Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana).
Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1
Ver os meus três filhos juntos, sentados numa mesa de um restaurante, é um prazer imenso, um orgulho intenso, e um amor solene. Todos adultos faz-me pensar que estou no troço final de uma meta quase atingida. Vê-los juntos é uma alegria… e a saudade já paira no meu íntimo, antes mesmo da minha partida última.
Aida Alexandra, Luís Carlos e Paulo Filipe estavam divertidos e divertiram-me. É bom estar com eles (12/11/2017). Que pena não voltar atrás e refazer o que de menos bom possa ter feito. O resultado, por outro lado, está à vista: são as flores do meu jardim de vida. São eles que mimam o meu presente.
Declaro-me uma mãe feliz. A distância nunca será um afastamento mas sim um maior aconchego ao coração e uma permanência no pensamento.
Todos seguimos as nossas vidas e cada um de nós tem uma missão. Que a nossa seja atingida em pleno.
Espero que estas linhas o vão encontrar de boa saúde. Mesmo sem saber sua filiação, residência, habilitações académicas e profissionais, estado civil, e todas essas identidades pessoais, sei que é fã de corrida, bibliotecas e blogs. Quem não conhece Pedro Neves nem que seja pela Ajuda de Blogs e interesse por quem está inscrito no maior Serviço de Apontadores Portugueses?!
Nesta data, sexta-feira, 3 de novembro do ano de 2017, dia de aniversário da minha querida irmã, lembrei-me de si e de todo o seu zelo e dedicação a uma causa que é de todos os que lançam dedos às teclas e vão lançando obra para o mundo virtual que até tem permissão para ser real. Foi o meu caso. Em 2 de abril de 2011 lancei o meu primeiro livro graças à inspiração que fui tendo e à cortesia dos Blogs do SAPO. Muito obrigada amigo!
Quem sabe me responderá a esta cartinha eletrónica e até me confidenciará se tem família, se conhece as ilhas dos Açores, se do que eu vou escrevendo lhe dá vontade de conhecer a ilha lilás: a Terceira de Jesus, das Festas e das Touradas!
Caro Pedro, sei que não tem tempo a perder mas antes que a vida se nos aparte quero deixar-lhe a minha homenagem por tudo junto, pela sua atenção, sorriso e colaboração.
Na freguesia da Serreta, e do que lembro da nossa casa, a matança do porco era a maior folia do ano e a abundância no lar. Daquele porco, alimentado com as chamadas "lavagens" (restos de comida e alguma farinha à mistura), milho, etc., tinha-se o produto para sustentar a família.
Convidava-se a família e parentes acostumados a essas grandes manobras e a casa ficava numa alegria nesse dia.
Minha mãe e minha avó escondiam-se na hora da faca fazer o último suspiro do bicho. Eu é que era chamada para aparar o líquido vermelho no alguidar com sal no fundo. Eu ia mas confesso que me arrepiava um pouco, não fosse o bicho revoltar-se e atingir-me em cheio. Claro que isso não era permitido porque os braços robustos dos homens o aguentavam fortemente em cima do banco de madeira feito pelo meu pai, que era também o marchante.
Depois era a tarefa divertida do lavar as tripas do porco, cuja bexiga depois de relativamente limpa, se enchia como um balão para servir para a "canalha" jogar. O rabo do porco era a mascote para pendurar na traseira do marchante. A graça era ele nem desconfiar que ele lá estava para fazer a risada geral.
Ainda havia tempo para a vizinhança convidada vir ver o toucinho do porco dependurado no tirante, de cabeça para baixo, ao contrário do que se faz na ilha do Pico.
Bolachas, biscoitos, anis, licores, aguardente, vinho abafado e, por vezes, algum bolo faziam as delícias dos convivas e da mesa um perfume apetecível inundava as nossas narinas que também tinham outros odores mais fortes e próprios daquela tarefa de todos.
Torresmos de toucinho, de carne, morcela, sarapatel, enchiam as mesas no próprio dia e no seguinte. Adorava quando a minha madrinha do batismo, Maria das Neves, me deixava fazer a réplica pequenina do lume de lenha, onde eu colocava uma lata de atum vazia com um torresminho a derreter, como que a imitar a sua árdua e boa tarefa: derreter os torresmos temperados à sua maneira e com uma dose de leite para que os torresmos ficassem dourados, bem ao gosto da minha avó materna.
Saudades?! Talvez. Não tanto de manusear as carnes mas de ter a família mais chegada junta na nossa casa e viver toda a euforia que eu própria tinha e transbordava.
Vou terminar este pequeno historial porque já sinto uma lágrima a querer rolar-me no rosto. Só queria voltar atrás por um dia: o dia de todos felizes como santos.