Versos crus de felicidade
Minha alma é um fio retorcido
P’las malhas de uma doce ventania.
Se páro esse reflexo dá-me azia,
E faz cair o verso ao comprido.
Tento que ele renasça com sentido...
Mas a bruma assombra a foz do dia
E dá-me o calafrio da fantasia
De ter um verso novo assim erguido.
E tento sempre soltá-lo ao vento,
Na vontade de dar-lhe realeza
Num verso rente à norma portuguesa.
Crua dor tranca-se no pensamento
Da cor mais negra, digo insanidade,
Queima o que penso ser felicidade.
Rosa Silva (“Azoriana”)
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