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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1010)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")
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Com os melhores agradecimentos pelas:
1. Entrevista a 2 abril in "Kanal ilha 3"

2. Entrevista a 5 dezembro in "Kanal das Doze"

3. Entrevista a 18 novembro 2023 in "Kanal Açor"

4. Entrevista a 9 março 2025 in "VITEC", por Célia Machado

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Homenagem e Inauguração da campa de Charrua - 14/08/2015

14.08.15 | Rosa Silva ("Azoriana")

Vários cantadores (e tocadores) cantaram na moda da Cantoria e do Pezinho, uma quadra por cada um, respetivamente. A Maria Clara e eu estávamos presentes entre a maioria masculina de veia poética nata da Cantoria Açoriana, dos mais antigos ao mais novo, Valentim Aguiar.

Presidente da Associação dos Cantadores e Tocadores dos Açores, representante da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Junta de Freguesia das Cinco Ribeiras, Liduino Borba e outras entidades, bem como, o neto, esposa e amigos da família de Charrua, entre outras pessoas que gostam desta arte popular genuína. Os intervenientes disseram palavras honrosas para o momento esperado e meritório.

Entre os cantadores estavam: António Mota, Manuel de Fátima, Hélder Pereira, António Mendes, Pedro Beleza, José Fernando, Jorge Sebastião (Pico), Maria Clara, Carlos Sousa "Maurício", John Branco, José Esteves, Valentim Aguiar, Rosa Silva, José Amaral, Samuel Borges, Paulo José Lima, Marcelo Dias, Manuel Vitória "Sardinha", Isidro Lima (chegou mais tarde), João Leonel.

Na moda da Cantoria seguiram-se cantando.

António Mota

Venho cantar ao Charrua,
Que não morreu, meus senhores,
Porque ainda continua
A ser o maior dos Açores.

Manuel de Fátima

José de Sousa Charrua
Que tanto tens cantado
E hoje as pedras da tua rua
Pra todos aí está gravado.

Hélder Pereira

Hoje tiraste o teu véu
Tudo em ti se renova
Estás debruçado no céu
Vendo a tua campa nova.

António Mendes

Aqui canta-se com alegria
No caminho ou na rua,
Matar saudades de quem está na terra fria
Que é o famoso Charrua.

Pedro Beleza

Nesta campa jaz o Charrua
Está deitado lá no fundo
Esta fama vai ser sempre tua
Enquanto o mundo for mundo.

José Fernando

Este Charrua é dos tais
Que o Povo nunca esquece
E hoje não lhe fazemos mais
Do que aquilo que ele merece.

Jorge Sebastião (Pico)

Na derradeira morada sua
A quem rezo e dou flores
A este grande Charrua
Que foi o rei dos cantadores.

Maria Clara
Deus Pai que estás no céu nobre
Abre os portões principais
Pró Charrua ver o que cobre
Agora os seus restos mortais.

Carlos Sousa "Maurício"

Em vida não te dei um abraço
Mas abracei muitos que cá estão
E cada quadra que eu te faço
É como se fosse uma oração.

John Branco

Ó rei da nossa Cultura
Mestre da poesia
Está no fundo desta sepultura
O mais alto da cantoria.

José Esteves

O que é esta sepultura
Alguém me perguntou um dia:
É o trono da Cultura
Com o rei da Cantoria.

Valentim Aguiar

O Charrua Sousa Brasil
Ele cantava com brio
Ainda hoje é o número mil
Em cantigas ao desafio.

Rosa Silva

Ó que linda sepultura,
Valha-me Nossa Senhora!
Porque fica a Cultura
Com o verso da "Aurora" *

* (quer dizer que finalmente fizeram a vontade da Turlu em deixar seus versos na campa do marido, a quem ele chamava "Aurora" e ela a ele de "Sol Nascente")

José Amaral

Aqui descansas em paz
Ó imortal glória
Ficaste e sempre estás
Na página da nossa História.

Samuel Borges

É debaixo desta terra
Deste trono escuro e frio
Que mora a paz da guerra
Das cantigas ao desafio.

Paulo José Lima

"Já fui tigre, já fui fera”
Dizia o Charrua no seu final
Consciente de quem era
No panorama cultural.

Marcelo Dias

Podemos percorrer sol e lua,
A terra e o mar estival,
Para encontrar mais um Charrua
Mas não existe outro igual.

Manuel Vitória ("Sardinha")

Pra mim foste o melhor cantador
Sábio e de fina estampa;
Cada rima uma flor
Viemos pôr na tua campa.

João Leonel

O Charrua nos deixou
A verdade não engana
Foi um vulto que marcou
A Cultura Açoriana.

Fim da 1ª parte

Na moda do Pezinho seguiram-se cantando.

António Mota

No fundo desta sepultura
Há uma ossada, é normal,
Pertencente à criatura
Que tem um nome imortal.

Manuel de Fátima

Na frente de tanta gente
Foste pessoa hospitaleira;
Morreu Camões no Continente
E tu morreste na Terceira.

Hélder Pereira

As tuas quadras ainda embalam
As conversas pela rua
Porque as bocas não se calam
Lembrando o velho Charrua.

António Mendes

Eu saio daqui com vaidade,
Julgo até que estou é na lua,
Só em vir matar esta saudade
Do nosso famoso Charrua.

Pedro Beleza

Eu sei que estás aí deitado,
Por isso, canto em tua memória,
E pra sempre serás gravado
Nos anais da nossa História.

José Fernando

Tiveste de nos deixar,
O morrer é natural,
Quem sabe se pra ires cantar
Pró reino celestial.

Jorge Sebastião (Pico)

A cantar fazia brigas,
Este rei dos cantadores,
Mas deixou suas cantigas
Nas nove ilhas dos Açores.

Maria Clara

Terceira do teu coração
Terra aonde tu crescias,
Se tivesse um Panteão
Era pra lá que tu ias.

Carlos Sousa "Maurício"

Tu aqui foste sepultado
Mesmo aqui à minha frente,
E pra sempre estarás guardado
Na memória da tua gente.

John Branco

Estabelece-se um critério
Pra quem morre e é especial
Como o Charrua este cemitério
É um Panteão Nacional.

José Esteves

É cantando que exalto
O mestre dos mestres da rima,
Canto-te aqui do alto
Enquanto me escutas de cima.

Valentim Aguiar

É aqui que estás sepultado
E vejo as bandeiras
Mas ficarás sempre lembrado
Nas belas Cinco Ribeiras.

Rosa Silva

Eu vim aqui com muito afeto
Trazer-te rosas de alegria;
Cumprimentar também teu neto
E os amigos da Cantoria.

José Amaral

Eu aqui vou-te deixar
Ó meu rei do improviso
E apenas vou-te encontrar
Só no reino do Paraíso.

Samuel Borges

Nasce o sol e morre a lua,
Morre o velho, nasce o novo,
Mas o nome de Charrua
Não morre nas bocas do Povo.

Paulo José Lima

Deixaste tantos valores
Nas tuas quadras rimadas;
Escola prós cantadores
Seguirem tuas pisadas.

Marcelo Dias

A tua fama ainda brilha
Cantor que não se pode igualar;
Que estejas no céu com tua filha
E com a Senhora do Pilar.

Manuel Vitória ("Sardinha")

Da rima foste uma raiz
Talvez o rei das poesias,
Ainda hoje ninguém diz
Metade daquilo que dizias.

Isidro Lima

Fizeste tanta cantoria,
Foste poeta, ó Charrua,
Ainda mesmo debaixo da terra fria
A tua fama continua.

João Leonel

Deus a contas te chamou,
Contas pra dar quem não têm?!
Se Lázaro ressuscitou
Devias ressuscitar também!

Fim

Nota: Peço desculpa se algum verso tem falhas. Se alguém encontrar alguma falha é favor avisar-me que farei a correção. De qualquer forma seria muito importante fazer uma brochura para memorizar textualmente esta efeméride.

Agora digo eu:

Tudo merece o Charrua
E os amigos da Cantoria
Em cada verso atua
A grandeza de um dia.

Charrua teve vantagem
Porque amou até morrer
Na sepultura a imagem
Que fica pra gente ver.

Os versos da sua "Aurora"
Turlu que também me encanta
Pena que não teve hora
De ter uma beleza tanta.

Beleza de sepultura
Com vontade do divino
Fez-se tudo pela Cultura
Com tantos e Liduíno.

Liduíno que bem falou
É nosso historiador
Seu olhar também mostrou
Que é digno de louvor.

E louvemos outros mais
Quer da ilha ou Continente
José Fonseca é dos tais
Que louva também a gente.

Estou certa que ele gosta
Desta escrita que captei
No livro já se aposta
E a pensar tudo anotei.

A nossa Associação
De cantadores e tocadores
Merece uma ovação
Por honrar improvisadores.

Rosa Silva ("Azoriana")

Homenagem ao Charrua - 14/08/2015

14.08.15 | Rosa Silva ("Azoriana")

Opinião

Hélio Vieira


Homenagem a Charrua

Por iniciativa da Associação de Cantadores e Tocadores ao Desafio dos Açores vai decorrer hoje, no cemitério das Cinco Ribeiras, uma homenagem a José de Sousa Brasil, conhecido como Charrua.

Considerado por muitos como a figura maior da cantoria ao desafio dos Açores, Charrua foi também um grande poeta popular, estando parte do seu espólio depositado na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo.

Natural das Cinco Ribeiras, Charrua nasceu a 24 de junho de 1910 e faleceu e falecei a 05 de janeiro de 1987.

Embora não tenha completado a escolaridade básica, Charrua interessou-se pela leitura de autores como Camões, Camilo Castelo Branco, João de Deus, Guerras Junqueiro, Cesário Verde, entre outros.

Esse contacto com autores da literatura romântica terá sido determinante para o estilo e sentido poético que sempre empregou nas cantigas ao desafio que deixou nos terreiros desde 1927, ano de estreia nas cantigas.

Sem perder a sua matriz de cantador popular, Charrua procurou ir sempre além do tempo e do espaço em que estava inserido por isso sempre foi admirado.

O facto de se manter durante muitos anos um relacionamento amoroso com Maria Angelina de Sousa (Trulu), outra figura mítica das cantigas ao desafio, também teve influência na sua singularidade. Nesse âmbito, merece realce o facto de Charrua e Trulu terem casado quando ambos estavam viúvos e com mais de 60 anos de idade.

Ao longo dos últimos anos, Charrua tem sido alvo de várias e justas homenagens com a publicação de livros que enaltecem o seu percurso singular de poeta popular.

Até há pouco tempo esteve sepultado numa campa rasa do Cemitério das Cinco Ribeiras sem qualquer referência. A partir de hoje, será possível localizar facilmente a última morada de um dos mais importantes poetas populares dos Açores.

Fonte: Diário Insular, de hoje, SEXTA o 14.AGO.2015

 

Restos mortais sepultados em campa no cemitério das Cinco Ribeiras

 

Cantadores e tocadores ao Desafio
promovem homenagem a Charrua

 

José de Sousa Brasil, conhecido como Charrua, vai ser homenageado pela Associação de Cantadores ao Desafio dos Açores.

A homenagem terá lugar hoje, pelas 19h00, no cemitério das Cinco Ribeiras, com uma nova sepultura onde estão os restos mortais de Charrua.

O presidente da Associação de Cantadores e Tocadores ao Desafio dos Açores, José Santos, disse ontem ao DI que a nova campa "pretende dignificar o espaço onde repousam os restos mortais daquele que é, unanimidade, considerado como o maior cantador açoriano de sempre".

José Santos referiu que Charrua foi sepultado numa "campa rasa" que foi, posteriormente, adquirida pela família de uma pessoa que foi suputada no mesmo espaço.

"Foi possível fazer a transladação dos restos mortais dessa pessoa para o cemitério de Angra do Heroísmo, de modo a que a campa pudesse ser adquirida pela nossa associação. Graças ao apoio de diversas entidades e pessoas que gostam da cantoria ao desafio foi possível concretizar esta homenagem", referiu.

Resolvidos os entraves legais com a colaboração das juntas de freguesia das Cinco Ribeiras e de São Bento, a Associação de Cantadores e Tocadores ao Desafio dos Açores decidiu construir uma campa em mármore onde para além das referências a Charrua se pode ler alguns dos seus versos.

"Convidamos todos os cantadores e tocadores que queiram participar no Pezinho de homenagem a Charrua, bem como, todas as pessoas interessadas em participar na homenagem", referiu José Santos.

Pelas 20h30, haverá um convívio no Retiro dos Cantadores e Tocadores, na Vinha Brava, com a realização de cantorias.

Natural das Cinco Ribeiras, onde nasceu a 24 de junho de 1910, José de Sousa Brasil começou a participar em cantorias em 1927, ficando conhecido como Charrua.

Durante o seu percurso como cantador, Charrua destacou-se pelo facto de fazer versos com sentido poético, o que não era muito habitual entre os cantadores da sua geração.

Manteve durante muitos anos um relacionamento amoroso com Maria Angelina de Sousa (Trulu), outra destacada figura das cantigas ao desafio, com quem casou, em dezembro de 1973, quando ambos estavam viúvos tendo vivido durante muitos anos nos Estados Unidos.

Charrua faleceu a 05 de janeiro de 1987.

 

Fonte: Diário Insular