Maresia do pensamento
I
Na minha
simplicidade,
Que é diferente de humildade,
Vejo o mundo a
ruir...
Tenho pena de assim ser
E de nada se saber
Do alcance
do porvir.
II
Sou crente numa oração,
Que Deus nos ensina
então,
Mal abrimos o olhar:
Pai-Nosso que estás no
Céu!
Repetido na voz de ilhéu
Que gosta de assim
orar.
III
Sei que o desconhecido,
É um fruto
proibido,
Muito mais apetecível;
Leva tudo à nossa frente
E
até o maior crente
Passa por ser insensível.
IV
Sou devota
quanto baste,
Embora Dele me afaste
Ferindo sua Doutrina;
Mas
Nele estou a pensar,
Com rima tento abraçar
Sua Face
cristalina.
V
Quero erguer a minha prece,
Pelo mundo que
padece
Pela sua própria mão;
Porque Deus sempre perdoa,
Se a
dor de uma pessoa
É exposta num Perdão!
VI
A minha dor
sempre existe,
Muita vez eu fico triste,
Por não ter sido
melhor;
O passado está feito,
O presente é refeito
Mas virá
tempo pior.
VII
Nem sempre a dor é um pranto
Se a fé no
Espírito Santo
É seguida com ternura:
Sobrevoa o
pensamento,
A força do Seu talento
Dado a cada
criatura.
VIII
Porque sou nada in Terceira,
Tenho sempre à
minha beira,
Os ecos doces da Mãe,
Que deu tudo por seu
Filho
E nos lega tanto brilho
Da riqueza do Além.
IX
Quem
me dera um dia ver
A mãe que me deu o ser,
Junto da Mãe
verdadeira,
E meu pai também ao lado,
Com um sorriso
rasgado
Abraçando sua «Roseira»!
X
Agora estou a
chorar,
Como se fosse o mar,
Em dia de nostalgia;
Ergo ao Céu
minha oração
Que se fez verso canção
Para honrar quem me
vigia!
Rosa Silva ("Azoriana")