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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1013)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")

Amarrotada na estrada! (5)

09.01.05 | Rosa Silva ("Azoriana")

Eugénia, com a sua minissaia justa e a sua blusa de decote ousado, deixando à vista um pouco dos seus saudáveis peitos, já preparada para sair ao encontro de Belarmino, recebe um telefonema.

- Boa tarde, estou a falar com a senhora Eugénia Maria Vale da Pinta? Daqui fala do Centro de Oncologia de Lisboa. – Disseram do lado de lá.

- Sim? – Respondeu a Eugénia.

- Olhe, desculpe ser tão em cima da hora, mas a sua consulta que estava para ser daqui a duas semanas, foi antecipada para amanhã de manhã pelas 09:00 aqui do Centro. - E agora minha senhora, como irei, se o voo de hoje é já daqui a uma hora e não tenho passagem marcada? – Perguntou.

- Como temos conhecimento dessa situação, os Serviços daí já providenciaram essa passagem. É só ir para o aeroporto o mais rápido possível.

- Sim senhora.

 

Desesperada, não só por causa da consulta ter sido antecipada, o que trazia água no bico, mas também, porque estava decidida a tomar uma decisão em relação ao Belarmino, resolve telefonar para a sua amiga e confidente Clarisse, que por razões que a própria razão desconhece era a prima da mulher dele, vinda há algum tempo do estrangeiro com uma avultada quantia na conta bancária.

- Está... Clarisse? Sou eu a Eugénia. Vou ter que ir para Lisboa daqui a pouco por causa daquelas radiografias que tirei há um mês. Não deve ser boa coisa por certo, mas como sou otimista, tudo irá resolver-se por bem.

- Ó minha amiga, mas então que tens tu? – Perguntou a Clarisse.

- A pessoa que me telefonou não adiantou muita coisa mas não é por isso que te estou a ligar. É que fiquei de me encontrar com o Belarmino daqui a pouco e agora, apesar de ser o meu desejo, não posso ir. Vou passar por aí e deixar-te um bilhete para lhe entregares. Podes fazer-me esse favor? Depois digo-te onde era o encontro.

- Claro que sim, minha Amiga, é o mínimo que te posso fazer. Deixa que eu vou ter com ele e tento explicar-lhe a razão.

- Não! Não lhe digas nada, não quero que fique preocupado, por ora. – Pediu a Eugénia.

 

Já passavam alguns minutos depois da hora prevista e o Belarmino já estava em pulgas. Já imaginava o que lhe iria dizer, o que lhe iria propor e, ela tardava em chegar.

- Belarmino? Boa tarde – disse a Clarisse quando chegou ao pé do Belarmino.

- Clarisse? – Perguntou ele com ar espantado por a ver.

- Sim, sou eu, qual o espanto? Não estavas à minha espera presumo?

- Não, por acaso não, mas não faz mal. Também vens almoçar?

- Pode ser se me convidares! – Disse ela com um sorriso malandro.

- Sabes... Estava à espera de outra pessoa... – Respondeu timidamente e um pouco envergonhado.

- Eu sei, da Eugénia! – Disse-lhe ela.

- Como é que sabes? – Perguntou-lhe ele já com o rosto todo vermelho de vergonha.

- Tem calma Belarmino. Eu sei o que se passa entre ti e ela, mas da minha boca nada sairá. Somos amigas já há longos anos e sei guardar um segredo. A Belmira nada sabe nem nada saberá, está descansado. Posso-me sentar então?

- Claro que sim e desculpa o meu espanto – respondeu ele e apressou-se a levantar para a ajudar a sentar-se.

- Mas onde é que ela está? – Perguntou depois.

- Teve que ir com alguma urgência para Lisboa, nada de grave, pelo que sei, mas nesta carta que ela me deu, deve tirar-te as dúvidas que tens.

- O que queres comer então, já que estamos os dois aqui? – Perguntou-lhe Belarmino.

Belarmino abre o envelope, com cheiro a perfume bom e subtil, como imaginava que seria o cheiro da sua Eugénia, a sua Kamala dos olhos doces.

“Meu querido Belarmino,

Escrevo-te estas poucas linhas com o coração despedaçado, pois após alguns meses de amizade, simpatia, carinho e alguns sentimentos mais profundos que nutro por ti, precisamente neste dia em que queria falar abertamente contigo, não o posso fazer, por razões agora que não vêm a propósito, mas que em nada muda o que por ti sinto, fica descansado... Meu tolo das bicas.

A razão que me levou a ausentar fará com que não saiba a data do meu regresso mas, estarás sempre no meu pensamento e no meu coração.

A pessoa que te deu esta pequena carta, mais que conhecida de ti, sabe guardar segredos e como tal, não te preocupes com o que quer que seja.

Despeço-me por agora, com um beijo profundo no canto da tua boca.

(baton no centro da carta)

Da tua Eugénia.

(Continua)