Homenagem e Inauguração da campa de Charrua - 14/08/2015
Vários cantadores (e tocadores) cantaram na moda da Cantoria e do Pezinho, uma quadra por cada um, respetivamente. A Maria Clara e eu estávamos presentes entre a maioria masculina de veia poética nata da Cantoria Açoriana, dos mais antigos ao mais novo, Valentim Aguiar.
Presidente da Associação dos Cantadores e Tocadores dos Açores, representante da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Junta de Freguesia das Cinco Ribeiras, Liduino Borba e outras entidades, bem como, o neto, esposa e amigos da família de Charrua, entre outras pessoas que gostam desta arte popular genuína. Os intervenientes disseram palavras honrosas para o momento esperado e meritório.
Entre os cantadores estavam: António Mota, Manuel de Fátima, Hélder Pereira, António Mendes, Pedro Beleza, José Fernando, Jorge Sebastião (Pico), Maria Clara, Carlos Sousa "Maurício", John Branco, José Esteves, Valentim Aguiar, Rosa Silva, José Amaral, Samuel Borges, Paulo José Lima, Marcelo Dias, Manuel Vitória "Sardinha", Isidro Lima (chegou mais tarde), João Leonel.
Na moda da Cantoria seguiram-se cantando.
António Mota
Venho cantar ao Charrua,
Que não morreu, meus senhores,
Porque ainda continua
A ser o maior dos Açores.
Manuel de Fátima
José de Sousa Charrua
Que tanto tens cantado
E hoje as pedras da tua rua
Pra todos aí está gravado.
Hélder Pereira
Hoje tiraste o teu véu
Tudo em ti se renova
Estás debruçado no céu
Vendo a tua campa nova.
António Mendes
Aqui canta-se com alegria
No caminho ou na rua,
Matar saudades de quem está na terra fria
Que é o famoso Charrua.
Pedro Beleza
Nesta campa jaz o Charrua
Está deitado lá no fundo
Esta fama vai ser sempre tua
Enquanto o mundo for mundo.
José Fernando
Este Charrua é dos tais
Que o Povo nunca esquece
E hoje não lhe fazemos mais
Do que aquilo que ele merece.
Jorge Sebastião (Pico)
Na derradeira morada sua
A quem rezo e dou flores
A este grande Charrua
Que foi o rei dos cantadores.
Maria Clara
Deus Pai que estás no céu nobre
Abre os portões principais
Pró Charrua ver o que cobre
Agora os seus restos mortais.
Carlos Sousa "Maurício"
Em vida não te dei um abraço
Mas abracei muitos que cá estão
E cada quadra que eu te faço
É como se fosse uma oração.
John Branco
Ó rei da nossa Cultura
Mestre da poesia
Está no fundo desta sepultura
O mais alto da cantoria.
José Esteves
O que é esta sepultura
Alguém me perguntou um dia:
É o trono da Cultura
Com o rei da Cantoria.
Valentim Aguiar
O Charrua Sousa Brasil
Ele cantava com brio
Ainda hoje é o número mil
Em cantigas ao desafio.
Rosa Silva
Ó que linda sepultura,
Valha-me Nossa Senhora!
Porque fica a Cultura
Com o verso da "Aurora" *
* (quer dizer que finalmente fizeram a vontade da Turlu em deixar seus versos na campa do marido, a quem ele chamava "Aurora" e ela a ele de "Sol Nascente")
José Amaral
Aqui descansas em paz
Ó imortal glória
Ficaste e sempre estás
Na página da nossa História.
Samuel Borges
É debaixo desta terra
Deste trono escuro e frio
Que mora a paz da guerra
Das cantigas ao desafio.
Paulo José Lima
"Já fui tigre, já fui fera”
Dizia o Charrua no seu final
Consciente de quem era
No panorama cultural.
Marcelo Dias
Podemos percorrer sol e lua,
A terra e o mar estival,
Para encontrar mais um Charrua
Mas não existe outro igual.
Manuel Vitória ("Sardinha")
Pra mim foste o melhor cantador
Sábio e de fina estampa;
Cada rima uma flor
Viemos pôr na tua campa.
João Leonel
O Charrua nos deixou
A verdade não engana
Foi um vulto que marcou
A Cultura Açoriana.
Fim da 1ª parte
Na moda do Pezinho seguiram-se cantando.
António Mota
No fundo desta sepultura
Há uma ossada, é normal,
Pertencente à criatura
Que tem um nome imortal.
Manuel de Fátima
Na frente de tanta gente
Foste pessoa hospitaleira;
Morreu Camões no Continente
E tu morreste na Terceira.
Hélder Pereira
As tuas quadras ainda embalam
As conversas pela rua
Porque as bocas não se calam
Lembrando o velho Charrua.
António Mendes
Eu saio daqui com vaidade,
Julgo até que estou é na lua,
Só em vir matar esta saudade
Do nosso famoso Charrua.
Pedro Beleza
Eu sei que estás aí deitado,
Por isso, canto em tua memória,
E pra sempre serás gravado
Nos anais da nossa História.
José Fernando
Tiveste de nos deixar,
O morrer é natural,
Quem sabe se pra ires cantar
Pró reino celestial.
Jorge Sebastião (Pico)
A cantar fazia brigas,
Este rei dos cantadores,
Mas deixou suas cantigas
Nas nove ilhas dos Açores.
Maria Clara
Terceira do teu coração
Terra aonde tu crescias,
Se tivesse um Panteão
Era pra lá que tu ias.
Carlos Sousa "Maurício"
Tu aqui foste sepultado
Mesmo aqui à minha frente,
E pra sempre estarás guardado
Na memória da tua gente.
John Branco
Estabelece-se um critério
Pra quem morre e é especial
Como o Charrua este cemitério
É um Panteão Nacional.
José Esteves
É cantando que exalto
O mestre dos mestres da rima,
Canto-te aqui do alto
Enquanto me escutas de cima.
Valentim Aguiar
É aqui que estás sepultado
E vejo as bandeiras
Mas ficarás sempre lembrado
Nas belas Cinco Ribeiras.
Rosa Silva
Eu vim aqui com muito afeto
Trazer-te rosas de alegria;
Cumprimentar também teu neto
E os amigos da Cantoria.
José Amaral
Eu aqui vou-te deixar
Ó meu rei do improviso
E apenas vou-te encontrar
Só no reino do Paraíso.
Samuel Borges
Nasce o sol e morre a lua,
Morre o velho, nasce o novo,
Mas o nome de Charrua
Não morre nas bocas do Povo.
Paulo José Lima
Deixaste tantos valores
Nas tuas quadras rimadas;
Escola prós cantadores
Seguirem tuas pisadas.
Marcelo Dias
A tua fama ainda brilha
Cantor que não se pode igualar;
Que estejas no céu com tua filha
E com a Senhora do Pilar.
Manuel Vitória ("Sardinha")
Da rima foste uma raiz
Talvez o rei das poesias,
Ainda hoje ninguém diz
Metade daquilo que dizias.
Isidro Lima
Fizeste tanta cantoria,
Foste poeta, ó Charrua,
Ainda mesmo debaixo da terra fria
A tua fama continua.
João Leonel
Deus a contas te chamou,
Contas pra dar quem não têm?!
Se Lázaro ressuscitou
Devias ressuscitar também!
Fim
Nota: Peço desculpa se algum verso tem falhas. Se alguém encontrar alguma falha é favor avisar-me que farei a correção. De qualquer forma seria muito importante fazer uma brochura para memorizar textualmente esta efeméride.
Agora digo eu:
Tudo merece o Charrua
E os amigos da Cantoria
Em cada verso atua
A grandeza de um dia.
Charrua teve vantagem
Porque amou até morrer
Na sepultura a imagem
Que fica pra gente ver.
Os versos da sua "Aurora"
Turlu que também me encanta
Pena que não teve hora
De ter uma beleza tanta.
Beleza de sepultura
Com vontade do divino
Fez-se tudo pela Cultura
Com tantos e Liduíno.
Liduíno que bem falou
É nosso historiador
Seu olhar também mostrou
Que é digno de louvor.
E louvemos outros mais
Quer da ilha ou Continente
José Fonseca é dos tais
Que louva também a gente.
Estou certa que ele gosta
Desta escrita que captei
No livro já se aposta
E a pensar tudo anotei.
A nossa Associação
De cantadores e tocadores
Merece uma ovação
Por honrar improvisadores.
Rosa Silva ("Azoriana")