Que saudade tão imensa
Que saudade tão imensa
Mais do que a gente pensa
Da "conchinha" desse mar.
Ao primeiro ano de idade
E além da puberdade
Fui feliz por visitar.
Conheci avós paternos,
Nos abraços e gritos ternos
Que nunca mais esqueci.
Tios, tias, primos, primas,
No trabalho das vindimas,
E da pesca onde me vi.
Do peixe, a dar c'um pau,
Não lembro é de bacalhau,
Dos inhames com linguiça;
Na volta, à terra de cá,
Vinha mais peso de lá,
E à salsicha submissa.
Vésperas, bolo-tijolo,
Que bonito aquele rolo,
Feito por mão consolada,
Molho verde, aguardente,
A brandura do pão quente...
Nem por isso massa sovada.
Barquinhos de canivete,
Da madeira da retrete,
Da pedra em cima da telha;
Dos porcos mui bem tratados
Gamelada em todos os lados
Quase sempre em aparelha.
Lembro a tia Margarida,
Dizem que sou parecida,
Foi a mais nova a partir;
Com os pais, marido e filho,
Já seguiram novo trilho,
Oxalá seja a sorrir.
Fecho os olhos e 'inda vejo,
O mar sempre em solfejo,
No seu belo marulhar...
Da ponta do alto muro,
Ainda no sonho apuro
A pena de não mergulhar.
Aos que se lembram de mim,
Há a saudade sem fim,
Há o grito pela volta...
Mas não sei o que acontece,
A vontade prevalece,
Só a ida não se solta.
Rosa Silva ("Azoriana")