O post das lamentações
Olho para o relógio e zás… Lamento não ser hora de sair. Ainda tenho as narinas com o cheiro a ressalga, os ouvidos com o murmúrio das ondas sendo cavalgadas por uma proa imensa, a boca com o picante da salsicha e linguiça santamarenses, a pele salpicada de trincadelas de mosquitos que nos sobrevoam nas noites quentes das festas; os olhos presos nas imagens paradisíacas das nossas ilhas que, cada vez mais, se prezam e lutam por se mostrarem melhor uma que outra, e, ainda, sinto a falta do toque de uns lábios nos meus antes de fechar pálpebras…
Por incrível que pareça já ninguém (ou quase ninguém) se importa com lamentações disto ou daquilo, dor daqui e dor dali, com notícias que nos entram televisor adentro (e não só) mostrando partes do mundo que mais parece um post de lamentações. Quero lá saber de tristezas, quero lá saber do mundo cão que atormenta este ou aquele!...
Anda uma pessoa para aí a fazer a sua vida e, volta e meia, leva com um serial de notícias da morte de um(a) VIP, e levam, levam, levam a falar nisso durante horas, dias, meses… Se fosse eu, ou outra pobre criatura como eu, falava-se no dia da ocorrência, na espera para ver se “ressuscitava” e na hora de entregar à terra os ossinhos ainda com carnes e gorduras, depois… cada um segue a sua vidinha e mais nada… Talvez até digam: “Coitadinha, mas ainda bem que se foi…”
Desculpem os leitores se acharem que estou a ser dramática (ou outro nome mais pomposo que agora não me ocorre) mas isto tudo para vos dizer que já não aguento com lamentações de A, B ou C, se é que me entendem. Vai-se por esse mundo bloguista abaixo e, em muitos casos (também há excepções) é só espinhos e tiros ao alvo, que Deus me valha. Se se fala porque se fala, se se não fala porque não se fala. Eu diria mais: Porque na te calas? Calo-me, eu por agora.
[Eu bem digo que para prosa não sou BOA, já a rima é outra coisa!]
Chega de lamentações
Nas bocas do novel mundo
Hão-de vir ocasiões
Piores bem lá no fundo.
Que dizer então da morte?
Que dizer do sofrimento?
Pois quando a dor é forte
Nem dá para haver lamento.
Digam lá o que disserem
Este mundo é mesmo assim
Façam lá o que fizerem
Todos temos nosso fim.
E o fim pode ser duro
Há que ser muito prudente
Não prevejo bom futuro
Pra quem lamenta o presente.
Rosa Silva ("Azoriana")