Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Pezinho de Luís Bretão em memória de Marcelino Gaspar, falecido em junho de 2015.
Foi com grande emoção que Luís Bretão falou do seu braço direito, o grande amigo Marcelino Gaspar, que durante dezasseis anos o ajudou na organização do seu Pezinho, principalmente na parte que diz respeito aos “sacos de Luís Bretão”, oferta que não pode faltar como forma de presente aos cantadores que cantam uma (ou duas quadras) na moda do Pezinho, no seu Museu, ou como o próprio disse desta vez, a catedral dos cantadores.
É, para mim, uma honra também responder ao convite que o amigo Luís Bretão me faz desde que encetei conversa telefónica com ele, no ano de 2008, fez agora sete anos.
Nesta quinta-feira de setembro, dia 24, estava ladeado na sua mesa de honra, por José Fonseca de Sousa, amigo dos Açores e vindo do Continente propositadamente para estar com Luís Bretão e família no Pezinho que junta um número extraordinário de amigos ou outros convivas que encontram a porta sempre aberta a convidar à entrada, e, do outro lado, estava Roberto Gaspar, em representação do falecido pai - Marcelino Gaspar (uma pessoa fantástica, disse Luís Bretão a todos).
Este foi, sem dúvida alguma, um Pezinho para ser registado na história da Festa do Império de São Carlos, na memória coletiva e no coração de todos os presentes no Museu de Luís Bretão que esteve à cunha, para confraternização e audição do discurso do próprio e das cantigas de um grande punhado de cantadores e tocadores, bem como da Filarmónica que acompanhava o grupo.
Passo a dar-vos, agora, um relato escrito das cantigas que foram tecidas durante a presença dos cantadores, quer integrados no Pezinho da Festa, quer convidados e amigos de Luís Bretão. Todos são bem-vindos! Peço desculpa se alguma das quadras seguintes não estiver conforme o que foi cantado e isso só se deverá a não ter percebido bem o verso ou palavra. Vou ser o mais fiel possível à audição da gravação que foi feita, tanto por Fernando Pereira como por Hildeberto Franco. O primeiro é assíduo a este evento, e o segundo penso que terá sido a estreia. A rádio “Voz dos Açores” também se fez representar com Ildeberto Rocha.
“É muito bom ter amigos. A todos, obrigado pela vossa amizade! Muito obrigado”, disse Luís Bretão.
Cantadores por ordem de atuação e com a fita de recordação do Pezinho (Bruno Oliveira e Valentim Aguiar foram estreantes):
António Mota
E como é natural As minhas cantigas vão Desta vez na catedral Da Casa do Luís Bretão.
José Eliseu
Por tudo o que eu já senti E as minhas memórias consulto Cantarmos Pezinho aqui É quase um momento de culto.
Ludgero Vieira
Agora um brinde eu proponho, Acreditem que é verdade, Se a amizade é um sonho Tu tornaste-a realidade.
Valentim Aguiar
É ao Divino Espírito Santo Esteja no teu coração E por ser a primeira vez que canto Na Casa do Luís Bretão.
John Branco
Canto a Luísa e Luís Bretão E ao Duarte com amizade, Porque formam uma união Como a Santíssima Trindade.
José Fernando
Do céu tu recebeste a graça, O alívio prás tuas dores; Que o Divino te faça O que fazes p’los cantadores.
Marcelo Dias
Cantar em Casa do Luís Bretão É sempre o nosso destino, Mas cada quadra seja uma oração Por alma do Marcelino.
Paulo José Lima
O Pezinho do Luís Bretão É um historial de coisas antigas, Um arraial de tradição, Um solar para as cantigas.
Liduíno Borba
Boa noite meus senhores E a todos que aqui estão, O dia de alguns cantadores Da segunda divisão.
Fábio Ourique
O Luís é pessoa pura, Homem de bom coração, Quando se fala em Cultura Fala-se em Luís Bretão.
Rosa Silva
Que o meu verso seja um hino Ao amigo Luís Bretão, E em memória de Marcelino Que tanto lhe deitou a mão.
Bruno Oliveira
E o Luís é homem forte, Amante da Cantoria, E se eu mandasse na morte O Luís nunca morria.
Eduíno Ornelas
Pedi a S. Francisco Xavier Na viagem me botasse a mão Pra ver teu filho e a tua mulher E cantar para ti Luís Bretão.
Roberto Toledo
Saúdo neste serão, Saúdo com doçura, Saúdo o Luís Bretão Que é o rei da Cultura.
João Leonel
Tu és arado que lavras, És vaga que tem marés; Quem me dera tem palavras Pra descrever tu quem és.
João Ângelo
A Casa do Senhor Bretão Com o enchente que aqui está Parece na Base um avião Que veio da América ou Canadá.
É costume ouvir dizer, sempre que se fazem peditórios para a Festa da Serreta, que se realiza na segunda semana de setembro de cada ano, que o Santuário é “rico”, que tem dinheiro para fazer as festas de âmbito civil ou profano e podia dar um grande quinhão para todos os dias da festa noturna. E porque não o tem feito ou faz?! Espero um milagre!
Se o faz com algum “donativo” é se tem ordem superior ou vontade de quem comanda os destinos das promessas. Cada pessoa que dá ouro em brincos, anéis, etc e dinheiro em numerário ou outro tipo de valores é porque passou por grande desgraça e se despoja dos bens materiais como forma de agradecimento a Nossa Senhora dos Milagres pela graça obtida. Usar esse dinheiro para a festa profana é como que fazer daquela ação um divertimento, que o próprio peregrino não tinha essa intenção. Penso que o pagador da promessa não irá ficar satisfeito de ver a sua oferta por outros caminhos. Enfim, a Festa da Serreta propriamente dita realiza-se de sábado a quarta-feira, conforme a tradição. A exceção tem acontecido na quinta-feira com uma vacada que alguém resolva patrocinar.
Deixa ver se explico bem a mensagem que quero passar ao povo da ilha, da freguesia e fora dela, nomeadamente aos emigrantes, “filhos” da freguesia da Serreta:
“Vamos trabalhar por Nossa Senhora” é o lema que constantemente me assalta a mente.
Para o ano de 2016 fui nomeada mordoma da festa, com mais três elementos: Paulo Simão, Sónia Melo e Dinarte Pavão.
Seja com rifas, seja com festivais (alcatras disto ou daquilo, sopas, etc.), ofertas, donativos e patrocínios diversos, são ideias para o melhor caminho a procurar para financiamento da festa diurna e noturna. Vejamos:
* No sábado é tradição haver o concerto da Filarmónica Recreio Serretense e o fogo preso.
* No domingoda missa solene e da procissão da Nossa Senhora dos Milagres, a parte noturna é patrocinada por apoios de quem quer ajudar a ter algo para diversão.
* Na tradicional segunda-feira(e que vem tendo despacho governamental para tolerância de ponto para a ilha inteira) há a tourada na praça, abrilhantada pela Filarmónica Recreio Serretense. Há custos que também tem de ter apoios de aficionados ou não. À noite convém continuar a divertir o povo que não se quer triste porque já bem basta alguns dias tristes do ano.
* Na terça-feiraé ocasião também para o tradicional Bodo-de-Leite, com o que melhor se puder arranjar, mas que tenha alguns animais para serem benzidos pelo Reitor do Santuário, ou então nada feito. Da parte da tarde há a procissão de Santo António com a distribuição de merendeiras (“brindeiras”) e a brilhante atuação da Filarmónica de Recreio Serretense. Claro que à noite é necessário divertir o público que espera sempre ter algo de jeito para ver e ouvir.
* Na quarta-feira, vem de longa data, a tourada na via pública, junto ao Santuário, com um arraial marcado com os riscos nos lugares habituais e em todos as canadas, início e fim da mesma, e com toda a espécie de licenças e taxas, segundo ouço falar. Nunca estive integrada numa ação destas mas vai caber-me, junto com os restantes mordomos, essa tarefa que custa mais a quem a dá do que a quem a vê.
* Se for para continuar com uma vacada na quinta-feirasó se for implorada e patrocinada em tudo, porque é sempre mais a gosto dos emigrantes que voltam à sua freguesia natal e estão saudosos de ver “uma brincadeira” na praça da Serreta.
O fim é que é nostálgico… Vê-se a Serreta cheia e barulhenta e depois fica o silêncio de casas, ruas e pessoas. Talvez só fiquem descansados os que foram nomeados mordomos, depois de tanto fazer para ter uma festa apresentável e digna de boa lembrança, e com caminhos varridos de toda a espécie do que se “atira ao caminho”. Precisa zelar-se pelo ambiente e não lixá-lo.
Valha-nos Nossa Senhora dos Milagrese os que sabem orientar-nosna execução de tudo a gosto do freguês, por já terem feito as mesmas tarefas de angariação de fundos, em anos anteriores.
O “Pão-por-Deus”, o S. Martinho, o Natal, o Carnaval, a Páscoa, os Bodos do Espírito Santo, o Dia da Freguesia, a oferta dos “filhos” emigrados da freguesia, os peditórios anuais, etc, serão sempre oportunidades de se fazer algo a favor da Festa da freguesia mais pequena na população e maior na devoção.
O que de ti desprenderes Mesmo em pouca quantidade Serve para ofereceres À nossa necessidade E serve para receberes Honras da localidade!
Muito há para contar depois desta ausência feliz. Em vez de palavras, troco-as por imagens que podem aceder através do meu Kanal, com o que consegui captar através do meu telemóvel e com a emoção contente. Estive ausente para o lado ocidental da ilha Terceira, escusado será escrever que foi para a Serreta e sua Festa anual, na segunda semana de setembro.
A maior das surpresas de uma terça-feira p.p. é que fui nomeada mordoma das Festas de 2016, junto com três elementos: Paulo Simão, Sónia Melo e Dinarte Pavão. Ideias não faltam, tradições a manter, trabalho nos espera. A Festa tem de se fazer com a colaboração dos residentes (poucos), dos amigos da Serreta e quem de nós se lembrar.
Uma coisa é certa... a nossa porta está aberta para vos receber.
Aos onze dias do mês de setembro do ano de dois mil e quinze chegou-me à mão e visão, por via dos CTT de Angra do Heroísmo, um livro de noventa e seis páginas, cujo título é “Histórias d’Assombração”, do autor Luiz Fagundes Duarte, que, por sorte, é meu conterrâneo desde que calcorreei os mesmos caminhos e ruelas que ele, pese embora a faixa etária ser um nadica diferente.
Logo de início, página 14 (1+4=5) encontrei algo que me fez pensar. A data de março de 1986, quatro meses antes de o meu primogénito nascer. Tem data de 22 a 30 de março e o primogénito nasceu a 25 de setembro. Deu-me logo um toque no coração. Que distraída estava eu para não saber destas escritas que tanto gosto de ler com todas as atenções.
E o resto? Ai, meu Deus e Nossa Senhora! À página 19 já as lágrimas me impediam de descortinar as letrinhas miúdas para a minha vista que se vai tornando fraca e pouca. Estou como que a ver o “filme” todo do que se passava noutras eras com a devoção a Nossa Senhora dos Milagres. Tudo escrito de forma cénica e verdadeira, como esta parte “era a senhora grande de corpo pequeno, a imagem pobre de riquezas adornada” (página 20).
Daqui para a frente até à página 28 li com atenção desmedida. Maravilhei-me como quem faz uma “descoberta” de um tesouro. Percebi, finalmente, a importância do que se deixa escrito para os vindouros e, igualmente, percebi o que “mais conto menos conto” ouvia dizer dos acontecimentos seculares que também gostava de vasculhar.
Na próxima parte, não menos interessante mas mais intrigante, continuei ávida por conhecer mais estórias… e ri-me com a página 30 (“livros na Serreta eram coisa de espanto”) noutros tempos longínquos, já se sabe. E aquela parte de “evoluções das tripas da terra” foi uma expressão de mestre, do Dr. Fagundes Duarte.
Com a mesma idade de Jesus, estagnei na mesma página 33: uma morte na Serreta! Assassínio, quem diria!? Tenho que continuar a ler… Ufa!… É esta a lava de escrita que nos faz rebentar de assombro… Continuo a leitura, é impossível parar agora, mesmo depois de apreciar a expressão poética “uma baixa à flor das ondas”. Ei que coisa linda! Ai rir que apetece na página 38… e só parar a risada na 42… Veremos se vem mais atração nas restantes.
Ai palavras que aprendi a escrever certinhas e não de ouvido… Assim é que é. Aprender até morrer.
Já em avançada leitura estremeci eu “um filho reconhece sempre a voz da mãe”… é certo, confirmo! Tenho de perceber os "sinais" da minha falecida mãe, é certo. (página 64, número corresponde aos dois últimos dígitos do ano em que eu nasci)…
A da terra tremer durante o mês de “um maio” e da procissão dos abalos sempre de 30 do mesmo mês, eu sabia, mas a expressão de “arrotos da terra” essa é novidade poética, com um “brilho” na leitura. E também foi em maio de 1760 que a Capelinha de Nossa Senhora dos Milagres surgiu na “nossa” Fajã, fez em maio de 2015 os seus 255 anos. Ninguém se importará, pois não? Fagundes Duarte e eu e mais alguém, tenho a certeza, importamo-nos e muito. Só não sei do araçaleiro que seria suposto ainda subsistir a tudo e todas as intempéries.
Querido Fagundes Duarte posso chamar-lhe assim, posso? Amei o seu livro! Adorei! Seja ficcionado ou não, seja pequenino, seja o que lhe quiserem atribuir, o que sei é que acabei com gotas escorrendo do olhar da lembrança de uma terra que me orgulha e muito de ter tido um berço na Canada da Vassoura, com um mar inteiro na minha frente e uma serra pequenina no costado.
Da próxima vez que nos virmos, frente a frente, quero dar-lhe um abraço daqueles que se sente o coração a pulsar de satisfação por ter lido as suas “Histórias d’Assombração”, tudo por causa de um tal Tavares...
Viva quem dá sua voz À rádio açoriana Com a língua dos avós, Genuína e soberana.
"Do Atlântico para o mundo" É o lema estruturante Que na verdade é no fundo Séquito do emigrante.
Viva quem faz o bem Sem sequer olhar a quem Com Açores em sintonia.
Santa Bárbara, Terceira, Para quem ouve é primeira: Voz dos Açores é alegria!
Rosa Silva ("Azoriana")
Atenção: A "Rádio Voz dos Açores" e o programa "Voz dos Açores", de Euclides Álvares estará em direto no sábado (à noite) e domingo da Festa da Serreta 2015 acompanhando o evento maior da Senhora dos Milagres. Fui convidada para acompanhar na emissão o amigo Euclides Álvares que está de férias na sua terra natal - Santa Bárbara, da ilha Terceira.
Se gostas do que é nosso e que se ouve além fronteiras sintoniza a Diáspora Group: Rádio Portugal USA e/ou a Rádio Voz dos Açores, nos diretos quase, quase em emissão (12 e 13 de setembro de 2015)