Um “adeus” à boca da Primavera
Estamos a ver o mar inteiro, cavado a grosso, e tapando a ilha Graciosa com um véu envelhecido pelas rugas do vento. Aqui, onde sentimos o frio que pisa os ossos e o pingo do nariz é inevitável, traz-me a saudade de menina em correrias por atalhos e canadas obedecendo aos mandados dos pais.
Hoje só restam relíquias que no passado brilhavam e eram os luxos de uma época feliz que parecia quieta e tão longe do meio século que tenho.
O silêncio e o pó estão de mãos dadas amparando as paredes nuas e o chão sem sombra de passadas humanas. Só resta a lembrança das vozes e o lugar da mobília que, entretanto, pereceu como os donos da minha vida. Encontro pequenas recordações que me apego e levo comigo para alguém, depois de mim, encontrar (tal como eu) e lembrar-se que houve uma menina de usos e costumes de uma serra pequena (Serreta) com o sorriso do sol, vez em quando, para iluminar uma terra que me viu nascer numa tarde primaveril (de petas).
Que não se esqueçam que fui feliz aos bocadinhos e tive o que merecia algumas vezes.
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Visto da ilha Terceira
S. Jorge parece lençol
Escuro na cabeceira
A meio amarelo de sol.
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Eu amo-te por me dares quem está aqui comigo a dar-me força para encarar o fim de uma meninice acabada. Adeus casa da mãe…
23 de março de 2019.