Amarrotada na estrada! (6)
O almoço não sei se vos diga se vos conte. Foi um almoço de reis. Vinho do melhor que há, reserva de 1900 e poucos, marisco de entrada, prato de peixe, prato de carne, sobremesa a condizer e para finalizar um café e digestivo.
Como a bebida ia escorregando bem, no final até a Clarisse bebeu uma aguardente velha.
No meio de risos e algumas gargalhadas sobre anedotas sem graça alguma, houve algum tocar de mãos entre ambos. A princípio, como se fosse um choque elétrico separavam mas, aos poucos isso foi deixado para trás.
Belarmino estava confuso. Aquela roupa preta que ela trazia parecia-lhe a que tinha visto na webcam quando tinha falado com a Eugénia on-line, mas devia ser efeito já do vinho. É certo que o que daqui vejo (já que o decote era um pouco ousado) parecem-me os peitos dela. Será? Não, eu vi a cara e era a dela e não a da Clarisse – pensava o Belarmino para si.
- Olha Belarmino, tenho uma pequena confidência a fazer-te. – Disse a Clarisse.
- E qual é essa confidência? Não me digas que estás interessada em mim – respondeu o Belarmino com uma gargalhada de lá de dentro.
- Quem sabe? – Respondeu ela.
Com um ar de galã e atrevido, perguntou-lhe logo de seguida:
- Então o que sugeres?
- Podemos ir para outro lugar... Conversarmos mais um pouco num ambiente mais familiar, que achas? – Respondeu ela já com um ar de atrevida.
O almoço já ia prolongado, já passava das três da tarde. Belarmino pediu a conta e quando chegou o ticket, reparou que os números eram um pouco altos mas pensou: Perdido por cem, perdido por mil. Que se lixe a conta. Tirou da sua carteira um cheque e, mesmo sabendo que não tinha cobertura, preencheu-o e entregou ao empregado acompanhado de uma gorjeta generosa.
Saíram ambos porta fora. Como ela não tinha levado o carro, naturalmente que foram no carro dele.
Pelo caminho, Clarisse ia afagando a perna direita de Belarmino e este não sabia o que fazer...
Entretanto, uma notícia que chocou a população local...
A Dory faleceu esta manhã vítima de complicações cardíacas, após um aborto clandestino. Segundo informação do médico de serviço, Dory deu entrada no Hospital por volta das duas da manhã com paragem cardiovascular. Foi levada à urgência do Hospital por um indivíduo do sexo masculino que informou o polícia de serviço, ter encontrado o corpo desfalecido na berma da estrada a poucos metros do Hospital. Segundo a mesma fonte, e após autópsia, podemos dizer que Dory deixa este mundo vítima de complicações cardíacas após uma péssima intervenção de um aborto, mais um, clandestino.
Paz à sua alma. Não deixa filhos nem dívidas. O funeral realiza-se amanhã a meio da tarde... [Pausa}
O narrador:
Neste palco surpreendente, fechou-se o pano perante um vale de lágrimas difícil de conter... Mas teve que ser... Escusado será dedilhar as cenas de um funeral. Nem é isso que interromperá a história que se adivinha ainda mais virtual... Porque qualquer semelhança com a vida real é uma incrível de uma coincidência!
Passaram-se cinco longos meses desde o fatal acontecimento. Estamos em Junho de 1998.
Os próximos eventos seguir-se-ão em novo artigo que se intitula "Amarrotada na estrada - II".
A história entre Belarmino e Clarisse continua... A D. Belmira ficara adoentada e de vez em quando fecha-se no quarto. O Ermelindo deixou crescer barbas e cabelo bastante. Estava lindo... E alguém notou isso...
A Eugénia ficou-se embarcada e ninguém mais se preocupou com isso...
A D. Clarisse é que está melhor que nunca... Já não veste preto. Veste roupas de último grito... E nem aparenta cinquenta anos... Está uma jovem...
Ideia original: Azoriana
Participantes: Ailaife Blog; Frases e Poemas; Fernão Capelo Gaivota; Pé de Vento.
Narrador: Azoriana / Açoriana
© 2005 Rosa Silva ("Azoriana")