Ilha - cem linhas de ti
Ó ilha de Vitorino,
Dos Milagres e de Jesus,
E de outros cujo ensino,
Fez-se com sinal da cruz.
Da ilha que foi Terceira,
Na ordem de descobrir,
Para tantos a primeira,
Popular e a divertir.
Ilha de duas Cidades,
Onde o sol nunca desmaia,
Com Catedral e Trindades,
Dois altares de Angra e Praia.
Foguete sempre a estoirar,
Colorido de folguedo,
Tanto brilha ao luar,
Como se espanta mais cedo.
Anuncia uma tourada,
Em seis meses quase a eito,
Duas vezes para a entrada,
Que à saída um faz efeito.
Halloween e o Pão-por-Deus,
Antes de vir São Martinho,
Festejos que nem são meus
Mas do bom copo de vinho.
Ao basalto chega, então,
Um frio de aconchegar,
No Natal com um serão
Da família aproximar.
Vira a página ao Novo Ano,
Com mais foguetes no ar,
Bem ao modo Açoriano,
Erguendo o brinde ao luar.
E para não ser metade
Porque metade já foi…
Abre o verso que então há de
Ser da ilha o grande herói.
Quatro dias o Carnaval,
[Cinzas são só de um dia],
Património cultural,
Criativo em Poesia.
Lindos trajes tão brilhantes,
Pandeiro, varinha ou espada,
Chamam nossos emigrantes,
A dar a sua gaitada.
Pelos palcos em geral,
Nos salões, sempre apinhados
De gente cujo ideal
É nunca ficar cansados.
O momento da Paixão
Também se vive intenso,
Na Quaresma a Procissão,
Traz a mente em suspenso.
Quando a Páscoa arriba
A Santa Ressurreição,
Por vezes, o ato de escriba
Traz de volta animação.
Ó ilha do Espír’to Santo,
Dos Impérios, de Coroas,
Do Hino, que amamos tanto,
Das Bandeiras e das pessoas.
Um Reino de Amor tecido,
Partilha que o Povo trouxe,
Vinho, Carne e Pão benzido
Sopa, Alcatra e arroz doce.
Rosquilhas, massa sovada,
Fazem dourar os terreiros,
Rodas de carne assada,
Presenteiam forasteiros.
Ó ilha que já avistas,
Em junho, teu São João:
Sanjoaninas dos artistas,
Das Marchas e do Balão.
De Angra se vai à Praia,
Em agosto, às suas Festas,
Que a sua Marcha ensaia
Pela areia, sem arestas.
Cada qual, em estandarte,
Zela pelas suas Bandas,
Em Angra e Praia reparte
Quem vê em chão e varandas.
E o mar na ondulação,
Temperando nossos ares,
Vai virando para o Verão
Pautando outros cantares.
Em cada lar e cada Igreja,
Catedral ou Santuário,
Há um Santo que deseja,
Ser Louvor extraordinário.
À Mãe, a Rainha nossa,
De todos, tem primazia,
Faz-se tudo pra que possa
Ouvir nosso: Ave-Maria!
Santo António, outrossim,
Que não perde a jornada
E presenteia no fim
Merendeira abençoada.
Ilha! Mais não sou capaz…
Capaz sou de apenas isto:
Ilha nossa, Amor lilás,
Terceira de Jesus Cristo!
Rosa Silva (“Azoriana”)