Escrita
Debulhei versos como quem canta
E agora calada me manifesto
Saciei-me de tudo e no resto
Nenhum verso ecoa e me espanta.
Aquela aragem já não se levanta
Na boa rima que à sede empresto
E mesmo assim o verso é tão lesto
Na ventania que adoça a garganta.
Preza-me o dom que ainda tenho
Doado para me dar mais prazer
Em tudo o que escrevo com empenho.
Fica a relíquia - sem despedida:
Escrita não se pode desfazer
Ela vive para além da vida.
Rosa Silva ("Azoriana")