Amarrotada na estrada! (4)
Entretanto na moradia dos Estrela, Ermelindo finalmente surge espreguiçado e um bocado tonto.
- Ermelindo! O que é isto!?
- É um papel... Respondeu ele, nas calmas de uma ressaca monumental da secura na garganta, à pergunta intempestiva da D. Belmira.
- Um papel!? Meu filho é uma ameaça para ti... Que andas tu a fazer nas nossas costas?
- Mãezinha, o que é isso? Eu não fiz nada... Aliás, tenho de sair. A Dory quer falar comigo. Estou atrasadíssimo...
- Não, Senhor! - Ordena ela num tom brusco e explosivo - Não sais enquanto não me explicares o que isto significa...
Ermelindo já não suportava o inquérito policial da mãe. Agarrou no papel e olhou-o fixamente, lendo-o de alto a baixo:
- Mãe! Este Ermelindo não sou eu!
O Ermelindo ao dizer isto à mãe saiu porta fora para ir ter com a Dory. Foi encontrá-la no lugar preferido deles, um monte perto de um lugar onde o sol estava a brilhar e uma pequena brisa fazia esvoaçar os cabelos longos e sedosos de Dory.
Chegou perto da Dory e ela perguntou:
- Ermelindo, quem era aquela mulher?
- Oh, querida! Era apenas uma pessoa que estava no bar com quem eu falei enquanto esperava por ti.
Ela olhou para ele com olhar envergonhado e ele deu-lhe um beijo que a deixou quente de forma a responder ao mesmo.
Clarisse da Purificação viu este beijo e foi embora. Ermelindo levou então a Dory para o lugar secreto deles e diz-lhe que a mãe descobriu a carta mas não sabe se a conseguiu despistar.
Durante três longas noites Belarmino quase não dormia. A mulher ia-lhe perguntando o que se passava, já que o seu desassossego era notório.
- Nada mulher, coisas do serviço – dizia.
Lá no seu interior mais recôndito, ia pensando na Eugénia, no que lhe tinha dito, no que tinha visto e desejado, ao mesmo tempo que, olhava para quem ao seu lado estava e lhe tratava de tudo. No fundo, em momentos efémeros, até sentia algo por ela mas seria o que sentia agora pela Eugénia?
Ao terceiro dia resolveu ir falar com o filho, uma daquelas conversas de “atirar verdes para colher maduras”.
- Olha lá filho, aquela tua amiga... A tal de... Ifigénia ou lá o seu nome, que faz ela? – Perguntou.
- Ifigénia? – Não será Eugénia? – Respondeu.
- Aquela que me apresentaste no café, talvez seja esse o nome.
- O nome dessa é mesmo Eugénia. Trabalha num consultório de advogados ali para os lados da zona fina da cidade. Porquê?
- Por nada em especial. É que ontem estive no aeroporto, e pareceu-me ser ela que ia embarcar com um senhor todo bem-posto para Lisboa – Respondeu sem intenção de continuar.
- Não deve ser então ela Pai. Ela, além de ser solteira, não tem ninguém de momento, que eu saiba é claro.
- Tudo bem filho, deve ter sido mesmo impressão.- Respondeu como quem mais nada quer saber.
Com esta informação, algo preciosa para ele, e já no serviço pôs-se on-line para falar com a Eugénia.
Ela foi a primeira a teclar.
- Olá! Bom dia Antonino das Bicas...rss – disse ela.
- Bom dia...minha Kamala. – Respondeu.
- Então, como vai tudo pelos teus lados? - Perguntou ela.
- Já tomei uma decisão, e queria dar-ta mas, teria que ser frente a frente, ao vivo. – Disse.
- Quando e onde? – Perguntou ela?
- Sabes aquele restaurante ali para os lados do jardim, com esplanada? Às 13:00 lá. Pago o almoço.
Belarmino, todo boneco lá chegou ao tal restaurante 15 minutos antes da hora. Nervoso, lá pediu uma mesa com vista para o mar.
- Mesa para dois – disse.
Eugénia, depois de um banho relaxante, no meio de espuma de sais de banho, perfumou-se, arranjou-se, retocou o baton e o risco nos olhos. Saiu porta fora toda exuberante, como se este dia fosse ser o primeiro do resto da sua vida.
Belarmino, pacientemente, aguardava pela chegada da Eugénia. Já tinha, entretanto, bebido um Martini seco.
(Continua)