Perfume da palavra
A arte de escrever,
Meus amigos podem crer,
Não é algo incomum.
No entanto, se há empenho,
Adequa-se ao desenho
Da alma de cada um.
Quem gostar do que escreve,
Mesmo que seja ao de leve,
É meio caminho tido
P'ra se dar sem receber,
Numa oferta que é de ler,
Tudo o que tem produzido.
Se comunga inspiração,
E abraça a ocasião,
Nascem odes encantadas:
Basta ser o que se é,
Deixar voar sua fé,
Nas linhas que são criadas.
Pode ser mais popular,
Erudito ou singular,
Autenticidade pura;
Quem escreve o bem que sente,
Se pensado ou num repente,
Faz-se em alma da cultura.
Há mensagem que encima,
Ou serve a chave da rima,
Toada que vem no fim...
Por mim gosto de escutar
O que o coração ditar
Na hora que sai de mim.
Urge agora vos dizer
Que não vale acontecer
A frontal comparação:
Nem é bom, nem é ruim...
Nem as flores de um jardim
Tem exata floração.
Dizer mais até me atrevo,
E digo mais do que devo,
Porque o dever me assiste:
Quem brotar da sua lavra
O perfume da palavra
Certamente que ela persiste.
A palavra auspiciosa
Tem o perfume de rosa
No peito da escritura;
Regue essa palavra então
Com a fonte de inspiração
No corpo da assinatura.
Rosa Silva ("Azoriana")
P. S. O título só veio após as oito sextilhas.