Olhos nos olhos
Bendito seja o teu olhar. Bendita seja a tua escrivaninha, onde te sentas e dilaceras, amigavelmente, com a tua pena as folhas de outrem. És o juiz cordial, o tutor magistral, o bálsamo da alma, que rima a paz de uma gaivota, o murmúrio das ondas temperadas de desejo, o cálice da aventura ilhoa, o caminho do sonho, a fluidez do canto, o sopro do verso estendido no corpo de uma quadra, a redondilha marcando o tempo que não volta mais.
Fixaste os meus olhos e absorveste as ideias da alma. De um trago possuiste a ideia germinada nas entranhas da vida, ora calma ora num turbilhão de pensamentos nus. E viste o meu berço talhado pelo suor de umas mãos que mimaram o corpo saído do ventre do amor. E ouviste o meu choro tonificado pela melodia angelical da clave rural. E tocaste o meu ser escrito nas dunas da alegria e nas escarpas da tristeza. E tingiste o teu olhar com as águas límpidas colhidas de um denso nevoeiro que enfeitiçou o teu coração peregrino...
Ai, como sou feliz sabendo que os teus olhos fitaram os meus sem ser preciso uma presença viva. Por isso, eu digo, basta um olhar interilhéu para se saber que as rimas são um doce da alma terceirense.
A felicidade não existe todo o tempo, não se faz a curto prazo, mas quando nos bate ao coração está na altura do grito: Estou feliz!
Rosa Silva ("Azoriana")
P.S. A propósito de um e-mail recebido que ficará como lembrete.