Este ano vou...
À beira da mudança
De porta semi-aberta
Está o Velho fim de ano;
A saudade se desperta
Já em cada ser humano.
Saudade, direis, de quê?!
Se está tudo na mesma,
Se ainda não se vê
A lebre passar de lesma?!
Em luta desenfreada,
Num rumo ao Deus dará,
Vi pouco ou quase nada...
Muita fome é o que há.
Por favor, vamos mudar,
A dose de cada um,
Ponham mais a trabalhar
A ver se ganham algum.
Tenho um desejo escondido...
Vem à tona poucas vezes,
Se pudesse ser vivido
Dava para doze meses.
Com amor, paz e alegria,
De Janeiro a Dezembro:
Se não fosse uma utopia
Era ideia que relembro.
O amor é como as rosas,
Exige muitos cuidados,
Têm as pétalas formosas
Espinhos por todos os lados.
A paz é um alvo lírio
Que adorna a cantoria,
Cada qual sofre o martírio
Se não o vê por um dia.
E a alegria constante
Não se colhe nem se vende,
Ela faz parte integrante
Do ser que a ela se rende.
Para as três se conseguir,
Há que fazer tentativas:
Novo Ano vem a seguir
Com poucas alternativas.
O Aleixo já cantava,
Com sua sabedoria,
E boa moral ele dava
A quem suas quadras seguia.
"Que o mundo está mal, dizemos,
E vai de mal a pior;
E, afinal, nada fazemos
Para que ele seja melhor".
Que se use o coração
Como leme desta vida,
E ao pobre dê-se a mão
Na sua justa medida.
E para mim a riqueza
Não é ter muito dinheiro,
É ter mais pão sobre a mesa
Por todo o ano inteiro.
E àquele que lhe sobeja,
Um tanto por cada dia,
Se der um pouco que seja
É fruto de mais valia.
O Pão melhor vem de Deus,
Na partilha abençoada;
Mas perante os olhos seus
Faz-se muito pouco ou nada.
E todo aquele que dá
Nem que seja um sorriso,
É como se visse cá
Alegre seu paraíso.
Um sorriso é alimento
Que cura qualquer tristeza,
Mas nunca será sustento
Para quem vive a pobreza.
Este ano vou... pedir,
A Jesus, Nosso Senhor,
Que faça por impedir
A pobreza do Amor.
Rosa Silva ("Azoriana")