A debulhadora
Lembro bem desses fogueiros
No carro puxado a bois
E a seguir aos primeiros
Vinham sempre mais depois.
O trigo vinha emparelhado
Em molhos que eu bem via
Depois era enfiado
Pla "boca" da maquinaria.
Era a debulhadora
Que vinha para um cerrado
Máquina trabalhadora
Com um barulho afinado.
O molho entrava inteiro
O trigo a saca enchia
A palha em lugar certeiro
Um fardo então produzia.
Eu novinha admirava
Todo aquele trabalho
Mas dali me ausentava
"Cada macaco no seu galho".
Salvo seja a comparação
Que agora me saiu
Mulher naquela função
Acho que não se permitiu.
Só ia mesmo pra ver
O que por lá se passava
E também pra conhecer
O trabalho que o trigo dava.
Esta história é verdadeira
Andava eu na escola
Muito aprendi na Terceira
E ver isto até consola.
Pena que tudo acabou
Deu lugar ao modernismo
Mas para muitos ficou
Lembrança de heroísmo.
Para que se faça o pão
Pro manjar do dia-a-dia
Já não se vê tanta ação
Como noutro tempo havia.
Vem o trigo do exterior
Faz farinha num instante
Quem fazia tal labor
Agora já está distante.
Bravo povo da minha terra
Mereces o meu louvor
A debulhadora encerra
Mas teu fardo tinha valor.
Dava alimento aos animais
Para com força o transportar
Hoje nem sequer os pardais
Podem o trigo debicar.
Fica aqui este registo
Para quem o quiser guardar
Que a ilha de Jesus Cristo
Muito trigo soube debulhar.
Rosa Silva ("Azoriana")