A propósito do "DI" de 1/1/2020
Que "belo" jornal
- O rosto do Sismo -
Que foi infernal
Medo sem lirismo.
Abriram-se "portas"
Pra reconstrução...
Feridas e mortas
Casas e população.
Quinze anos tinha
Senti-me deserta
E na mente minha
O temor desperta.
Tanto sinistrado...
"Arregaça as mangas"
Pra ver restaurado
O seu sem ter zangas.
Casaco amarelo
Foi o meu retrato
Grosso e singelo
No "frio" sem trato.
Vi tudo ondular
E a torre da igreja
Mais pedra a pular
Num instante esteja.
Vi gente a bradar,
Vi gente a sofrer,
Muitas a rezar
Por gente a morrer.
O dia era noite
A noite era dia
Parecia açoite
A réplica temia.
Passados quarenta
Anos da memória
Ainda é tormenta
Na nossa história.
Hoje está cinzento,
O dia é sombrio,
Ainda o lamento
Ainda o meu frio.
Querido leitor
Da quadra que sai
Lírio de louvor
Na mente vos cai.
Permanece ferida
Tarde de janeiro
Que foi re-erguida
Com muito dinheiro.
Crédito afável
Para sinistrado
Em tempo notável
Foi recuperado.
Por fim uma fita
Branca pela Paz
E amizade à Zita
Que na terra jaz.
Aida da Conceição
Partiu aos cinco dias
E desde então
Nem lhe restam tias.
Também já perdi
As folhas da vida
Dos que atendi
Em certa medida.
Foi aquele Sismo
Que me deu trabalho
Angra do Heroísmo
O meu agasalho.
De oitenta e dois
A oitenta e cinco
P'ra seguir depois
Com o mesmo afinco.
Assuntos Sociais
E agora Saúde
Foram capitais
Na obra que pude.
Tudo de mim dei
Com brio e coragem
Tantos passos dei
Na longa viagem.
Nasceram três filhos
Lilás descendência
Que seguem os trilhos
Da mãe consciência.
Ó terra querida
Onde fui gerada
Bandeira tecida
Por quadra rimada.
Cristo te proteja
Como sempre fez
E que não mais veja
Tal Sismo outra vez.
E finda o espaço
Da minha escritura
Num cândido abraço
De Amor e Ternura!
1/1/2020
Rosa Silva ("Azoriana")