GlosAndo e RimAndo por minha mãe
Sem o "seu" livro legar
Sei que é mania minha
Mas seu tempo vai chegar.
*
Já recebi reacções
De leitores dos artigos;
Parti alguns corações
Que de mim são tão amigos.
Qualquer coisa se adivinha
Não quero partir sozinha.
**
Já tenho pressa na vida
Meu destino foi marcado
Por outra vida partida
Que me deixou deste lado.
Urge então não ficar
Sem o "seu" livro legar.
***
Há réstia d'esperança
No dobrar de cada dia;
Nunca pensei em criança
Ter futuro d'alegria,
Insistir em cada linha
Sei que é mania minha.
****
Um livro da tua estima,
Da freguesia amada
Da cantoria em rima
Que por ti era adorada,
Por enquanto devagar
Mas seu tempo vai chegar.
Rosa Silva ("Azoriana")
Nota biográfica
Ainda eu era menina
Quando cegou minha mãe;
Outra filha pequenina
Também não a via bem.
Foi passando pelos anos
Volta e meia com visão;
Fez exames sem enganos,
Lá longe, sem solução.
Esclerose em placas,
A descoberta fatal,
Entre bengalas e macas
Nunca mais ficou normal.
Aos poucos fui aprendendo
A fazer de tudo um pouco,
Muitas vezes já sofrendo
Por outro momento louco.
Meu pai perdera uma mão
Na base americana
Armou-se a confusão
A partir dessa semana.
Quis Deus que por si criou
Uma "luva" de aço e couro;
Daí que sempre trabalhou,
O trabalho era seu ouro.
Fui crescendo na idade
No meio de sofrimento;
Passei minha mocidade
Sonhando feliz momento.
Um dia vi uma "estrela"
Procurando o meu olhar;
Felicidade foi vê-la
Subir comigo ao altar.
Houve dias tão brilhantes
Com o nascer de estrelinhas;
Esquecia por instantes
As nossas ervas daninhas.
Até que um dia parti
P'ra longe daquela "estrela"
Tanta coisa então vivi
Mas feliz por não mais vê-la.
Voltei à doença traiçoeira
Que consumia a mãe;
Tragédia verdadeira
Para minha irmã também.
Foi ela quem dela cuidou,
Após o meu casamento,
E nunca mais regressou
Melhoras àquele tormento.
Definhando dia-a-dia
Perdendo seus movimentos,
Tinha fé por companhia
E Maria em pensamentos.
Amava a Filarmónica
A Igreja e o Império,
Tudo na Serreta fica
Onde foi o seu mistério.
Nutria grande devoção
P'la Virgem Nossa Senhora
Dos Milagres, seu condão
Pela sua vida fora.
Na Festa e na Procissão
Já não podia andar:
Pedia p'ra ir então
Ouvi-la frente ao altar.
Dizia-me ela então:
- Fala da nossa Serreta!
Avisa a televisão
Onde fica a tabuleta.
Nessa altura não ligava
À sua querida prece...
Talvez porque não achava
Que ouvidos alguém desse.
Mas depois que ela morreu
Ouvi a voz insistente;
Tal milagre aconteceu
Para me deixar contente.
«Escreve Rosa Maria!
Sai da vida atribulada,
Um livro será um dia
A viagem acabada (7-04-2008)
O lírio de uma morada.»
Por isso luto, insisto,
Canto a Serreta dela,
E da rima não desisto
Mesmo que não seja bela.
Uma luz ao Presidente
Acho que ela já deu;
Será esse o bom presente
P'ra Matilde que morreu.
______
As quadras eu não contei
Vou fazê-lo nesta hora
Se for par o que vos dei...
A prova de noves fora.
Vinte e duas conto acima
Mais duas neste desfecho:
É assim a luz da rima
Que "dela" por mim vos deixo.
Rosa Silva ("Azoriana" - Matilde Correia)
No dia 4 de Abril tive uma luz no jantar no Ti Choa; por outro lado, o blog faz 4 anos no próximo dia 9 de Abril. Faltam 2 dias. Cá está o 2 de 22 quadras. Que prova faltará mais? Se ela fosse viva sabia que eu não tenho possibilidades financeiras. O que falta aqui? Qual o milagre?
Talvez um Lírio.