Em memória de John Updike
Publico o poema que
se segue, recebido através da amiga Kathie Baker, em memória do
grande autor americano John Updike, que morreu 27 Jan 2009.
John Updike - "Azores," in Harper's Magazine, January 1964,
p. 37
Portuguese translation (below) by Jorge de Sena, published in
"The Sea
Within"
= = = = = = = = = = = =
Azores
Great green ships
themselves, they ride
at anchor forever;
beneath the tide
huge roots of lava
hold them fast
in mid-Atlantic
to the past.
The tourist, thrilling
from the deck,
hail shrilly pretty
the hillsides flecked
with cottages
(confetti) and
sweet lozenges
of chocolate (land).
They marvel at
the dainty fields
and terraces
hand-tilled to yield
the modest fruits
of vines and trees
imported by
the Portuguese:
a rural landscape
set adrift
from centuries ago;
the rift
enlarges.
The ship proceeds.
Again the constant
music feeds
an emptiness astern,
Azores gone.
The void behind, the void
ahead are one.
= = = = = = = = = =
Grandes navios verdes
eis que navegam
ancoradas, para sempre;
sob as águas
enormes raízes de lava
prendem-nas firmes
a meio do Atlântico
ao passado.
Os turistas, pasmando
do convés
proclamam aos guinchos lindas
as encostas malhadas
de casinhas
(confettis) e
doces losangos
de chocolate (terra).
Maravilham-se com
os campos graciosos
e os socalcos
feitos à mão para conter
os modestos frutos
das vinhas e das árvores
importadas pelos
portugueses:
paisagem rural
vindo à deriva
de há séculos;
a distância
amplia-se.
O navio segue.
Outra vez a constante
música alimenta
um vazio à popa,
os Açores sumidos.
O vácuo atrás e o vácuo
à frente são o mesmo.