A uma perecida Estalagem
Meu amor estou esquecida
De à tua porta bater
Foram-se os anos de vida
Que te vi resplandecer.
Hoje és a forte ruína
Sem encanto, nem beleza,
Esqueleto na colina
Só te resta a natureza.
Pobre dona de si mesma
Pobre altar, sem silhueta...
Dava p'ra escrever a resma
Da história da Serreta.
Não te vejo renovar,
Nem sequer sair do estado,
Nem vais servir para lar
Do povo do teu agrado.
Todos vão, ninguém cá fica,
Nem tu, ó vã Estalagem;
Eras bela e talvez rica,
Agora és feia miragem.
E de mim não tenhas penas
Nem de ti penas maiores
Porque são penas apenas
Das penas que são piores.
Adeus até mais partida
É a parte que tens certa:
Da metade de uma vida
Fechaste a porta aberta.
És lindo desenho eterno
Tão bonito no papel
De vê-lo, dou olhar terno,
Grat'a FÉLIX, Emanuel.
Rosa Silva ("Azoriana")