras de corpo inteiro
Das marés quotidianas
Do soneto verdadeiro
Que mais se louva em Hosanas!
A medalha que eu fizesse
Dar-te assim quando pudesse
Ser terna recordação...
Pelos retalhos tingidos
«De propósito» construídos
Com valor, alma e paixão.
Rosa Silva ("Azoriana")
A pior humilhação
Porque passa uma pessoa
É dor e consternação
Quando a morte não entoa.
Prendem-se a coisas terrenas
Muitos seres neste mundo
Sobra pouco e quase apenas
O que se fez de fecundo.
Já vi almas se prenderem
Aos bens que têm nesta terra
Fazem tudo para ofenderem
Outros que não querem guerra.
Ó Menino de Belém
Vinde ao mundo nesta hora
Fazei com que haja bem
Em cada lar sem demora.
Quem vive toda uma vida
Nos prazeres da riqueza
Tem o mesmo à partida
Dos que vivem na pobreza.
Viemos nus, sem agasalho,
Vamos da mesma maneira,
Só resiste o trabalho
Que se fez a vida inteira.
Na hora que a balança
Pesar a nossa conduta
Há de haver peso que avança
E outro terá disputa.
Repartir cada quinhão
Que em vida se produz
É ganhar a salvação
Na balança de Jesus.
Rosa Silva (“Azoriana”)
1929.dez.02, segunda-feira
2014.dez.02, terça-feira
Oitenta e cinco anos intervalam estas datas. Se estivesse no reino dos vivos presente estaria de aniversário, o meu pai, Carlos Cândido. Lembro-me perfeitamente de que neste dia se não se fizesse caso ou se não se balbuciasse que era dia de anos, algo modificaria a alegria do seu rosto.
Olho azul, ausência de cabelo, estatura mediana, andar compassado, voz ativa, trabalhador incansável, lutador, um génio em tudo e por tudo, falador, etc., etc., deu-me o mote para a vida. De poucos afetos que se vissem mas sentia-os. Lembro que suas histórias, em certas fases da minha existência terrena, traziam ao meu ser (e ao meu olhar) uma emoção que se via nalguma lágrima, que a tudo o custo tentava ocultar.
Homem do mar que veio para a serra pequena. Homem de uma ilha montanha de mudança para uma de arraiais, carnavais e tauromaquia. Se a memória não me falha eram os toiros que lhe incutiam respeito. Nunca o vi à frente deles, bem pelo contrário, subia o Pico da Serreta até ao cimo para ficar a apreciar do alto a corrida na pequena Praça, que hoje lhe daria muito gosto a sua remodelação. Paredes novas e portões novos com a cor escarlate e bola branca, como que a assinalar o recinto de boas práticas tauromáquicas, cuja tradição remonta a tempos idos mas que são preservados na sua essência.
Partiu em 2001.fev.23, sexta-feira gorda. Perdeu o Carnaval desse ano de que tanto gostava. Não esqueço a velha frase exclamativa: Olh’á dança rapazes! E tudo parecia cumprir o seu eco jovial, fraterno e amigo.
Viveu e amou à sua maneira, trabalhou de forma a amparar a descendência – duas filhas – e jamais sairá dos nossos corações pelo facto de ter sido o progenitor.
E toda a verdade se encerra
Em quadras que a mente capta
Desde o mar até à serra
Há uma regra intacta.
Viver feliz é sempre o sonho
Que toda a alma acalenta;
Às vezes é tão medonho
O que em real nos apresenta.
Meu pai quis ser feliz
E foi em pouca medida...
Ao deixar a sua raiz
Abraçou a dor da vida.
Uma vida de trabalho,
Alegrias e também tristeza;
Em cada ponto e retalho
Vi brio, amor e firmeza.
Rosa Silva ("Azoriana")
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À memória de Carlos Cândido
Casou com Matilde Correia em 28 de Julho de 1960 na Igreja de Nossa Senhora dos Milagres. Resumo: Em Janeiro de 1975 perdeu os dedos da mão esquerda num acidente de trabalho. Para não deixar de trabalhar, inventou o seu próprio engenho e continuou os seus ofícios como se nada tivesse acontecido.
O polegar foi o único dedo que lhe restou depois de cirurgia reconstrutiva. A “Luva” foto 4, como ele lhe chamava, substituía a função dos outros dedos. Quando a colocava, segurava qualquer objeto por mais pequeno que fosse e, com o “gancho” agarrava firme qualquer objeto. Na parte que correspondia à palma da mão, prendia uma “abraçadeira” onde colocava qualquer cabo, de enxada ou vassoura. Ninguém diria que não tinha dedos porque era rápido na execução das suas tarefas. Foi readmitido ao serviço como pintor.
Findo o exercício efetivo de funções, dedicou-se a outros trabalhos, nomeadamente artesanais, em que com a referida “luva” fazia miniaturas em madeira de: carros de bois foto 1, mobílias de quarto de cama e de jantar foto 2, barcos foto 3, que ofereceu, como recordação do avô, aos seus três netos e neta.
Pai, "Mestre do Arco" p'ra Procissão!
Foi em 11 de Setembro de 1999,
Coincidência das coincidências,
Fará brevemente exatos cinco anos,
Que alindaste o arco com hortênsias.
Mestre de Arco uma vez por ano,
O Mordomo de ti não se esquecia,
Geralmente era um americano,
Que adorava esta grande folia.
Na véspera de os arcos construir,
Reunia-se o pessoal nomeado,
Iam em grupo e sempre a curtir,
Ao mato, em trator, tudo animado.
Varas de eucalipto e a criptoméria,
Tudo material indispensável,
Hortênsias, dálias e outras flores, sem miséria,
Eram "ordens" do Mordomo responsável.
Na sexta ficava tudo separado,
No sábado, logo pela manhã, te levantavas,
P'ra construir o arco embelezado,
Quantas e quantas gaitadas não davas!?
No Domingo, tudo estava prontinho,
Os arcos brilhando de devoção,
A espaços, distribuídos pelo caminho,
Ornavam o desfile da procissão.
Lembro que estes dias para ti,
Eram de muita e muita trabalheira,
Lembro que nem só a ti
Tocava esta ou aquela brincadeira.
Uns comes e bebes ao acabar,
Deixavam o pessoal bem divertido,
Toca de dar foguetes para o ar,
Pois o Arco já estava erguido.
Pai! Três anos que cá não estás,
Mas àqueles que cá estão,
Mostraste que foste capaz,
E estou certa da sua gratidão.
Nossa Senhora dos Milagres, da Serreta,
Proteja todos quantos aqui a veneram,
Louvor e glória à Virgem, é nossa meta,
E nisso os Serretenses imperam.
1 de setembro de 2004