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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1006)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")
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Com os melhores agradecimentos pelas:
1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3"

2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze"

3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor"

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Esclerose Múltipla na primeira linha

29.11.18 | Rosa Silva ("Azoriana")

(um texto verdadeiro por conhecimento familiar para o dia nacional a 4 de dezembro)

Esclerose Múltipla foi a enfermidade que levou a minha mãe ao ponto de não reação. Tudo foi adormecendo ao longo de trinta e nove anos… o que ela dizia eu compreendia: "é uma dormência, um formigueiro que me toma o corpo todo". Ficou dependente de outrem (a filha mais nova) para os cuidados mínimos e essenciais. Perdera quase todos os sentidos incluindo a visão. A palpação surtia apenas no que era formato habitual. Moldava a caneca do café com leite matinal, a colher ia torta ao caminho da boca, mastigar ou engolir um sacrifício necessário, um cortejo deficiente da mão para a perna sem força para pousar o pé na cadeira de rodas. Em idade mais avançada (pós sessenta anos) a cadeira foi substituída pela cama quase sempre. A cama era o estado de todas as ações do corpo humano, um peso "morto" entre lágrimas e orações repetidas mentalmente com as imagens de Santos feitas ornamento do móvel do quarto. Ela era uma preciosa crente na oração e na "visita" à Mãe Padroeira, por ocasião da segunda semana de setembro, desse por onde desse. A prioridade era ouvir e "ver" a missa de Festa com a Mãe no andor, mesmo sentada muito perto d'Ela. O sorriso resplandecia nessa hora. O perfume das flores ornamentais da época, no interior da igreja, fazia-lhe o rosto novo e feliz. Eu admirava aquela cena e entristecida recolhia-me ao silêncio. Quando seria o tempo de já não ver aquele cenário de "felicidade" instantânea?! Foi na Festa de setembro do ano de 2003 que não foi possível sequer pensar em levá-la para junto da melhor representante das mães do universo. No mês seguinte, a vinte e oito, perdia todos os movimentos. Apenas os lábios cerrados com uma sonda para a refeição adaptada a máquinas, olhos fechados para o mundo efémero, palidez total, um "sono" feio de ver, e a nossa oração para que Deus a recebesse e lhe desse a paz merecida.

Nunca mais gostei de ouvir essa expressão "ter esclerose múltipla"... é como que relembrar a minha irmã, a melhor cuidadora que minha mãe podia ter, no sentido de que acostumara-se àquele flagelo caseiro. Quantas e quantas vezes não fora a ambulância o meio certeiro e diligente para levar a sua doente (e minha) ao velho Hospital de Angra do Heroísmo?! Quantas e quantas vezes a fisioterapeuta lhe acudira e ensinara a melhor forma de suportar a queda dos movimentos?! Quantas e quantas vezes chorava eu, interiormente, ao tratar do que podia porque outro maior tratamento não me era considerado adequado por ser demasiado sensível à dor, às feridas, e ao consumir das peças de um corpo que me (nos) dera à luz.

Ainda hoje penso que foi ela, Matilde Correia, a minha mãe, a sofredora a inspirar a minha criatividade de escrita que jamais fizera antes (Não fui aluna por gosto, mas por obrigação). Depois do seu falecimento tornei-me amante de palavras ao ponto de ser uma repentista assídua. Deixo provas num livro que editei para memória futura sobre a Padroeira, a freguesia e a mãe enferma, mas sempre com uma fé inabalável. Essa fé não a curou, elevou-a e curou-me.

2018/11/29

Comentário de leitor conhecido e que não identifico por opção:


"Efetivamente, a vida da tua mãe, durante vários anos, foi a de uma autêntica mártir, sempre regada com fé, essa força invisível que, certamente, a ajudou a suportar a tremenda cruz. A tua irmã, também, não teve tarefa fácil pois, lidar com esse tipo de doença, exige uma disponibilidade total. Quanto a ti, que estavas mais na periferia, ias sofrendo no teu silêncio. Depois da sua morte, creio que o espírito dela, em paz, foi decisivo na tua transformação intelectual. Provavelmente, o que tu fizeste a partir daí foi algo que, ela, em vida, sempre quis fazer, mas não o conseguiu por duas limitações: conhecimentos literários, doença."

Comentário de uma profissional da comunicação conhecida e que não identifico por opção:

"Um texto profundo, comovente, que espelha o sofrimento de alguém que teve a felicidade de estar envolvida pelo amor até ao fim.

Na forma, a escrita da Rosa é visual e intensa, onde o recurso às metáforas quase impercetível, nos fazem testemunhas do episódio e nos transportam para a realidade das emoções.

A divulgação destes textos, quanto a mim, vão além do aspeto literário.

A experiência de vida da sua mãe, de ser portadora da "esclerose múltipla", deve ser divulgada, porque é na partilha de situações como esta que o interesse pela problemática se difunde".

Verso(s) & Verso(s) II

29.11.18 | Rosa Silva ("Azoriana")

Do verso sei tão pouco... só lamento
Não ter a parte que melhor seria
Para dar-me de tudo o que queria
Ficar na lembrança do mais atento.

Do verso gosto tanto… com talento
Dos teus que vejo nascer cada dia
Regados como flores em sinfonia
Na tela que não morrerá no vento.

Que hoje o verso seja a melhor flor
Que cai no molde peito "poetante"
E que do meu saiu quase errante…

Na volta sonho ver quanto valor
Se expande entre um e o outro verso
Se o meu saiu, assim, ora disperso.

Rosa Silva ("Azoriana")


P. S. Comentário escrito para "Poeta porque Deus quer" que me responde assim:

Verso(s) II

"Se o meu saiu, assim, ora disperso",
Embora entre harmonias partilhado,
Será contigo, Rosa, que converso,
A ti te envio um poema naufragado

Nas ondas deste mar que é nosso berço,
Mesmo que seja um berço do passado,
Pois se o nosso presente é bem diverso
Pode o futuro ser aproximado;

Não erra o verso vindo cá do fundo
Que busca um cais, um cais no nosso mundo,
Nem erra o verso que outro verso inspira,

Portanto, inda que sendo um verso errante,
Não erra o seu percurso o navegante
Que em vez de usar sextante, use uma lira!


Maria João Brito de Sousa

in https://poetaporkedeusker.blogs.sapo.pt/sem-lagrimas-435757?view=6227757#t6227757