Relíquia da manhã
Já não sou o que já fui
Mas fica a recordação;
O meu verso ainda flui
P'ra me dar consolação.
Que se viva o que for
O que resta amiúde
Que haja paz e amor
O resto haja saúde.
Tudo é fácil em palavra
Resta mesmo é usufruir
Cada quadra que se lavra
Tem a estante do porvir.
Não escrevo o que escrevia
Na conjuntura atual
Vou vivendo o dia-a-dia
Nada mais será igual.
Estive no paraíso
Voltei ao meu escritório
Faço tudo o que é preciso
Com mais dor no purgatório.
A quem agora me lê
E me vê pelos caminhos...
Nem tentem saber porquê
Porque os pés veem sozinhos.
Sozinhos e com Maria
E seu Filho muito amado;
Quando faço a travessia
Ouço o sino afinado.
Sou avessa ao ruído
Porque fere todo o ser
Principalmente o ouvido
Muito mais possa reter.
Nesta hora matinal
De um agosto presente;
Perto o ano do final
Que se viva mais contente.
Para em dezena acabar
De quadras todas a eito
Dizem que é bom em par
Para não causar defeito.
Rosa Silva ("Azoriana")