Se me perguntam: - De onde és?
A tendência natural
Que talha o ser humano
É o sítio original
Onde se fez o seu plano.
O nosso berço por norma
Prima naturalidade
Mesmo mudando de forma
É nossa identidade.
À pergunta: - De onde és?
Balança meu pensamento
Porque da cabeça aos pés
Serretense me acalento.
Até Julho de oitenta e cinco,
Tive lá meus horizontes
E relembro, com afinco,
Volta e meia os seus montes.
A farinha do moinho;
Pico Maria da Costa;
Silvados e o passarinho
Do chilreio que se gosta.
Das silvas vinham amoras
Negras e tão luzidias
Que me alegravam as horas
Da frieza de alguns dias.
Os valados da ternura;
Os cerrados produtivos;
A lembrança da fartura
Enquanto os pais foram vivos.
Dos Altares pra Santa Luzia,
São Pedro e Corpo Santo,
Pra todo o lugar que ia
Serreta era o meu Canto.
Novembro, dois mil e oito,
Em São Pedro novamente,
Num lugar que é mais afoito
À rima que me vem rente.
Folhadais é a Canada,
De São Carlos o Lugar,
Que julgo não tarda nada
Ao Divino vai orar.
Deseja ser freguesia,
A vigésima da Terceira,
E alegre se fazia
Tecer a nova Bandeira.
Para dizer com franqueza
E convicta do que digo:
O berço, por natureza,
É o cheirinho amigo.
E feliz fui no meu canto,
Mesmo com algum desnorte,
Também fui no Corpo Santo
E talvez na minha morte
Se da Serreta um tanto
Do fim seja a minha sorte.
Se não for essa a sina
Nem o bem que eu desejo
Acato o que Deus destina
Com um abraço e um beijo...
Serreta sempre menina
De caracóis eu a vejo.
Rosa Silva ("Azoriana")