Linda ilha
No frio aquecia a gente
Não digo nada de novo:
Figos passados e aguardente
Iam na mesa pró povo.
Quando se dava a matança
Do porco bem sustentado
Até se dava à criança
A bexiga do pobre coitado.
Lembro bem do tempo velho
Em que as tripas lavava
Agora só vos aconselho
A lembrança que se grava.
Na memória da brava gente
Há muito divertimento
E quem rima num repente
Também na ilha tem assento.
Fica assim meu contributo
Para esta ocasião
Já não se vê andar de luto
Pelo tempo da Paixão.
Só se veem os girassóis
Nas passadeiras do chão,
E vozes como rouxinóis
No coro da mor missão.
Há beleza nas janelas
Com colchas de quadradinhos
E as mais lindas donzelas
Nos cortejos dos caminhos.
Os rapazes são pastores,
Capinhas e bons toureiros,
E outros dão seus valores
Nas cantigas dos terreiros.
Há quem tire o seu chapéu
E atire para o ar
Para louvar o ilhéu
Que gosta de cá voltar.
Adivinhem qual a ilha
Que agora estou louvando...
Onde se faz a partilha
Em Bodo de vez em quando?
Adivinhem sem vinagres
E sem dar nenhum queixume,
Há Senhora dos Milagres
E a do Facho lá no cume.
Adivinha se quiseres
Porque adivinhar eu preciso:
Onde se ouvem mulheres
A cantar de improviso?
E para não mais faltar
Acreditem que é verdade:
Há S. Mateus frente ao mar
E S. João na Cidade.
Há pescadores bastantes,
Há negrito e há pesqueiro,
Há saudade de emigrantes
E um abraço por inteiro.
Há um Monte insular,
Em decúbito dorsal,
E há tanto para falar:
Património mundial!
Há os "maios" e as danças,
Há assaltos e arraiais,
Há velhinhos e crianças,
Jovens mães e jovens pais.
Somos um jardim de cores
Em que o lilás é mais forte
E só ligamos às dores
Quando à beira da morte.
Porque a vida continua
Na alegria de quem fica;
Há de vir sempre à rua
Uma quadra fresca e rica.
03/09/2017
Rosa Silva ("Azoriana")