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Açoriana - Azoriana - terceirense das rimas

Os escritos são laços que nos unem, na simplicidade do sonho... São momentos! - Rosa Silva (Azoriana). Criado a 09/04/2004. Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores. A curiosidade aliada à necessidade criou o 1

Criações de Rosa Silva e outrem; listagem de títulos

Em Criações de Rosa Silva e outrem
Histórico de listagem de títulos,
de sonetos/sonetilhos
(total de 1006)

Motivo para escrever:
Rimas são o meu solar
Com a bela estrela guia,
Minha onda a navegar
E parar eu não queria
O dia que as deixar
(Ninguém foge a esse dia)
Farão pois o meu lugar
Minha paz, minha alegria.
Rosa Silva ("Azoriana")
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Com os melhores agradecimentos pelas:
1. Entrevista a 2 de abril in "Kanal ilha 3"

2. Entrevista a 5 de dezembro in "Kanal das Doze"

3. Entrevista a 18 de novembro 2023 in "Kanal Açor"

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Hoje penso nisso...

16.11.14 | Rosa Silva ("Azoriana")

Hoje penso nisto: lenço à foliã, avental ao pescoço, mangas arregaçadas, alguidar de barro, farinha, fermento, ovos, açuçar, sal, mãos lavadas e prontas a sovar a massa que ganha desprendimento à medida que é sovada, forno aberto com lenha trazida nas vésperas do mato, lamparina acesa, primeira mecha de lume para acender o forno com a dita lenha bem seca, primeiro clarão em sinal de que pegou o lume, lenha a crepitar à medida da queima, lados do forno avermelhados em sinal de aquecimento ideal, pá a arredar a cinza para o borralho, ou seja para a porta do forno; pão lêvedo em cima da mesa protegido com linho branco atapetado de farinha para não haver pega da massa, que mesmo assim está deposta em cima das folhas de jarroca apavonada nas pontas e alinhadas a preceito, rostos felizes a levar a massa à pá que vai depositando no forno aquecido e a modos de não queimar o solo da massa que vai ganhando uma cor rosada como que a convidar a que a primeira a sair do forno fosse experimentada pelas bocas desejosas de provar o resultado do arranjo que levou algumas horas de dedicação e sabedoria da culinária tradicional... e lá vai mais um bocadinho que nem é preciso partir com a faca porque a mão já lhe sabe tirar a medida exata do desejo de massa quente com um salpico da manteiga que a doura ainda mais, escorrendo da cabaça feita de um retalho alvo de neve, onde se deposita um naco de manteiga para barrar a massa que vai continuando a sair do forno, já em modo de final da tarefa doméstica, em dias em que o galo se levanta cedo e dá o mote às galinhas para se aprontarem para o cântico matinal de despertar uma família inteira para os cuidados de fé, esperança e caridade... Sim, porque no meio disto tudo, lá se ia colocar um bolo de massa ainda quentinho, embrulhado em papel vegetal, em cima da parede do caminho mais próximo, onde os transeuntes já sabiam que aquele era um presente com intenção, em louvor de Santo António, ou pela boa realização da tarefa ou por alma de alguma alma mais necessitada. E surtia sempre bom efeito no contentamento daqueles(as) que por detrás do cortinado fino e rendilhado, espreitavam a quem calhava levantar o bolo de massa sovada, dourada como o sol, fresca e boa como a vida de tantos heróis da vida familiar.

Massa sovada, para St António

De um fôlego, como quem bebe um licor caseiro, escrevi o parágrafo antecedente como quem regressa ao passado, por volta dos meus dez ou mais anos, para me matar a saudade que vive acotovelando o viver presente. E tu, leitor que gostas do que dou a conhecer ou relembrar, o que tens a contar da época que já se avista entre a bruma dos dias e o luar fusco das tardes e anoitecer dos dias que te douram a imaginação?

Como eram esses dias? Tardes, Noites? Como te vias e já não te vês mais, como eu, que nem sei talhar o pão-nosso-de-cada-dia, de comer e chorar por mais?

Que este domingo seja para ti o que está a ser para mim: reflexão, saudade e escrita com a rapidez de um fôlego tecnológico... que outrora nem se sonhava.

Um beijo doce no teu rosto, minha madrinha do batismo, a única viva, de um punhado de familiares que já pertencem ao outro lado da vida: A VIDA ETERNA!

Obrigada por me leres até ao ponto final. Deixa-me um pouco da tua ternura escrita em sinal do teu olhar, leitura e carinho. Faz-me companhia na solidão das tardes domingueiras onde não tenho tão assíduas as presenças dos meus três rebentos: Luís Borges, Aida Borges e Paulo Borges. Beijos para vocês, meus filhos.

Para quem vive diariamente o meu respirar... um beijo saboroso.

Rosa Silva ("Azoriana")